Capítulo XX

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O salão estava muito bem decorado e o palco montado; o movimento no palácio era enorme. Ao lado da mãe, Alana enrolava as pontas dos cabelos nos dedos em expectativa. Esse seria seu último trabalho e ela estava ansiosa para dar tudo certo. Todos os artistas que se apresentariam já estavam a postos; agora restava aproveitar o sarau. E graças aos últimos acontecimentos, ela poderia fazer isso.

─ A rainha está me chamando. - Avisou Carine antes de sair. Alana apenas assentiu com a cabeça, os olhos atentos no palco.

Um ator com o rosto fortemente maquiado e roupas extravagantes apareceu no palco. Ele deu início ao espetáculo. Recitava dramaticamente, arregalando os olhos com trejeitos exagerados. Ela apreciava tudo, empolgada.

─ Reconhece esse poema?

Ela olhou para o lado. Henrique, elegante como sempre, olhava para o palco. Ele tinha duas taças na mão e lhe ofereceu uma. Quando ela pegou, ele lhe sorriu, um sorriso íntimo.

O poema que agora o ator recitava era aquele que Henrique tinha mandado para ela há tanto tempo. O ator, de braços estendidos, declamava:

"Sigo de perto os teus passos

Tão distantes de mim

Busco ansioso teus olhos

Que teimam em escapulir"

Henrique estava olhando para o ator, mas ao lado de Alana, os lábios próximos de sua orelha sussurraram, como quem nada falava, os olhos no palco:

─ Ele consegue expressar na voz exatamente como eu me sentia na época. E ainda sinto.

Mas ao pronunciar a última frase ele se voltou para ela e olhou em seus olhos. Eles se encararam por um instante, então ele tornou a olhar para o palco. Alana manteve a compostura, mas por dentro seu peito queimava ao ouvir a declaração do príncipe, impassível ao seu lado.

─ Tanta coisa aconteceu desde aquele dia... - Tornou ela, com a mesma postura serena, o olhar focado no ator à sua frente, enquanto a atenção estava toda voltada para o lado esquerdo, onde o príncipe se postava. Ela bebericou da taça em sua mão e continuou: - Parece que foi em outra vida e ao mesmo tempo parece que foi ontem...

─ Somos pessoas completamente diferentes. - Ele retrucou. Então Henrique abandonou a dissimulação e virou-se completamente para encará-la: - Nunca tive tanta esperança desde que vim para cá, Alana. Acho que esse homem declamar esse poema hoje é um sinal e está muito difícil resistir a te tocar aqui e agora, depois de sentir você em meus braços novamente ontem!

Ela olhou para ele e depois para os lados, num impulso de hábito, o medo familiar de ser vista conversando com o príncipe, falando mais alto. Mas por mais que o conteúdo pudesse ser inapropriado, o ato da conversa em si não representava mais nenhum escândalo e as pessoas ao redor assistiam entretidas a apresentação que terminava.

Os aplausos repercutiram pelo salão e a voz de Henrique foi abafada pelo som das palmas, mas ela ainda estava com os olhos pousados nele, então leu seus lábios, que disseram: "Venha comigo."

Ele abandonou o posto na frente do palco e foi em direção ao corredor, longe do movimento das apresentações e da aglomeração da corte. Alana o seguiu de longe, as lembranças da noite anterior insistindo em invadir seus pensamentos numa expectativa torturante. Quando ele estava alcançando a porta de seu gabinete, uma porta lateral se abriu e dela surgiu a figura esbelta e colorida de Brenda. Ela abriu um grande sorriso ao vê-lo:

─ Alteza, que surpresa agradável! Está saindo do sarau? Eu estou muito atrasada para as apresentações?

─ Não, começou agora. - Respondeu ele, perturbado. - Se me der licença, estou indo ao meu gabinete resolver um assunto urgente.

A Lei e o destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora