Envolto

Capítulo 7 - No chalé

O chalé tem uma arquitetura charmosa e confortável, de madeiras grossas e firmes enfileiradas. Telhado de forte caimento e uma varanda na frente com pilastras feitas de grossos troncos que seguram toda a estrutura. Consegui avistar quando estava a uns cinquenta metros de distância entrando após o cercado. Tive que descer do carro para abrir a porteira. Fazia frio, típico das montanhas do interior.

Ao passar pela porta de entrada senti o cheiro forte da madeira antiga e observei que fazia muito tempo que ninguém havia entrado ali, estava com aparência suja e de abandono. Após a morte de meu pai, minha mãe e eu nem lembrávamos que também tínhamos aquela propriedade ao redor das conhecidas montanhas Jura. Era local de descanso e lazer. O cheiro da terra molhada misturado com folhas mortas pelo chão, a brisa calma e fria do inicio da manhã me fez devagar pelos momentos que nos divertíamos jogando cartas na varanda coberta, ou ao redor da lareira enquanto tomávamos chocolate quente. Pela manhã ia com meu pai pescar no riacho que havia próximo. Lugar belo e quase intocado pelo homem. Conseguíamos passar horas em cima das pedras segurando a vara, conversando enquanto comemorávamos a cada fisgada. Com fartura de carpas laranjas, e trutas. Na brasa, o sabor expressivo de peixes de água doce, o pescado nos alimentava durante o almoço em família. Minha mãe gostava de embalar a noite cantando enquanto meu pai tocava um violão meio desafinado. Ele se orgulhava em dizer que havia aprendido a tocar sozinho. – Um auto didata. - Era como ele se descrevia.

Abri as cortinas para entrada de um pouco de luz, tirei os lençóis empoeirados que cobriam as mobílias e as camas as recobrindo com cobertores limpos, guardados no armário. Nem tirei minhas malas do carro ainda, e fui começando a faxina, depois que acendi a lareira. O pó fino estava por todos os lugares, me fazendo espirrar por várias vezes.

O lugar era incrível, com grandes poltronas de couro negro, tapete em pele de onça, no centro da sala, mesa de jantar grande de madeira maciça que dava para a cozinha americana. Pé direito duplo com uma escada para o primeiro andar onde ficavam dois quartos grandes e rusticamente decorados. Pensei por algum momento que poderia viver ali para sempre. Isolada do mundo, sem ninguém para me apegar e que pudesse perder.

Depois de organizar tudo, notei que já havia escurecido e me dei ao luxo de um banho quente e depois um pouco de vinho da adega antiquada de meu pai. Fui até a sala e me sentei na poltrona fazendo meu corpo relaxar após a viagem e a limpeza.

Algumas taças me deixaram um pouco tonta, decidi subir até o quarto, e depois me joguei naquela cama grande com lençóis limpos. A cama dos meus pais. Ao longe quase pude sentir o cheiro deles. Estava reconfortada nas minhas memórias, entre os dois na cama. Como quando eu tinha um pesadelo no meio da noite, quando criança. A cama dos pais é o único lugar seguro.

Era pouco mais de meia noite, estava cansada, mas o meu sono não vinha. Era como se estivesse esperando algo, estava ansiosa. Peguei meu relógio de pulso que estava na mesinha de cabeceira, vi a hora e não me preocupei pois não teria horário para acordar no próximo dia. Fechei os olhos, me deitei novamente. Respirei fundo para me acalmar. Desejei com toda força a presença de meu "amigo". Quando já estava sentindo um sono leve...

Um vento frio com um cheiro cítrico e doce, invadiu meu quarto. Meus olhos ainda fechados, senti a presença de alguém junto a mim. Excitação e medo me fizeram arrepiar. Ele está aqui. Finalmente posso sentí-lo. Me levantei com cuidado.

- Quero você.- falei baixinho, quase em sussurro – Preciso te ver! – eu implorei, ainda contida.

A brisa fria leve passou por minhas pernas, deslizando sob minha camisola de algodão fino, por meu ventre, meus seios, meu pescoço ,e por onde passou me causou arrepios intensos até chegar em minha orelha esquerda.