Capítulo 9 - Eu prometo!

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Uma semana se passou desde a última vez que pude sentir meu "Amigo", recebi hoje a alta do hospital. Estava com quadro grave de desnutrição e desidratação. Meu corpo mais nutrido agora, mas minha mente me deixa enfraquecida. Novamente sinto que me arrancaram algo, mas dessa vez foi meu coração, estou vazia por dentro. Ele preenchia tudo. Eu tenho essa noção que me agredi fisicamente, que fiz algo errado comigo mesma, mas não me importava, eu estava feliz nem que fosse nos momentos que estava com ele.

Jonathan ficou comigo todos esses dias me acompanhando, mesmo nas minhas crises de ansiedade quando o expulsava. Ele saia do quarto, mas sempre voltava quando eu estava mais tranquila. Ainda não contei nada sobre o que tinha feito nesses dias, ele achava que eu estava com algum problema psicológico por causa da sua traição e todos os traumas que sofri pelas minhas perdas. Para mim, não fazia diferença o que ele pensava.

No chalé, Jonathan me ajudou a sentar na poltrona da sala, não que eu precisasse, mas ele fazia questão de me ajudar de todas as formas. Logo foi para a lareira tentar acendê-la. Notou que precisava de mais lenha. Foi até a pequena cozinha e se atreveu a preparar algo para nós jantarmos. Meu olhar era sempre no vazio, eu só pensava: "Será que nunca verei Daniel novamente? ", até que Jonathan me trouxe a realidade, me entregando uma caneca com uma sopa quente de legumes. Eu não queria aquilo. Mas balancei a cabeça em agradecimento. Ele sentou na poltrona ao lado. Creio que também estava cansado. Após um momento em silêncio, mexendo com a colher na sopa, disfarçando que estava tentando esfriá-la.

- O que está acontecendo com você Mel? – Me questionou num tom sério e preocupado.

- Não sei se posso te contar... – abaixei a cabeça em tristeza. Ele sabia que havia algo em mim. Que eu tinha um segredo. Não era só pela traição, havia mais.

- Eu preciso que me conte. Todos esses dias, fiquei do seu lado, te ajudei. Larguei tudo, minha família, meus amigos por você.

- Mas eu não te pedi nada! – falei com rispidez.

- Você não me pediu. Está certa! Mas que homem eu seria em virar as costas para o amor da minha vida? – Disfarcei, tomando uma colher de sopa, fingindo que não percebi sua declaração e junto com ela suas lágrimas. – Eu errei muito com você, eu confesso. Mas eu daria minha própria vida para voltar atrás e tê-la novamente. – colocou a xícara da sopa no móvel de madeira ao seu lado e se ajoelhou em minha frente, com o rosto em minhas pernas. – Me diga o que posso fazer?

Eu me emocionei com aquele gesto e lembrei de todos os momentos bons que tivemos, como ele me tratava bem, como eu gostava do cheiro dele. Vendo ele naquela situação de rendição, senti que ele estava realmente arrependido. Coloquei a caneca também na mesinha de centro ao lado e toquei seus cabelos negros e lisos. Passei as mãos por seu rosto e levantei para que ele olhasse para mim.

- Eu não posso ficar com você. Sinto muito, mas há outra pessoa. – seu rosto de esperança se desfez. Ele ficou sério, pensativo. Acho que não acreditou no que acabara de escutar.

Se levantou da posição de submissão e se ergueu, olhou para os lados e me desafiou.

- E cadê essa pessoa? Você passou mais de uma semana internada no hospital e ninguém a procurou. Sei disso porque eu estava lá, todos os dias! Eu, não outra pessoa! – fiz cara de tédio com sua exclamação, não queria discutir, estava cansada e com os pensamentos atordoados.

- Jonathan... – dei uma pausa, pensando em dizer algo de uma forma que não o humilhasse ainda mais. – Eu nunca pedi que você viesse atrás de mim, ou que ficasse comigo no hospital. Eu agradeço, porém nunca te pedi nada, como já disse.

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