Capítulo 30

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André falou com os socorristas e com os policiais, quando estes chegaram ao local do acidente, ele contou que Júlia havia sido levada desacordada, que estava sendo perseguida no momento do acidente, até mesmo que sabia quem a tinha levado, queria que eles agilizassem a busca, precisavam encontrá-la, saber se estava ferida. Tudo o que conseguiu foram olhares incrédulos e perguntas como:

"Você estava com ela no momento do acidente?"

"Algum de vocês havia bebido?"

"Se não estava com ela, como sabe que estava sendo perseguida?"

"Mas ela estava ao telefone no momento do acidente?"

Após cada pergunta, ele repetia as explicações, mas parecia que estava falando outra língua. Os bombeiros decidiram que precisavam vasculhar a área, para se certificar de que ninguém fora arremessado do veículo no momento do acidente. André foi submetido ao bafômetro, mesmo tendo afirmado inúmeras vezes que não estava no carro. Toda aquela situação estava surreal demais, eles estavam perdendo muito tempo ali, enquanto sua mulher estava nas mãos de um louco desequilibrado.

Depois de horas de buscas e de ouvirem várias pessoas que estavam ali, por fim os bombeiros se convenceram que não havia nenhum corpo perdido. Depois de os policiais terem buscado, sem nenhum sucesso, informação nos hospitais próximos sobre se uma mulher chegara ferida, eles o informaram que para aquele tipo de caso, teria que procurar uma delegacia de polícia civil e prestar queixa de sequestro, a história dele seria investigada e iniciariam as buscas por Júlia. Após ouvir do policial essas orientações, André ficou apenas olhando para ele, sem reação. Perderam um tempo precioso ali, ele a todo momento insistindo para que saíssem em busca dela, que ela havia sido levada, ninguém acreditara nele, agora que enfim eles o ouviam, esbarrava na burocracia. Daquela maneira, ela não seria encontrada.

- Muito embora você afirme saber quem a levou, você saberia dizer para onde? – o policial perguntou, de forma arrogante.

- Não, policial, não sei. Mas não é trabalho da polícia? E quem sabe começar então pela casa do sequestrador, já que eu dei o nome dele? – André estava quase aos berros, não havia mais o que esperar, não havia mais tempo para aquelas conversas.

- Calma senhor André, a polícia vai fazer tudo dentro da Lei. Precisa ir até a delegacia agora, prestar a queixa... – o policial continuava falando, mas André não o ouvia mais. Durante o tempo que estivera ali, tentando convencê-los, falara com o pai e pedira para que ele fosse buscar Manu e a levasse para a casa deles, agora seu telefone chamava e era uma ligação da irmã de Júlia.

- André! – ela soluçava ao telefone – O que aconteceu? Cadê a Ju, André?

-Manu, ela foi levada – ele suspirou, Júlia era a única família de Manu, imaginou o desespero dela. Ele mesmo estava com os nervos à flor da pele. Rapidamente resumiu para Manuela como tudo tinha ocorrido, a ligação de Júlia quando percebeu que estava sendo seguida por Gustavo e os barulhos que ouviu ao telefone, do momento do acidente – Eu vim correndo para o local, mas ele já tinha fugido e a levado com ele. Os policiais buscaram em hospitais próximos, não há registro de que ele tenha procurado por atendimento médico nas proximidades.

- Meu Deus! Não temos como saber como ela está... – o choro ao telefone só aumentava. Elas tinham vivido uma experiência terrível com a morte dos pais em um acidente, Manu, que estava junto com eles no carro, havia ficado em coma. Para ela, era como reviver aqueles momentos.

- Ela vai ficar bem, Manu, fica calma. – ele não podia contar para a irmã que Júlia fora retirada do carro desacordada – Se ele não a levou a um hospital, é sinal de que ela deve estar bem. – ele queria muito acreditar nisso também, porque imaginar Júlia precisando de cuidados e não tê-los recebido...

