Capítulo III

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O casamento real já tinha deixado de ser um evento importante há muito tempo. Agora era visto mais como uma nuvem negra no céu ou um vento forte antecipando um temporal. Todos sabiam qual era o resultado de um casamento com o rei Luiz e poucas pessoas saíram às ruas quando o sino da igreja começou a dar as tradicionais badaladas após a cerimônia.

Na igreja compareceram apenas os nobres da corte. Nenhuma visita ilustre de algum rei vizinho porque o rei, envergonhado, deixou de convidar estrangeiros para seus casamentos a partir do terceiro.

Este, porém, era especial para ele e, mesmo vendo na igreja apenas os familiares rostos de todos os dias, estava feliz porque ao seu lado estava a mulher com quem secretamente sonhava por muito tempo.

Odete estava discreta, como sempre. Usava um vestido azul claro de mangas compridas cujo único adorno era um fino cinto de pedrarias abaixo da cintura onde começava o quadril, fazendo com que seu corpo no auge da maturidade se destacasse.

A cintura ainda era fina e os seios grandes e firmes estavam devidamente cobertos pelo grosso tecido de decote alto. Mesmo assim era visível a beleza da futura rainha, que trazia a cabeça descoberta e adornada com uma pequena tiara de brilhantes.

Os cabelos castanhos e cacheados desciam soltos pelas costas até a cintura e era a visão da vasta cabeleira da futura rainha que todos tinham enquanto os noivos se mantinham em pé, diante do sacerdote que fazia um interminável discurso sobre a fidelidade e a importância da família.

Finalmente eles se viraram de frente para os expectadores que deram vivas e se inclinaram perante sua nova rainha.

Quando os sinos começaram a tocar o casal já tinha percorrido o longo corredor da rica igreja e se dirigiam para o palácio. Fazia parte da tradição percorrer o caminho de carruagem aberta para que os súditos pudessem ver a nova rainha e fazer suas homenagens, mas o caminho hoje estava vazio, com poucas pessoas interessadas em acenar durante a passagem de seus monarcas.

─ Como eu gostaria que você tivesse sido a primeira rainha para ver essas ruas lotadas! Você merece a honra que lhe está sendo negada, Odete!

─ Eu não os culpo, majestade, eles já sofreram bastante, não querem conhecer mais uma rainha que logo lhes será tirada.

─ Como pode falar isso? Você sabe que isso não vai acontecer!

─ Sim, mas na cabeça do povo toda mulher que se casar com o rei está condenada. Esta é a verdade deles e não podemos fazer nada a respeito até provarmos o contrário.

O rei abaixou a cabeça sem argumentos, mas sentiu o toque das mãos de Odete nas suas como conforto e sorriu.

Os portões do palácio se abriram ao som das trombetas da guarda real e eles entraram, seguidos das carruagens dos convidados que estavam na igreja. Os cavaleiros à sua frente, que seguravam as bandeiras com o brasão real desmontaram e um lacaio veio abrir a porta da carruagem para que a nova rainha descesse. Ela olhou para o palácio à sua frente que agora seria o seu lar e o rei se postou ao seu lado dizendo ao seu ouvido:

─ Espero que seja muito feliz aqui.

Ele então tomou sua mão e os dois se dirigiram para dentro onde aconteceria a festa.

Com tantos casamentos os gastos tinham dado um bom prejuízo ao tesouro e agora as festas eram quase uma pequena recepção, talvez um dos motivos por que o rei não convidava muitas pessoas para os últimos casamentos. Mas havia música e muita fartura. Com poucas pessoas, o clima era tranquilo.

Odete avistou Henrique em uma conversa animada com Brenda, a sobrinha do rei. Ela estava impecavelmente vestida, com os cabelos castanhos presos em uma sofisticada trança. Odete franziu as sobrancelhas pensando se era apenas uma conversa inocente. A moça era muito jovem e muito magra, mas talvez com o tempo pudesse se desenvolver e quem sabe não daria uma boa nora?

A Lei e o destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora