Madrugada triste e amargurada

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Jeon Jungkook
Tóquio, Japão

Bordéu

Depois de uma madrugada fria, triste e amargurada, me senti completamente sozinho. Me senti um idiota por chorar por aquela garota de novo, mas estava muito difícil tentar reprimir a esses sentimentos. Um sentimento que eu nem queria mais sentir. A insônia se tornou minha melhor amiga e aqui estava eu, jogado sobre o estofado do meu escritório, rodeado por diversas bebidas alcoólicas. Por mais que eu tentasse não pensar nela, o meu ciúme doentio continuava querer me corroer por dentro, destruindo-me incansavelmente. A cada milésimo segundo, eu ficava imaginando aquele homem tomando o corpo da minha mulher para si, a proporcionando prazeres que antes só eu fazia. Será que ele era melhor do que eu? Será que ela o tocava do mesmo jeito que fazia comigo? E quanto aos beijos? Eram intensos, apaixonantes e selvagens como os meus? Creio que sim, pois caso o contrário, ela não teria me traído com o Namjoon.

- Senhor Jeon? - Lisa nem bateu na porta e já veio ao meu encontro, me entregando uma farta bandeja de café da manhã. - Está tudo bem?

- O que você acha?

- A julgar pelo seu estado físico, o senhor parece estar bem acabado

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- A julgar pelo seu estado físico, o senhor parece estar bem acabado. Não dormiu direito?

- Nem pude pregar os olhos.

- Imaginei que dissesse isso. - Se sentou ao meu lado. - Eu nunca te vi assim.

- Assim como? - Juntei as sobrancelhas. - Jogado as traças?

- Sofrendo por alguém. - Afirmou ela, apreensiva por conta do meu estado. - Ainda mais por uma mulher assim tão sem graça.

Eu estava sem camisa, a calça amassada, os cabelos fora do lugar, olhos vermelhos de insônia e também por causa das lágrimas que foram jorradas durante a terrível madrugada. Fora o mau hálito da minha boca, por culpa da quantidade ingerida de álcool.

- Ela não era sem graça pra mim e foi por isso que eu me apaixonei por ela. - Meu coração doeu ao me recordar de seus beijos. - Pela a sua graça, doçura, pureza e sinceridade.

- Que brochante! - Revirou os olhos. - Você nem parece você quando fala assim. E a propósito, aquela garota não parece ser nada graciosa e muito menos doce!

- Mas é claro que não! - Ri fraco, levantando-me. - Aquela garota não existe mais. E é tudo culpa minha.

- Você não tem culpa de ter sido traído.

- Você ainda não entendeu a gravidade da situação né? - Tomei alguns analgésicos. - Eu sou um monstro, Lisa. E monstros não merecem perdão e muito menos amor, e é por isso que o destino está querendo me castigar agora. Porque eu mereço sofrer depois do todo o sofrimento que eu já causei as pessoas, inclusive a você.

- Nisso eu tenho que concordar. - Me ajudou a vestir uma blusa e penteou meus cabelos, me levando para o banheiro logo em seguida. - Mas eu já estou aqui nesse lugar a tanto tempo mais tanto tempo, que eu já nem me importo mais. E também eu...

- Já perdeu as esperanças. - A interrompi. - Eu sei. Eu entendo.

- Não, não entende, Jungkook. - Escorou no batente da porta enquanto eu escovava os dentes. - Você nunca esteve no lugar de nenhuma dessas mulheres traficadas, então não diga como se entendesse a nossa dor e a nossa perda de esperanças. Porque você não entende.

- Tem razão, desculpa.

Lisa me olhou, surpresa.

- Desculpa? - Arregalou os olhos. - E desde quando você sabe pedir desculpas Jungkook?

- Sei lá.

- Nossa! - Riu pelo nariz. - O que essa mulher fez com você hein?

- Eu não sei.

- Deu pra notar, agora chega desse assunto e vem comer. Você vai acabar desmaiando aí a qualquer momento.

- Não sou tão fraco assim não. - Ignorei a comida que ela me oferecera. - Não vou demaiar por falta de alimento.

- Mas de cansaço vai. Qual foi a última vez que você teve uma boa noite de sono?

- Não sei.

Que mentira.

Mas é claro que eu sabia!

Foi quando a S/N dormiu comigo lá no meu apartamento. Eu nunca tinha reparado nisso antes, mas agora que já não a tenho mais em meus braços, percebi como minhas noites eram calmas e confortantes ao lado dela. Percebi como eu era feliz e nem tinha me dado conta disso.

- Por que você só fica usando essa coisa feia? - Apontou para a pulseira azul em meus pulsos. - Que falta de moda!

É mesmo.

Eu ainda estava usando essa porcaria de pulseira, que comprei com S/N no nosso segundo encontro naquele festival japonês. Se tornou uma rotina usá-la. Tanto que desde aquele dia, eu nunca mais tirei ela. E pensando melhor agora, S/N não estava usando nada no pulso quando fui tentar impedi-la de dormir com o Jimin. E também por que ela continuaria usando algo assim né? Isso não faria o menor sentido. Ela não me amava.

- Arigatou. - Beijei sua bochecha e coloquei uma das mãos em sua perna, aproximando-me. - Fico feliz que tenha gostado minha Jahgi.

- Sua Jahgi é? - Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e mordeu o lábio interior. Que sexy. Sexy e fofa. - Adoro quando você me chama assim. Me sinto tão única. Tão...especial. E eu nunca me senti especial.

- Mas você é.

- Muito especial...

- Am? - Lisa me cutucou, confusa. - Do que você tá falando? Deu pra falar sozinho agora é?

- Nada não. E essa pulseira não é nada também. - A cobri usando a manga da blusa. - Agora me fale sobre ontem a noite. Nós tivemos muitos lucros?

- Sim e vendemos muitas garotas também. O Namjoon cuidou muito bem dessa parte. Como sempre.

- E aonde é que ele está agora? - Perguntei.

- Ainda deve estar dormindo. Ele não foi o único que exagerou no álcool por aqui.

- Entendi.

- Já que você não vai comer, então eu já vou me retirar. Preciso mandar o café para o quarto do Jimin.

- S/N ainda está com ele?

Tive medo da resposta.

- Sim. - Afirmou ela. - Ela passou a noite toda com ele senhor. Mas eu não a julgo. Muitas garotas daqui amam quando ele aparece aqui no nosso estabelecimento, ainda mais quando ele compra uma delas. Elas o denominaram como um príncipe encantado moderno.

- Príncipe encantado moderno? - Ri debochado. - Mas que merda de apelido cafona é esse?

- Isso deve ser por causa do jeito dele. Jimin é um homem muito gentil e homens assim são muito raros por aqui.

- Verdade. - Peguei minha bandeja que estava em suas mãos. - E já que eu não vou comer isso, acho que não tem problema nenhum em dá-lo para outra pessoa.

- Como assim?

- Pode deixar que eu levo a refeição para aqueles dois.

Talvez se eu vê-la nua nos braços de outro homem, eu deixo de amá-la.

Cartas para um Estranho | Jeon JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora