Certo dia, Piper escutou uma frase que a impactou muito.
Era uma tarde, no ensino fundamental. Um aluno virou para a professora, após receber a nota de uma atividade, e disse: "você é injusta". Ela, gentilmente o aninhou e respondeu: "se prepare, meu querido, pois a vida é injusta". E era só o que ela conseguia pensar após olhar Alex nos olhos aquela última vez.
Já havia passado um mês desde que Grace chegou e o tinha o mesmo tempo que ela falava com Alex somente a respeito do trabalho. A desculpa era que ela tinha muitos projetos para realizar antes que sua amiga, Rachel, fosse embora.
E claro que Piper não acreditava nisso.
As coisas com a Grace estavam indo bem, de certa forma. Ela conseguia mascarar tudo de ruim que sentia e toda saudade de Alex. Não era uma novidade para ela fingir que as coisas com a ex tinham acabado e que ela não sentia mais nada. Tinha passado uma vida toda de relacionamentos escondidos por trás de todo real sentimento, que era seu amor por Alex.
Piper estava tentando seguir e fazer as coisas funcionarem. Certo dia, quando esbarrou com Alex no trabalho, ela estava sozinha. Estava tão linda que desejou mentalmente que o tempo pudesse parar só para que ela pudesse admirá-la com mais calma. E isso era horrível. Piper não aguentava mais aquela situação e sabia que precisava dar um jeito nas coisas, pelo bem de todos.
E isso estava perto de acontecer.
A sexta-feira havia se iniciado de forma mais fria. A temperatura estava baixa na cidade, o que fazia o vento se tornar mais gelado. Piper levantou cedo e foi se preparar para o trabalho. Ela tinha desistido de ir correr nos últimos tempos. Por quinze dias seguidos, ela ficou espiando pela porta da sua sala, só para observar se Alex sairia. Tentaria de alguma forma falar com ela. Mas isso nunca aconteceu, e lá se foram todas suas esperanças, dia após dia, até ela finalmente desistir.
Organizou alguns papéis de seus desenhos que estavam em sua mesa de jantar. Passou uma noite desenhando todos os traços simples e mais complexos de Alex, com a companhia de uma garrafa de vinho. Era o que ela podia fazer no momento, não era?
Queria ser capaz de mais. Parecia uma idiotice ela não correr atrás de seu amor quando lhe era recíproco. Mas, dentro dela, havia muito medo. E só ela sabia disso. Ainda não tinha sido capaz de se recuperar daquela partida. Ainda se lembrava daquele dia, lembrava daquele último beijo, daquele último abraço, daquele último tocar de suas mãos. Ela lembrava de tudo. E aquilo era cansativo demais. Mas ela ainda não conseguia.
Saiu de sua casa com as chaves do carro em mãos. O que podia fazer, era trabalhar. O trânsito estava tranquilo e ela se permitiu aproveitar as cores do céu e da cidade. A sexta era divertida do começo ao fim em San Diego. Todos começavam a se preparar para a curtição do fim de semana desde cedo, e era notório por todos que visualizavam o cenário.
Piper chegou na empresa um pouco mais cedo e foi perguntar se Suzanne gostaria de tomar um café. Então elas foram para uma cafeteria ali perto.
Elas fizeram os pedidos e então sentaram-se numa mesa perto da janela, com uma boa vista da rua.
― E então, Chapman, animada para as modificações na empresa? ― Suzanne perguntou, tomando um gole do café em seguida. ― Eu estou muito ansiosa para começar com todas as atividades propostas.
Piper sorriu. Suzanne era o tipo de pessoa que interagia com tudo. Ela era espontânea e conseguia ser leve com todas as coisas e era admirável demais.
― Sim, Suz. Eu estou, na verdade. Será muito bom para os funcionários ― Piper respondeu, mas sem tanto entusiasmo. Ela poderia estar muito mais animada se estivesse se comunicando bem com a Alex.
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The Past
Romance"Qual a sensação de estar de volta a um cenário estranhamente conhecido? Pessoas caminham de um lado para o outro, perdidas em si mesmas, tentando esboçar uma reação significativa para seguir o fluxo amontoado de seres sem fim. A sensação de estar d...