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DEMIE, cherryl

— Eu já disse, senhor James. — A voz do Sammy era a única a ser ouvida na sala de casa, e estava visível o tom desesperado.

Depois de várias fofocas que ocorreram essa semana, meu pai resolveu dar um basta nisso.

Ele foi atrás da pessoa que estava espalhando os boatos, e acabou que Johnson entregou o próprio amigo pra se safar. Não sei como meu pai conseguiu acreditar nas mentiras do garoto, até porquê ele é mais fofoqueiro de Omaha.

Nem judas mentiu tanto assim...

Teve uma vez que ele acusou o próprio amigo de ser o pennywise da cidade. Gerou uma enorme confusão que o Nathan quase foi preso.

Se fosse eu no lugar de todos, já teria mantido distância.

— Você está fazendo o que aqui, Cherryl? — Desviei dos meus pensamentos quando ouço a voz do meu pai, chamando minha atenção.

Acabo me engasgando com minha própria saliva quando percebi que meu pai e Sammy estavam me encarando. Mais uma vez tinha sido pega no flagra, tenho que aprender a xeretar melhor.

— E-eu... estou indo pegar um copo de leite. — Me apoiei no corrimão da escada, enquanto descia devagar.

— Você nem gosta de leite. — Meu pai retrucou, fazendo com que eu pensasse em inúmeros xingamentos a mim mesma.

— Eu gosto sim! — Disse com uma certa convicção, discordando do que meu pai tinha falado.

— É mesmo? Vou pegar uma garrafa de leite pra você.

Antes que eu pudesse falar algo, meu pai já tinha saído da sala pra ir até a cozinha.

Eu sou tão azarada que se eu comprar um anão, ele cresce.

— Por que você estava escutando a conversa dos outros? Que coisa feia, Cherryl. — Sammy balançou a cabeça negativamente, como se me repreendesse.

— Por que você fuma maconha atrás da igreja? Que coisa feia, Sammy. — Falei do mesmo jeito que o garoto, e esbocei um sorriso debochado em meus lábios.

O garoto me fuzilou com o olhar e ficou quieto.

Apenas três coisas na vida era certeira: Larry era real, Sammy ia ser processado e eu teria que tomar leite.

— Sammy, me ajuda. Eu detesto leite.

— E dai, minha filha? Você que lute!

— Por favor! — Estava implorando para que o garoto me ajudasse antes que meu pai voltasse.

Levei as mãos em meu rosto, me segurando para não surtar no momento.

Infelizmente um raio não iria cair na minha cabeça, eu acho. Se isso acontecesse seria bem mais fácil.

Antes que eu pudesse pensar em alguma solução, meu pai apareceu na sala com uma garrafa de leite. Aquela maldita garrafa.

— Eu adoro, o meu preferido. — Dou um sorriso mais falso que consegui quando peguei a garrafa.

— Adorar somente a Deus, Cherryl. — Sammy disse logo em seguida, fazendo com que os olhos do meu pai brilhassem involuntariamente. Ele parecia... orgulhoso?

— Está certíssimo, Wilk. — Meu pai ignorou completamente a minha presença, quando ouviu as "belas" palavras do Sammy. — Vem, vamos ler um versículo da Bíblia.

Meu pai estava tão animado, nunca tinha visto ele daquele jeito. O que me fez ficar com uma pontada de inveja.

Você me deve uma, Cherryl. — Sammy falou com a voz quase inaudível, para que meu pai não pudesse ouvir.

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𝑨𝒁𝑨𝑹𝑨𝑫𝑨 • 𝑠𝑎𝑚𝑚𝑦 𝑤𝑖𝑙𝑘Onde histórias criam vida. Descubra agora