Capítulo 20 (part 2)

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(...)

Não sei como pude alimentar essa idéia louca que se formou na minha cabeça. Ao longo dos anos, eu aprendi a não fazer as coisas no impulso e pensar mil vezes antes de tomar qualquer atitude. Até porque, todas as vezes que eu não pensei antes de agir, deu tudo muito errado. Mas alguns desfechos dessas idéias não terminaram tão não ruins assim.
Eu levaria uma puta bronca do Yuri e do Vitor se eles soubessem o que estou prestes a fazer.

Após eu ter pego um Uber, eu finalmente cheguei a minha antiga rua. E logo quando saí do carro, eu me deparei com a casa dos meus pais na minha frente.
Nada mudou, nem mesmo o portão branco e as paredes vermelhas, que agora, possui um tom desbotado por conta do tempo.

Observando as outras casas, eu percebi que a minha era a mais colorida e enfeitada por flores e plantas. Isso com certeza me atraiu.

Antes de vir para cá, eu passei em uma padaria para comprar algumas coisas e não chegar com as mãos abanando. Peguei tudo que eu "sei" que eles gostam. Normalmente nesse horário, eles enchem a mesa de bolos e pães e tomam café enquanto falam sobre assuntos da semana. Isso é padrão. Quero dizer, antes era.

Eu dou alguns passos ainda mancando por conta do pé, na intenção de ver algo ou alguém.
E na frente de casa, de costas, regando as plantas do pequeno jardim, vejo o meu pai todo largado de chinelo e uma blusa cinza.
Seus cabelos grisalhos me fizeram perceber que o tempo passou para ele.

Um pequeno sorriso se forma no meu rosto por ver que o seu hábito de ser cuidadoso com as plantas e flores ainda caminha com ele.
Ele sempre gostou de flores e me fazia cuidar delas quando eu era pequena, era o nosso passatempo favorito.

Eu chego um pouco mais perto do portão e coloco uma das mãos na grade tentando fazer o mínimo de barulho possível. Eu não sei se levo isso adiante ou se saio correndo daqui e finjo que nunca tive essa idéia.

Mas eu respiro fundo e finalmente crio coragem para dizer alguma coisa.

- Pai? - chamo com uma voz claramente nervosa.

Ao me ouvir, ele toma um pequeno susto e para de regar as plantas imediatamente.
Ele se vira lentamente para o portão e finalmente olha para mim, ficando ainda mais surpreso que o normal.
Nós ficamos em um silêncio estranho, como se nós estivéssemos processando tudo que está acontecendo. Talvez na mente dele, seria impossível que um dia eu viria visitá-lo.

Ele fecha a torneira e larga no chão a mangueira que segurava.

- Sally? - diz ajeitando os óculos em seu rosto.

- Oi.. desculpa aparecer assim do nada, é que eu.. resolvi fazer uma visita e.. bem. - Eu olho as horas no relógio em meu pulso. - São seis da tarde e eu sei que nesse horário vocês costumam tomar café. Dá até pra sentir o cheiro de longe.

Ele sorri sem graça e continua me olhando, como se tivesse prestando atenção em cada detalhe do meu rosto. Será que mudei tanto assim dês da última vez que nos vimos?
Eu dou uma tossida falsa para quebrar o silêncio.

- Então, eu posso entrar? - Perguntei.

Ele acorda do seu "transe" e procura as chaves nos seus bolsos.

- Ah! Estão lá dentro. Eu vou buscar, só um instante! - Ele vai para dentro de casa procurar a tal chave.

Eu só soube rir e ficar com um sorriso bobo na cara. Apesar de eu ter acabado de chegar, eu não pensei que começaria tão tranquilo assim.
Em questão de segundos, meu pai volta com o molho procurando a chave certa e já a enfiando no tranque e abrindo o pequeno portão.

Eu entro já ficando frente a frente com o meu pai. Eu hesito em abraça-ló assim de cara, mas o mesmo se aproxima me abraçando com força, fazendo com que eu ficasse sem reação.
Eu demoro para retribui o abraço, mas me esforcei um pouco e me aconcheguei por completo.

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