Há um ano atrás...
Estava na sala de uma casa velha de madeira escura onde o cheiro de mofo é forte e penetra no nariz, fazendo-o coçar. Têm muitos móveis, mas todos estão cobertos por lençóis brancos e empoeirados, sentia desejo de descobri-los mas tinha medo, e a escuridão dava calafrios. Por sorte, apenas frestas de luz entram pelas largas janelas. Vejo um corredor e ao lado direito há uma escada de madeira, sua forma é verticalmente arredondada, vou até lá e sinto vontade de subir os degraus, mas quando meu primeiro passo é dado, o ranger do degrau logo me faz desistir. A escuridão lá em cima é assustadora. Olho para o corredor ao lado e vejo que mais á frente é uma cozinha, mas também não me atrevo a investigá-la. Como nada naquele local parecia familiar, vou até a porta com passos lentos e tentando não fazer barulho, algo que parece impossível, pois toda a madeira velha que recobre o chão me denuncia com gemidos alarmantes. Minha única opção de saída é uma porta gigantesca, deve ter mais de dois metros de altura, a madeira é maciça e talhada com perfeição, demonstra que o possível dono daquele lugar tinha alguma influência em alguns séculos atrás. O brasão talhado na porta alertava que era de alguma família de época, o rosto de um leão. A maçaneta de bronze enferrujada era gelada ao toque dos dedos, tentei em vão girá-la por algumas vezes, tive que forçar com as duas mãos para obter algum movimento. Reparei que estava trancada a chave. Então fui em busca do objeto. Vasculhei cada detalhe do lugar desesperadamente, com meu olhar, todos os sentidos estavam em alerta esperando por alguma ameaça. Quando vi uma chave pendurada em uma parede num gigantesco prego sem cabeça, e com muitas teias de aranha ao redor. Pensei, tentando me conter, que as aranhas estavam escondendo aquela chave, de tantas teias. Me atrevi a dar um sorriso contido e um olhar esperançoso pela descoberta. A chave era quase do tamanho de minha mão aberta. Fiz uma força descomunal para abrir a porta de dobradiças enferrujadas, o barulho que ela fez foi quase um grito avisando que alguém estava fugindo. A luz que entrou pela porta entreaberta me cegou por um instante, era extramente ofuscante e meu desespero em sair daquela escuridão me fez seguí-la, mas me deparei em um jardim morto, com sinais que não havia manutenção a bastante tempo, um caminho de pedras que levava a um bosque com árvores gigantescas, tudo iluminado pela luz da lua tenebrosamente cheia no céu. Olhei em volta e a casa era rodeada pelas árvores fazendo uma verdadeira muralha de proteção. Seja onde eu estivesse - e não fazia a menor ideia de onde estava -, vi duas opções, ou teria que voltar pra casa sombria ou adentrar na mata fechada sem saber onde iria dar. Olhei para a casa procurando minuciosamente algum vestígio de vida, que pudesse indicar que a primeira opção seria a mais segura, mas só o que vi era janelas quebradas e paredes de madeira cobertas de lodo impregnado de muitos anos. Mas o que me fez arrepiar foi uma janela no primeiro andar onde percebi uma sombra, que me observava, esfreguei os olhos na tentativa de tirar qualquer mancha em minha vista, e ainda estava lá. De repente desapareceu.
Corri em direção a mata fechada, o desespero estava empurrando com tanta força que nem sentia meus pés tocarem o chão, as folhagens e galhos rasgando minhas pernas e braços. Mas a dor dos cortes não eram páreo para o medo. Vestindo apenas um baby-doll não tinha proteção nenhuma.
As árvores com copas gigantescas não permitiam que a lua cheia no céu iluminasse meu caminho, não conseguia enxergar quase nada a minha frente, mas minha audição completamente aguçada me fez notar que não estava só, alguém me perseguia. A presença era sufocante.
O mais rápido que podia correr, não parecia ser o suficiente, quando cheguei numa clareira e resolvi enfrentar meu algoz.
Me virei pegando um pedaço de galho de árvore apodrecido no chão, mas não havia ninguém, ainda esperei um pouco segurando a respiração... apenas o vento que balançava os galhos com uma simplicidade e calma que me senti constrangida com meu nervosismo, foi daí que comecei a respirar. Soltei o pedaço de tronco e cai sentada puxando o fôlego.
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Envolto
ParanormalMelanie, uma garota confusa e sem perspectivas que encontra paixão, liberdade e prazer em Daniel, um ser desconhecido. Num vício e cumplicidade mútua eles se unem, descobrindo os segredos mais obscuros, um do outro. Jonathan, procura salvar seu gran...