Capítulo 48 - Eu não sentia nada - Bônus

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P.O.Vs Bailey

Cinco meses se passaram desde que o Josh se foi.

Como era de se esperar, esses cinco meses se arrastaram como se fossem cinco anos, e cada dia pareceu mais difícil do que o anterior.

Eu me fechei. Toda a fortaleza que eu havia construído ao longo dos anos me envolveu com barras de ferro. Eu não sentia nada.

A parte boa era que não doía. A dor não me atingia e, portanto, não conseguia me rasgar ao meio como estava fazendo com o restante da minha família. Eu não chorava mais.

Mas também não sorria. Meus olhos não brilhavam e meu coração não palpitava. Nada; era isso que eu sentia. Absolutamente nada.

E talvez por isso eu não estivesse sonhando quando ouvi o barulho da porta se abrindo de repente, acordando-me instantaneamente.

Meu pai entrou sob a luz da manhã, que surgia entre as brechas da cortina, e veio em minha direção. Cocei os olhos por um momento, tentando entender que aquilo era real.

- Bom dia, Bailey – cumprimentou com o máximo de suavidade que sua voz podia alcançar. Ele se sentou na borda da minha cama e se virou para mim.

- Bom dia... – respondi incerto.

Eu sabia que ele estava tentando. Desde daquela conversa no enterro do Josh, ele parecia se esforçar cada dia mais para me ver como filho; para me enxergar. Mas nenhum dos dois estava acostumado com isso. Era complicado. Eu não fazia ideia de como era ter um pai de verdade; todo o meu ser já havia se acomodado com a situação de ser invisível, de passar direto, e, de repente, eu estava dando bom dia para aquele homem. E eu sabia que ele se sentia do mesmo jeito.

Pensar nisso me lembrou do pensamento que havia me ocorrido pouco antes de dormir na noite anterior, sobre como meu pai sempre conseguia o que queria, mesmo sem perceber que estava conseguindo. O exemplo mais macabro foi o número de filhos, que ele nunca quis que fosse ímpar; por isso ele me odiava por ser o terceiro. Então o Josh se foi. E ele começou a me enxergar, tento novamente dois filhos. Era engraçado como a vida pode jogar tudo para o alto sem a nossa permissão. E era ainda mais engraçado como, mesmo quando a vida jogava todos seus papeis para o alto, meu pai conseguia catar todos eles novamente.

- Vim te acordar para ir ao colégio – disse continuando com o tom suave – sua mãe estava cansada demais para fazer isso.

- Não precisa me dar explicações – retruquei sem emoção.

Ele suspirou.

Queria poder dizer que o amava tanto quanto sabia que ele me amava agora. Mas Josh tirou isso de mim também. Não havia restado nada.

Isso não era justo.

Ele se levantou da cama, olhando para mim de cima. Por um segundo, isso me lembrou como as coisas funcionavam antes.

Então ele pressionou os lábios, pensativo.

- Vou estar lá embaixo se você precisar.

- Eu sei que vai.

Ele levantou uma sobrancelha, mas não respondeu. Apenas se virou e saiu do meu quarto.

Sentei-me na cama assim que ele sumiu de vista e ajeitei meu cabelo com uma mão. Lá estava eu me preparando para mais um dia. Quando vou começar a me importar com isso novamente? Era uma boa pergunta.

Fui ao banheiro. Parei alguns segundos extras em frente ao espelho, observando o reflexo nele. Eu demonstrava cansaço; meus olhos verdes pareciam sem luz e minha pele mais pálida do que nunca. Respirei fundo. Tinha que continuar.

A FILHA DA EMPREGADA- VERSÃO NOW UNITEDOnde histórias criam vida. Descubra agora