Capítulo 08 - Promessas

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Querido bebê,

As aulas da faculdade começaram no meio de fevereiro e eu ainda estava uma bagunça. Estava tentando me adaptar à nova rotina e agora ainda teria que encaixar os estudos. Eu não sabia o quanto era dependente dos meus pais até ter que viver sem eles. Matt e eu revezávamos na cozinha e na limpeza da casa. Ele estava me ensinando muitas coisas. Às vezes, eu me sentia como uma criança se comparada a ele. Na última noite, porém, aconteceu mais um episódio. É como passei a chamar.

Estávamos dormindo na cama dele, que – para a minha sorte – já era de casal. Acordei quando ouvi seu choro. Ele estava chorando e repetindo "não, não, não, não" várias vezes, a voz quase um sussurro. Na primeira vez que isso aconteceu, eu não soube o que fazer e esperei, mas ele ficou mais agitado e começou a gritar, então tive que acordá-lo.

- Matt – passei a mão pelo rosto, secando as lágrimas. – Matt, acorda.

Ele não acordou e começou a falar um pouco mais alto. As palavras eram confusas, mas consegui entender. "Não me deixe também, você não. Me desculpa. Me desculpa."

- Matt, ACORDA – chacoalhei o ombro dele.

Os olhos azuis se arregalaram, assustados, mas se acalmaram quando ele compreendeu que eu estava ali.

- Está tudo bem – minha voz era baixa, mas firme. – Foi só um pesadelo.

- Bianca – ele me puxou até que não restasse espaço entre nós e repetiu meu nome como uma oração, tentando espantar quaisquer que fossem seus fantasmas. – Bianca. Bianca.

Eu já sabia o que fazer, não precisava mais que ele me pedisse. Comecei a cantar. Fiz naturalmente na primeira vez. A música sempre me acalmou, sempre foi minha companheira.

- I was a little girl alone in my little world. – Comecei a primeira música que veio na minha cabeça. Uma que eu descobri sem querer no spotify. - Who dreamed of a little home for me.

Matt me apertou um pouco mais. Continuei cantando e acariciando os cabelos dele até que ele dormisse.

" I played pretend between the trees
And fed my house guests bark and leaves
And laughed in my pretty bed of green

I had a dream
That I could fly from the highest swing
I had a dream

Long walks in the dark through woods grown behind the park
I asked God who I'm supposed to be
The stars smiled down on me
God answered in silent reverie
I said a prayer and fell asleep

I had a dream
That I could fly from the highest tree
I had a dream

Now I'm old and feeling gray
I don't know what's left to say about this life I'm willing to leave
I lived it full and I lived it well
There's many tales I've lived to tell
I'm ready now, I'm ready now
I'm ready now to fly from the highest wing

I had a dream"*

Parei quando notei a respiração estável. O rosto dele estava suave, as sobrancelhas grossas não mais franzidas. Meu coração se apertou ao pensar em tudo que ele viveu. Fechei meus olhos e voltei a dormir.

Os episódios começaram pouco tempo depois que passamos a morar juntos. Nós não falávamos muito sobre eles, mas eu sabia que eles eram a fragilidade de Matt. Era quando ele não tinha controle, não conseguia esconder o seu próprio coração quebrado. Matt foi abandonado pela mãe, o pai morreu, e o tio, que deveria protegê-lo, explorou dele. Ele teve que crescer e aprender a viver sozinho e as feridas de cada abandono não pareciam estar completamente cicatrizadas. Não sei como ele fazia antes de mim, mas eu faria de tudo para ajudá-lo a colar seus cacos.

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