Capítulo 4 - Ele apareceu para mim!

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Acordei e ainda estava escuro, Jonathan do meu lado, dormia profundamente. Mas senti uma sensação estranha, como se estivesse sendo observada. Olhei ao redor, já sentada na cama improvisada. Eu estava com um baby-doll florido e sexy que ganhei de Samanta. Com o cabelo preso num rabo de cavalo, e a maquiagem borrada em meus olhos. Ainda um pouco atordoada, tentei me levantar. Mas meus pés não encontraram o chão e caí, como num mergulho em águas profundas. Nadei para cima em busca da margem que emanava uma luz que podia ver ao longe através da água. Mas algo me puxava para mais fundo. Olhei para baixo, vi centenas de mortos empilhados no profundo do que me parecia um rio. Me desesperei e nadei subindo com todas as minhas forças para não encostar nos corpos sem vida. Quando pude chegar a margem, já me afogando, senti que algo me puxava para cima, e meu corpo flutuava no ar. Sai completamente da água e me vi voando alto em direção ao céu escuro, porém estrelado. Do alto consegui enxergar uma cidade antiga de períodos coloniais, não soube identificar como um lugar conhecido. Não haviam pessoas nas ruas, percebi um animal, como um lobo negro, ele corria rapidamente entre as ruas feitas de pedras, como procurando algo. Nesse momento ele parou de correr e olhou em minha direção. Seus olhos vermelhos me encararam. E começou a uivar para mim. Tive medo. Ele era assustador e parecia me querer como presa. Me senti segura no alto, ao mesmo tempo que sentia um frio na barriga pela altura que estava. De repente, ele começou a me chamar:

- Melanie, Melanie!!

Perdi o controle e cai com velocidade em direção ao chão.

Acordei num ímpeto da queda. Jonathan ainda dormia como um belo anjo. E tudo estava tranquilo. Tinha sido apenas um sonho. E logo o dia amanheceria. No entanto a sensação de me sentir observada não passou. E cada vez era mais forte.

Ajudei ele a retirar todas as coisas do lugar, e levamos tudo em bolsas para o carro. Eu estava realmente grata por cada detalhe que ele preparou. Me despedi daquele local com o coração apertado e muitas dúvidas. Ao chegar em casa, tudo teria sido perfeito, era um sábado ensolarado. Mas não consegui parar de pensar no sonho que tive. Jonathan achou estranho minhas feições e passou o caminho todo da volta me perguntado:

- Você está bem? Eu te machuquei?

Ele se sentia culpado. Mas eu já nem pensava mais nisso. O que só me preocupava era aquela sensação de estar me sentindo observada.

A noite chegou, e sempre no sábado, Jonathan deixava tudo que fazia para se encontrar com os amigos. Eram exímios jogadores de RPG. Um tipo de jogo onde um mestre faz uma narrativa de uma história e os personagens representados pelos jogadores, buscam cumprir todos os desafios. Eu nunca entendi muito bem como funcionava, na verdade não me importava. E era assim que Jonathan passava suas noites de sábado. Nesse dia pedi que não fosse, mas ele:

- Oh, amor. Eu já tinha combinado com meus amigos. – fez uma cara de criança mimada pedindo um presente a sua mãe.

Até me perguntou se eu estava com algum problema, que ele ficaria. Mas não quis atrapalhar a sua noite.

Já passava das dez e fiquei assistindo TV esperando que o sono me vencesse. Porém, cada vez mais a sensação de que tinha alguém me observando era maior. Eu tentei me concentrar, e acabei escolhendo do catálogo da Netflix, "Uma família do bagulho". Talvez uma comédia me tirasse esse sentimento de medo. Mas um ruído de algo caindo em um dos quartos chamou minha atenção. E o coração acelerou com a ideia de investigar o acontecido. Levantei do sofá e caminhei em direção ao corredor escuro que dividia os 4 quartos. Não sabia de onde o som tinha vindo, então, o prudente seria abrir a primeira porta do primeiro quarto do corredor. Não havia ninguém lá. Não cheguei a entrar no quarto. Apenas por um espaço da porta com cuidado, coloquei a cabeça e procurei alguma movimentação ou objetos pelo chão que denunciasse o som causado. Não havia vento, e a janela estava fechada. Tudo estava intacto e em perfeito estado. Fui a segunda porta e repeti os mesmos gestos. Nada estava fora do lugar. Quando minha mão tocou a fria maçaneta da terceira porta, ouvi um estalar vindo do quarto dos fundos. Ele estava fechado a algum tempo. Intocado desde que retiraram o corpo sem vida de minha mãe. Pulei segurando o grito de minha boca que quis sair involuntário. Será que tinha alguém tentando invadir a casa? Não, isso não acontecia naquela pacata cidade. Quis me confortar, mas precisava investigar. Caminhei os próximos 3 metros com passos lentos e cautelosos. Fui até a porta. Minhas mãos não queriam obedecer o comando de tocar a maçaneta. Então abaixei e ousei olhar pelo buraco da fechadura. Prendi a respiração para controlar o meu próprio barulho. O quarto estava escuro e quase não conseguir ver muita coisa. Me ergui e engoli a saliva que estava presa na garganta como se tivesse tomado um gole de coragem para abrir a porta a minha frente. Finalmente senti o frio da maçaneta ao meu tato. Pulei assustada, o som agora vinha da sala. Oh Deus, me livre do mal! Eu quase não consegui pronunciar. Ainda com passos cuidadosos, me dirigi a sala e expirei o ar preso nos pulmões. No fim do corredor, me escondi, esgueirando meu corpo na parede, apenas com os olhos atentos, vasculhei por toda a sala escura e iluminada apenas pela luz da tv que oscilava nas mudanças de cenas. Respirei fundo acreditando que talvez o meu medo estivesse me fazendo acreditar que poderia ter algo ali. Porém eu estava só e apenas o som do aparelho eletrônico se fazia presente comigo. Acho que estar no cemitério Rokins, na noite anterior, havia mexido com minha cabeça. Corei com vergonha de mim mesma. Não tem ninguém aqui... não tem ninguém aqui... eu repeti. Sentei no sofá ainda um pouco apreensiva. Mas não consegui relaxar, meus sentidos me alertam que tem alguém comigo. Me encolhi no sofá olhando para o corredor dos quartos que parecia aterrorizante e sombrio. Ouvi uma respiração perto de mim. Então me levantei com pressa e fiz o que qualquer animal faz quando está se sentindo acuado e não tem como fugir...enfrentei:

EnvoltoOnde histórias criam vida. Descubra agora