Capítulo I

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A capital de Salícea estava de luto, pois a população tinha perdido mais uma rainha, após uma ansiosa espera de cinco anos por um herdeiro. Aqui a Lei que havia mudado o destino de Suzana fez o mesmo com seis jovens rainhas.

   Passaram-se dezoito anos após os eventos que levaram a antiga rainha de Morabe para essa cidade e depois de o rei de Salícea ter perdido três esposas até aquela época mais três rainhas perderam sua vida por conta da mesma lei neste reino. Era uma maldição. O rei se tornara amargo e indiferente após tantas tentativas frustradas e tantas vidas perdidas.

    Ele estava em seus aposentos quieto, dez dias após o funeral, não havia saído de lá desde então. Um de seus conselheiros adentrou o aposentado após solicitar uma conferência urgente.

─ Majestade, peço perdão pela insistência, mas o reino precisa do senhor. Há muitas coisas a serem resolvidas e o Conselho está à vossa espera no Salão Comum.

─ Não posso ficar de luto pela minha esposa, Vitor? O reino inteiro parou, pois estavam todos tão esperançosos! Ela era tão jovem! Eu não vou mais me casar, está resolvido.

─ Mas majestade, o ponto central de tudo isso é o herdeiro que o senhor ainda não tem, sem um casamento não haverá nenhum, e tudo isso será em vão! O senhor precisa se casar novamente, está claro.

─ Vitor, mesmo se eu quisesse contrair novo matrimônio, o que já não faz mais sentido para mim, ninguém mais neste reino em seu juízo perfeito concordaria em enviar sua filha para o rei amaldiçoado! Eu precisei buscar a última rainha no oriente, você sabe disso, foi você quem a trouxe. Não há necessidade de novo empreendimento custoso se já sabemos qual será o fim.

   Ele se levantou de repente, parecendo refeito de suas energias:

_ Está resolvido. Vou exercer meu cargo sozinho e quando morrer, meu parente mais próximo ficará em meu lugar. Não aceito mais nenhum sacrifício por um desejo egoísta de um herdeiro direto. A primeira coisa que farei será um torneio de justas para alegrar o povo e anunciar minha nova decisão. Vá chamar o Conde de Arlington e peça para ele organizar tudo.

─ Majestade, o Conde faleceu há uma semana, ele sofreu um acidente de caça, foi ferido por um javali.

O rei arregalou os olhos em descrença. O conde era um bom amigo há muitos anos e era o seu braço direito. Sentou-se perdendo o ânimo novamente. Parece que o destino pregava peças com ele sempre. A solidão estava ligada à sua vida sem sombra de dúvidas, pois se ele havia decidido não se casar novamente só lhe restavam os amigos, e o conde era o mais fiel deles.

   Luiz respirou fundo se lembrando das batalhas que travaram juntos e do acordo de paz que conseguiram obter com Morabe. Se não fosse o instinto certeiro de Ivã Arlington eles estariam em guerra até hoje. Foi nesse acordo que Luiz conheceu sua primeira esposa, a prima do rei de Morabe, numa oferta de boa vontade, mas foi a esposa de Ivã, Odete, que havia sido dama de companhia da rainha, o motivo da única vez que Luiz sentiu inveja do amigo. Ele nunca antes tinha reparado nela até o Conde de Arlington lhe contar com quem iria se casar. Foi um escândalo e com certeza motivo de discórdia, mas Ivã conseguiu o que queria, como sempre e Luiz ficou curioso no motivo que fez o conde lutar para desfazer um antigo noivado arranjado por seus pais e insistir em escolher sua própria noiva, quase perdendo sua herança por isso. Ficou claro para ele então quando conheceu a condessa, que seu amigo era um homem inteligente e a paixão era justificada.

─ Majestade, continuou o conselheiro, o senhor foi avisado quando aconteceu, mas o funeral foi rápido porque o conde estava longe quando ocorreu o acidente, demorou a chegar e ficou sob cuidados por um tempo. Quando faleceu, seus ferimentos abertos aceleraram os cheiros incômodos e eles decidiram agilizar os rituais fúnebres. A viúva pediu para avisá-lo, mas procedeu com tudo em questão de horas e achamos melhor não te incomodar.

A Lei e o destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora