EPISÓDIO 3
Sobre o que é justiça
'Hora de acordar, Lizzie!', foi a primeira coisa que Lis ouviu pela manhã, como sempre.
- Hm... - A morena se revirou na cama. - É, Viv. Hora de acordar, eu sei.
O pássaro da menina inclinou a cabeça, empoleirado em sua gaiola aconchegante.
Lis olhou à sua volta. O quarto estava a mesma coisa de sempre; paredes brancas ornamentadas por samambaias e peperômias, bichos de pelúcia espalhados pelo tapete e pela cama bagunçada, gaiola e relógio no criado-mudo. O cheiro de croissants e café fresco entrava pelas frestas da porta, o que significava que mamãe e papai já estavam de pé.
Ela esfregou os olhos, sem vontade alguma de se levantar. Havia tido uma péssima noite de sono, como de costume.
Olhando de rabo de olho, pôde ver um ursinho marrom com uma camisa de coração em cima de sua cômoda - um presente de Ken, de muito tempo atrás. Ao lado, uma foto emoldurada.
Os cabelos de Lis ainda batiam nas costas naquela época, e seu amigo era ainda menor do que atualmente - mas pensando bem, todo mundo é pequeno com sete anos. Os óculos de Ken sempre foram grandes demais para seu rosto, e aquilo era adorável.
Os pequenos detalhes na moldura marrom, como as marcas de pequenas bicadas de Viv, manchinhas de poeira e alguns arranhões - provavelmente de tanto cair, visto que a cômoda era bamba desde que Elizabeth se entendia por gente - mostravam como o tempo passava rápido.
- Escola! - Viv gritou. - Escola!
A adolescente levantou, se espreguiçando. Uma olhada rápida no relógio a fez perceber que acordou atrasada: 7h50.
- Viv! - Correu até seu guarda-roupa, apressada. - Por que você me acordou tão tarde?!
A ave gritou, rebolando em sua gaiolinha dourada, como se estivesse zombando da dona.
- Tarde! - Ela balançou as asas. - Tarde!
Lis escolheu usar um vestido rodado cor de rosa, calçou um par de rasteirinhas simples - para não dizer que eram velhas e surradas - e passou os dedos pelos cabelos curtos, pegando seus materiais e enfiando na mochila de qualquer jeito.
Sua cabeça ainda latejava pelo acontecido do dia anterior. Aquela situação toda a havia deixado tão cansada... Talvez por isso tenha acordado tão tarde.
- As meninas já devem estar saindo de casa... - Falou sozinha, como costumava fazer.
Ela deu uma última olhada no quarto bagunçado e então encarou com vontade o espelho de corpo fixado atrás da porta de madeira clara.
Suas pernas pálidas estavam expostas demais para seu gosto, seu rosto parecia inchado, os lábios estavam rachados e o cabelo estava uma bagunça.
- Você vai ficar perfeitamente bem. - Ela se forçou a dizer, contra sua própria vontade.
Na maioria das vezes, Lis nem acreditava naquelas palavras, mas era impossível não repetir aquele mantra todos os dias, numa esperança boba de que talvez - apenas talvez - ela realmente tivesse algum tipo de controle sobre seu destino.
Saindo para o corredor principal, o cheiro de café da manhã ficou mais forte, dando água na boca da garota.
- Aí está você! - Sua mãe sorriu, sentada à mesa. - Dormiu bem?
Os cabelos negros da mulher escorriam pelos ombros, acentuando os sinais de tristeza e cansaço no rosto pálido. Apesar do sorriso curvado, os olhos azuis não sorriam junto. Isabel não era velha, de maneira alguma, mas aquele estado permanente de melancolia a envelhecia alguns anos, com certeza.
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Passing Time - Amor Doce (HSL)
Teen FictionApós uma troca de estudantes, cinco alunas chegam a Sweet Amoris. Será que o último ano dessas adolescentes marcará suas histórias? O que se fará dos novos amores, descobertas e falhas? De acordo com o passar do tempo, cheio de primeiras e últimas v...