Capítulo 5 - Punhal fincado nas costas

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O que fazemos quando algo entra em nossa mente e não conseguimos tirar? Como uma música chiclete. Que fica o dia inteiro martelando em nossa cabeça. Como uma crítica positiva de quem amamos, no momento que ouvimos, não há nada de positivo na questão, queremos brigar e questionar, numa auto defesa, até reconhecermos que realmente devemos considerar, mas até lá, todas as palavras ficam martelando na mente seguida das respostas que poderíamos dar.

O que parece real? É somente aquilo que os outros vêem para nos dizer que realmente foi real?

Depois que tive esse primeiro contato com.... vou chamá-lo de "Amigo". Como no romance de Mary Shelley, que o ser criado por Dr Frankenstein nunca teve um nome, mas será que meu amigo tem? Confesso que fiquei bastante interessada, com a sensação de algo sobrenatural. Nunca acreditei muito nisso, sempre tive medo. Mas tinha algo diferente no ar. O interesse e a dúvida ressoavam o tempo todo dentro dos meus pensamentos. "Deveria ter perguntado dessa forma ou daquela". As perguntas se formavam dentro de mim, que chegava até falar baixinho, sem me tocar. Por que me sentia o tempo todo observada? Por que dos sonhos? O que o cemitério tinha haver com tudo isso? E por que eu? Essas dúvidas me deixaram desatenta por um tempo...

Jonathan queria fazer amor comigo, embora ele fosse o homem mais bonito e sexy que eu conhecesse, eu simplesmente não conseguia me entregar. Estava com a cabeça tão cheia que não havia espaço para isso. O sexo para as mulheres funcionam de forma diferente do que para os homens, eu acredito. As vezes necessitamos que tudo esteja em um equilíbrio. Como uma lista em nossa cabeça. Amor, financeiro, limpeza, ocasião, lugar e desejo. Realmente o desejo está no final da lista, pois se o resto anteriormente citado não estiver ok. O sexo não funciona como deveria. O desejo não vem.

Queria contar para ele tudo o que havia acontecido, mas não me sentia segura. Jonathan não acreditava em coisas que não podia tocar, nem em Deus ele ousava acreditar. Acho que ele me internaria num hospício. Às vezes me renego por ser tão introvertida. Nem para minha única amiga, Samanta, eu tenho coragem para contar e isso é algo que me corrói por dentro. Sei que ela nunca me escondeu nenhum segredo.

Precisava fazer algumas compras para casa, a dispensa já estava ficando vazia. Quem sempre fazia era Jonathan. Mas nesse dia me levantei mais disposta, com minhas dúvidas como sempre, porém achei que fazer algo diferente acabaria me distraindo. Então passei a manhã fazendo faxina, almocei, tomei um banho e lá para as 4 da tarde, resolvi ir ao mercado. Deixei um bilhete na mesa para o caso de Jonathan ou Samanta chegar me procurando.

O mercado ficava a algumas quadras de minha casa e fui caminhando. Comprei frutas, legumes, massas e uma pizza pronta para jantarmos. Alguns produtos de limpeza e percebi que já tinha muita coisa no carrinho, ficaria difícil de levar na mão. Passei tudo pelo caixa, paguei e fui caminhando. Nem tinha percebido que passei tanto tempo no mercado, pois já havia escurecido. Estava realmente pesada aquelas sacolas. Passando pela sorveteria Sontier, lembrei dos momentos que tínhamos, meu pai, minha mãe e eu, tomando sorvete. Eu sempre pedia de chocolate branco, era o meu preferido. Meus dedos doeram com o peso das sacolas e me fizeram voltar a realidade. Então decidi entrar na sorveteria e tomar o meu sorvete de chocolate branco de sempre. Havia algumas pessoas sentadas e notei que me olhavam com estranheza. Mas decidi não me aborrecer com isso. Só queria experimentar aquele sabor de alegria das minhas lembranças, que há muito havia esquecido, e pedi meu sorvete ao Sr. José Crispim, um velhinho simpático que era proprietário do local.

Devo ter passado umas cinco horas fora e lembrei que Jonathan e Samanta já deveriam estar desesperados a minha procura. E para completar tinha esquecido meu celular em casa.

Tentei não me preocupar com isso. Só queria me distrair um pouco, conversei bastante com o Sr. Crispim, que me deixou atualizada de todas as fofocas da vizinhança.

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