Querido bebê,
As aulas da faculdade começaram no meio de fevereiro e eu ainda estava uma bagunça. Estava tentando me adaptar à nova rotina e agora ainda teria que encaixar os estudos. Eu não sabia o quanto era dependente dos meus pais até ter que viver sem eles. Matt e eu revezávamos na cozinha e na limpeza da casa. Ele estava me ensinando muitas coisas. Às vezes, eu me sentia como uma criança se comparada a ele. Na última noite, porém, aconteceu mais um episódio. É como passei a chamar.
Estávamos dormindo na cama dele, que – para a minha sorte – já era de casal. Acordei quando ouvi seu choro. Ele estava chorando e repetindo "não, não, não, não" várias vezes, a voz quase um sussurro. Na primeira vez que isso aconteceu, eu não soube o que fazer e esperei, mas ele ficou mais agitado e começou a gritar, então tive que acordá-lo.
- Matt – passei a mão pelo rosto, secando as lágrimas. – Matt, acorda.
Ele não acordou e começou a falar um pouco mais alto. As palavras eram confusas, mas consegui entender. "Não me deixe também, você não. Me desculpa. Me desculpa."
- Matt, ACORDA – chacoalhei o ombro dele.
Os olhos azuis se arregalaram, assustados, mas se acalmaram quando ele compreendeu que eu estava ali.
- Está tudo bem – minha voz era baixa, mas firme. – Foi só um pesadelo.
- Bianca – ele me puxou até que não restasse espaço entre nós e repetiu meu nome como uma oração, tentando espantar quaisquer que fossem seus fantasmas. – Bianca. Bianca.
Eu já sabia o que fazer, não precisava mais que ele me pedisse. Comecei a cantar. Fiz naturalmente na primeira vez. A música sempre me acalmou, sempre foi minha companheira.
- I was a little girl alone in my little world. – Comecei a primeira música que veio na minha cabeça. Uma que eu descobri sem querer no spotify. - Who dreamed of a little home for me.
Matt me apertou um pouco mais. Continuei cantando e acariciando os cabelos dele até que ele dormisse.
" I played pretend between the trees
And fed my house guests bark and leaves
And laughed in my pretty bed of greenI had a dream
That I could fly from the highest swing
I had a dreamLong walks in the dark through woods grown behind the park
I asked God who I'm supposed to be
The stars smiled down on me
God answered in silent reverie
I said a prayer and fell asleepI had a dream
That I could fly from the highest tree
I had a dreamNow I'm old and feeling gray
I don't know what's left to say about this life I'm willing to leave
I lived it full and I lived it well
There's many tales I've lived to tell
I'm ready now, I'm ready now
I'm ready now to fly from the highest wingI had a dream"*
Parei quando notei a respiração estável. O rosto dele estava suave, as sobrancelhas grossas não mais franzidas. Meu coração se apertou ao pensar em tudo que ele viveu. Fechei meus olhos e voltei a dormir.
Os episódios começaram pouco tempo depois que passamos a morar juntos. Nós não falávamos muito sobre eles, mas eu sabia que eles eram a fragilidade de Matt. Era quando ele não tinha controle, não conseguia esconder o seu próprio coração quebrado. Matt foi abandonado pela mãe, o pai morreu, e o tio, que deveria protegê-lo, explorou dele. Ele teve que crescer e aprender a viver sozinho e as feridas de cada abandono não pareciam estar completamente cicatrizadas. Não sei como ele fazia antes de mim, mas eu faria de tudo para ajudá-lo a colar seus cacos.
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Corações Quebrados
RomanceBianca Lis nunca havia se apaixonado. Mas quando isso aconteceu, foi como cair de um precipício. Não foi só uma queda. Ela se jogou com tudo. E, tarde demais, percebeu que a única parte boa de cair era aquela sensação efêmera de voar. Chegar ao chão...