Capítulo 04

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Eu bebi o último gole de saquê e tentei acertar a garrafa vazia no cesto, mas acabei errando, assim como as duas garrafas anteriores. Há tempos eu não ficava tão bêbado e ainda assim eu ainda não conseguia me esquecer.

O que caralhos eu fui fazer com aquele humano? Eu jurei a mim mesmo que nunca mais me envolveria com mortais e de repente aquele rapaz surge do nada e se torna o único pensamento na minha mente.

Fisicamente ele fazia o meu tipo de todas as maneiras possíveis. O cabelo castanho era um pouco comportado demais, mas o corpo pequeno, o rosto suave de feição europeia e os grandes e expressivos olhos verdes... ele era uma gracinha, o tipo de homem que em tempos antigos eu dominaria na cama por horas sem ver o tempo passar.

O tipo de homem que era igualzinho ao Edgar.

Merda. Não podia ter acontecido. Simplesmente não podia.

Agora que ele havia saído o seu cheiro dispersou e eu consegui recuperar o bom senso, assim como as minhas dúvidas. Independente da aparência física, o efeito dele sobre mim era forte demais, quase um veneno. Eu curtia o eventual sexo com desconhecidos, mas não era uma loucura tão intensa e eu ao menos perguntava o nome dos caras.

Eu fiz surgir um quimono no meu corpo e embolei os lençóis melados de gozo, precisava lavar se quisesse me livrar do cheiro definitivamente.

Pelo menos o rapaz me impediu de ir até o fim, mas ao mesmo tempo era frustrante. Ele deveria ao menos ter tido a cortesia de me deixar terminar, qual era o problema dos humanos de hoje em dia? O Edgar nunca...

Eu abri mais uma garrafa de saquê e bebi tão rápido quanto conseguia. Desta vez eu iria esquecer. Eu precisava.

O quarto começou a girar, ótimo. Agora ao invés de divagar sobre memórias estúpidas eu podia me concentrar em não me arrebentar no chão.

Eu deixei o quarto carregando os lençóis sujos em direção à lavanderia, tão bêbado que até ouvia vozes.

"Socorro! Socorro! Tirem-me daqui!" Gritava a voz na minha cabeça.

Eu me apoiei na minha estátua à beira de cair e segui andando. Lavar a roupa. Sim, eu era um deus responsável e no controle da minha própria vida.

As vozes continuaram mais altas. O saquê era mesmo de boa qualidade, eu fiz a nota mental de encantar meus devotos para que me trouxessem mais saquê daquela marca.

Infelizmente não havia mais saquê na mesa de oferendas e também nenhum devoto. O fechamento do templo nos domingos era o único evento me impedindo de perder completamente a noção do tempo.

Estranhamente, desta vez os monges esqueceram o portão aberto, não que eu me preocupasse com a segurança. A única coisa de valor no meu templo já havia sido roubada.

Meu estômago borbulhou, ameaçando devolver os litros de saquê. Eu segui andando para a lavanderia, não seria a minha primeira vez vomitando no cesto de roupa suja.

"Ajuda! Por favor! Eu estou me... blrblrblr..." A voz continuou.

Nossa, não eram vozes na minha cabeça! Era o poço que estava falando comigo.

"Cala a boca, poço, ou vou mijar na sua cara." Eu joguei o lençol na máquina com outras roupas e consegui colocar sabão e ligar sem vomitar em nada. Um dia de vitória.

O poço ficou quieto, ainda bem. Da última vez em que eu mijei nele eu me arrependi horrores depois que fiquei sóbrio.

"Socorro..." A voz soou mais fraca. "Estou mandando você me ajudar!"

Meu coração saltou tão forte que eu caí no chão e segurei o peito. Uma queimação horrível se espalhou pelo meu corpo e me fez gemer de dor.

Nas Garras da RaposaOnde histórias criam vida. Descubra agora