- Eu estou com m-medo, André. – o desespero na voz dela era doloroso de ouvir, André desejou que os pais conseguissem acalmá-la – Você precisa achar ela, por favor, André, acha a Júlia!

- Eu prometo, Manu, eu vou encontrá-la. – ele fez uma pausa, esperando ela se acalmar um pouco – Você está na casa dos meus pais?

- S-sim, estou aqui com e-eles. – ela soluçava, ao falar – A tia Vera v-vai fazer um chá para mim...

- Isso, procura se acalmar. – de repente um pensamento iluminou as feições dele – Manu, você conviveu com o Gustavo por um tempo, certo? – ele sentia as forças revigorada pela esperança. Sem esperar resposta dela, continuou – Você faz alguma ideia onde ele possa ter ido com ela?

- T-talvez André... acho que ele não iria para a c-casa dos pais, né? C-como que explicaria? – ela raciocinava em voz alta, fazendo a tensão de André aumentar – T-talvez a fazenda..

- A fazenda para onde Júlia foi com ele quando eu cheguei? – André se lembrou. Ele ficara muito mexido com a informação de que Júlia viajara com o "namorado". Depois de conversar com Manu na casa dos seus pais, ele descobrira que ela apenas não estava pronta para falar com ele e Gustavo, como amigo apenas, a irmã frisara aquela informação, a tinha ajudado, levando-a para o fim de semana na fazenda da família dele.

-S-sim, André. A família dele n-nunca vai lá... – até a voz de Manuela pareceu mais calma e mais firme – P-pode ser que ele tenha levado ela para lá mesmo.

- E você sabe como chegar lá? – se pudesse, ele se teletransportaria agora para lá. Com certeza, seria o local perfeito. Longe dos olhares curiosos, isolado e com tempo de sobra para fazer o que quisesse com Júlia. André estremeceu ao pensar no seu amor sendo levada desacordada, após aquele acidente grave, para um lugar ermo por um cara completamente descontrolado. Enquanto Manu dava todas as explicações e referências, André pensava nos passos seguintes. Quando ela terminou, ele pediu para que ela colocasse o pai ao telefone:

- Pai, preciso que vá na delegacia por mim. – ele falou devagar, sabia o que viria quando contasse o que pretendia fazer.

-André, mantenha a calma meu filho. Eu faço o que for preciso para te ajudar, mas você precisa me prometer não fazer nada precipitado. – o pai o conhecia bem demais – Onde você está agora?

- Ainda estou no local do capotamento, próximo ao aeroporto. – ele respondeu – Se eu for na delegacia, vamos perder mais tempo, preciso ir atrás dela, pai.

-Meu filho, você não pode ir sozinho. – André notou que o pai baixara o tom de voz, possivelmente para que a mãe não o escutasse – Vamos nos encontrar na delegacia, de lá vamos com a polícia até a fazenda.

-Não posso pai, eu tentei, eu tentei aqui... ninguém quis me ouvir – ele soava desesperado – Já tem mais de três horas que ele a levou, se ela estiver com algum ferimento, pai... – foi inevitável um soluço escapar, interrompendo suas palavras, ao pensar em como Júlia poderia estar naquele momento.

- Eu não vou conseguir te convencer, não é? – o pai soou resignado.

- Não, pai. Preciso que entenda e me ajude – ele falou, determinado.

- Essas meninas são minhas filhas também. Me diga, o que eu devo fazer? – ele passou todas as orientações. A ideia era de que o pai fosse até a delegacia prestar a queixa do sequestro. Àquela altura, já teria o registro do boletim de acidente e confrontando as informações, tinha esperança de que os policiais se deslocassem até a fazenda imediatamente. Talvez eles o ouvissem, talvez realmente entendessem a urgência da situação. Porém ele não podia mais esperar, precisava fazer algo, precisava buscá-la e tinha que ser logo. Enquanto voltava para o aeroporto procurando por uma locadora de veículos, ele rezou para que não tivesse perdido tempo demais ali, precisa chegar rápido, se quisesse salvar Júlia.

* * *

A Lei do Amor (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora