Capítulo II

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Os dias seguintes foram marcados por atividades sociais intensas. Os Arlington agora eram presença constante no palácio e logo toda a nobreza de Salícea passou a fazer comentários a respeito da frequência com que a Condessa era vista na companhia do rei e a questionar os motivos.

Henrique nada questionava, ele estava feliz com seu novo status, pois apesar de declarar uma amizade antiga com seu pai, o rei nunca tinha convidado a família para acompanhá-lo em eventos sociais e jantares com tanta frequência. Para ele essa mudança simplesmente se devia ao fato de que o rei queria conhecê-lo melhor antes de lhe transferir as responsabilidades de seu pai. O fato de que sua mãe o acompanhava e fazia amizade com o rei era uma vantagem maior, pois se seu pai não a levava antes para a corte nada mais justo do que ele fazê-la esquecer das tristezas da viuvez mergulhando-a na vida social. Henrique estava satisfeito.

Sentado em seu gabinete, o Conde analisava uma conta quando foi interrompido pela entrada ruidosa de sua mãe no aposento. Ela estava sem fôlego, mas encontrou forças para abrir um leque antes de declarar:

─ Filho, precisamos conversar!

Ele soltou a folha que estava segurando e olhou assustado para a figura inquieta à sua frente. Sua mãe estava mudada, ele não se lembrava de vê-la assim tão descontrolada e desalinhada, procurando o ar como quem acaba de fazer exercícios por horas e sem aquela costumeira altivez e fineza que faziam dela uma figura tão discreta na casa quanto uma mobília. Sua mãe tinha a personalidade forte, mas apenas era notada quando ela achava necessário. Essa mudança de modos fez os sentidos de Henrique ficarem alertas e ele se levantou ansioso.

─ O que aconteceu, mamãe?

─ Ah, Henrique, eu já devia saber, mas não pude recusar.

─ Como assim, mãe, do que a senhora está falando?

─ O rei me pediu em casamento.

Odete fechou o leque como um gesto de afirmação. Ela estava incomodada, mas resoluta, parecia ser uma situação lógica, mas Henrique arregalou os olhos e precisou se sustentar na quina da mesa.

─ Henrique, preste atenção, eu sei que você pode estar um pouco assustado com a notícia, mas eu logo percebi as intenções do rei e ficou claro para mim que eu não poderia fugir ao meu destino! O rei vem me fazendo a corte desde aquele primeiro jantar e você só não percebeu porque está muito concentrado em seus próprios problemas. Você ainda é muito jovem, Henrique, ninguém em seu juízo perfeito manteria o cargo de seu pai, que era de confiança, nas mãos de um herdeiro tão jovem. Qual você acha que é a explicação, meu filho?

─ Mas o rei estava exatamente me conhecendo, se certificando de minha capacidade, não estava? Ele me disse isso, enviou pessoas que trabalhavam com meu pai para me ensinar... ele...

Odete meneou a cabeça com um sorriso condescendente e se sentou devagar, sendo acompanhada pelo filho.

─ Não, meu filho. Todo esse tempo ele estava te usando como desculpa para chegar até mim. Ele deixou que você assumisse o cargo de seu pai com a condição estabelecida. Quando o rei me fez ver que você teria uma posição importante e que eu não teria alternativa, pensei apenas em você e em como seria prejudicado se eu recusasse. Você sabe que não se recusa um pedido de casamento do rei; se assim fosse todas as rainhas anteriores teriam recusado, sabendo com antecedência qual seria o seu destino. Eu tive a sorte de ser cortejada antes de ser pedida em casamento, o que não aconteceu com ninguém antes de mim, eram todas donzelas levadas ao casamento sem conhecer o noivo ou serem conhecidas por ele. Nessas horas a maturidade tem suas vantagens, não é?

Henrique ainda tentava absorver tudo isso e ficou um tempo calado, olhando fixamente para sua mãe. Ela estava feliz? Ela não iria se sentir afortunada se não estivesse feliz, ele concluiu assustado, a realidade no olhar iluminado da mãe que lhe encarava ansiosa.

A Lei e o destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora