Lembranças

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Dizem que algumas lembranças nunca somem totalmente de nossa mente. Como um passeio memorável, um dia ensolarado na praia, uma amizade na infância e o primeiro amor. De fato, essas lembranças são tão marcantes que tem um sentido especial em nossa vida, muito provavelmente. Só que, em algumas vezes, esquecê-las parece tentador demais. Porque, de certa forma, aquelas memórias tem um impacto diferente sobre nosso ser, tem um impacto não tão significativo quanto antes.

Pena que não podemos simplesmente apagar a memória.

Era isso que Alex tentava fazer nesses últimos dias. A psicóloga já conhecera algumas cidades do mundo, estudando o comportamento de diferentes pessoas, após um término de algo que ela suspeitou nunca ter fim. Durante esses dois últimos dias, ela só queria ter uma nova mente, para projetar outras coisas, diferente das que ela tinha vivido. Ela desejava sofrer uma intensa lavagem cerebral para ser capaz de esquecer aquele doce sorriso. O motivo para querer tudo isso? Bem, ela o veria novamente depois desses dois longos dias.

Ambas compartilharam uma amizade intensa e criativa. O final disso tudo, resultou num grande amor. Ela jamais a esquecera e, por egoísmo, desejava que a outra também compartilhasse o mesmo sentimento. Porque era inevitável, assim como amá-la. Elas não tinha perdido contato então Alex sabia que a mulher não estava solteira. Isso machucava seu peito, pois, durante os longos sete anos que Alex estivera fora da cidade, nenhuma mulher foi capaz de fazê-la sentir o mesmo que o seu eterno amor foi capaz. Alex ainda a desejava e amava ardentemente, como no início do verão em que se uniram pela primeira vez.

E ela odiava sentir isso.

Ela odiava simplesmente por querer o seu amor de volta, por querer que sua mulher estivesse ali por ela quando ela chegasse em casa. Mas, a essa altura, sua ex estava aquecendo o corpo de outra pessoa.

Em seus dias calmos, Alex ficava pensando se a loira realmente sentia amor por sua nova companheira, o amor que ambas sentiram uma pela outra. Em nenhum momento cogitou sentir isso por outra pessoa, tampouco conseguiria isso algum dia. Portanto, imaginar o amor da sua vida sentindo esse forte amor por outra pessoa, ardia o peito. 

Rachel, sua amiga da faculdade, a acompanhou durante o estudo mundo afora. Alex sempre soube dos sentimentos que a amiga nutria por ela, mas nunca fora capaz de retribuir na mesma intensidade. Não por falta de tentativas, claro, mas sim por seu coração ter uma eterna morada.

E Alex voltaria para a sua cidade, pois não aguentava estar tão longe da sua família e amigos. De fato, ela sempre foi uma pessoa que amava estar na companhia de seus queridos. Também Claire, sua sobrinha, acabara de nascer. Seu irmão, Peter, já havia marcado a data do batismo e ela seria a madrinha, juntamente com o melhor amigo de Peter. A sobrinha era o bebê mais lindo que já tinha visto, mas Alex sempre falava a mesma coisa dos outros sobrinhos também. Morria de saudade de apertar aquelas bochechas gordinhas como fazia quando eles a visitavam. Ela não aguentava mais essa saudade sufocante no peito, então voltaria. Mas voltaria para ficar.

Rachel entrou na sala, batendo a porta, denunciando mais um dia exaustivo.

— Juro que não entendo o clima dessa cidade. Por Deus, saí de casa com blusa e agora já estou toda suada! — Rachel colocou sua bolsa no sofá e se jogou logo após. — Como foi o dia hoje, Vause?

— Pensativo, acho. Não vejo a hora desses dias passarem e, ao mesmo tempo, quero ficar parada no tempo — bufou. Porque tinha de ser tão difícil?

Rachel a olhava com ternura, como sempre fazia ao tocar no assunto. Claro que ela sabia perfeitamente de toda a história, pois passaram muito tempo juntas. Seus olhos não se importavam de denunciar o desejo ardente em tomar o corpo da morena para si. Mas ela sempre ignorava seu desejo carnal e cedia um espaço para o seu lado amiga. Sendo assim, ela se aproximou e abraçou Alex.

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