Monstro sem sentimentos

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Jeon Jungkook

Tóquio, Japão

Presídio


Engoli rapidamente aquela gororoba chamada de "comida" e fiz o máximo de esforço possível para não vomitar. Eu estava me sentindo fraco demais, então tive que me forçar a comer alguma coisa, caso o contrário, eu poderia acabar desmaiando de tanta fome. Me senti como um porco em meio a manada sendo alimentado. Todos os presos se juntavam no refeitório, faziam uma interminável fila e pegavam a sua refeição.

Me juntei ao grupinho do Hoseok, meu novo "amigo" e comemos aquela merda juntos. Ele disse que às vezes conseguia comida de verdade subornando alguns policiais, mas isso só acontecia raramente, ou o delegado poderia acabar desconfiando de alguma coisa.

- Não mastigue. - Hoseok decidiu quebrar aquele silêncio. - Só coloque na boca e engula, assim fica mais fácil de ingerir isso.

Fiz uma cara feia.

Isso estava muito ruim!

- Tá, eu vou tentar. - Respondi baixo, colocando mais uma garfada na boca. Mesmo fazendo o que ele disse, era impossível a minha língua não estar sentindo o gosto disso. - Eles sempre servem só esse tipo de coisa na prisão?

Todos naquela mesa me olharam na mesma hora, rindo.

- Mas é claro que sim! - Disse um cara baixinho e careca. - Ou você acha que monstros como a gente teriam algum privilégio?

- Não me refiro a ter privilégios, mas sim, a ser tratado como gente.

- A questão é que nós não somos considerados nem isso, meu jovem. - Explicou Hoseok. - E eles só não condenaram todos nós á pena de morte, só porque isso não é permitido. A partir do momento em que você entra aqui e que é condenado há vários anos de prisão, você pode esquecer do mundo lá fora, principalmente das pessoas.

- Pois é. - Suspirou um homem ruivo. - Eles podem até vir aqui te visitar de vez em quando, mas depois de um tempo, você acaba sendo esquecido.

Nem fiquei surpreso ao ouvir isso.

- É, eu imagino que seja assim. - Comi mais algumas garfadas e coloquei as mãos sobre a boca, segurando a ânsia de vômito. Bebi alguns goles d'água para ajudar na digestão. - E sei que esse vai acabar sendo o meu destino também.

- Mas você me disse que uma garota já veio aqui te visitar e que ela é a mesma garota que passou uma noite com você aqui. - Comentou o careca, todo curioso.

- Ah, mas isso nem faz diferença! Aquela garota nem se importa comigo, me enxerga como um monstro e agora irá até se casar. - Tentei não demonstrar nenhum vestígio de tristeza ao me lembrar disso. - E ela também está grávida...

- E é você que é o pai? - Neguei com a cabeça e Hoseok riu - Nossa, que azar hein! Sinto muito por você cara, mas se você quiser, só se você quiser... - Se inclinou bem pertinho de mim. - Eu posso dar ordens daqui de dentro da cadeia para alguém lá de fora. - Sorriu diabólico e eu o olhei, confuso. - Você sabe muito bem o que eu estou querendo dizer, Jungkook. Eu posso mandar alguém matar esse cara que está com a sua garota ou melhor ainda, posso mandar matar os dois.

Ele era muito frio com as palavras e isso me fez engolir seco. Ok, por essa eu não esperava. Eu já havia matado várias pessoas e ele também, mas eu nunca seria capaz de mandar alguém matar a S/N, a única pessoa que eu amava.

- Agradeço a sua boa vontade, mas eu não quero machuca-la. - Levantei-me. - Eu já a magoei demais e tudo o que eu mais quero e vê-la feliz agora. Mesmo que seja bem longe de mim.

Cartas para um Estranho | Jeon JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora