Capítulo 22 (part 1)

204 15 260
                                    

A alguns anos atrás..

Em uma sala de aula, em cima da mesa do professor, Sally, uma jovem garota de longos cabelos negros com tons azuis desbotados nas pontas, atuava como se estivesse em um palco com milhões de espectadores a sua frente. Mas na verdade, ela estava sozinha dentro de uma grande e vazia sala com mesas, cadeiras e mochilas espalhadas.

Vestida apenas com o seu uniforme, Sally pegou algumas fantasias que achou em um baú do teatro do colégio e tentou simular um futuro figurino para sua apresentação. Mas ela não estava pensando muito nisso. Estava apenas focada no que iria apresentar naquela noite.

A algumas semanas atrás, o colégio de Sally anunciou que teria um grande show de talentos aberto aos alunos. A menina viu como uma ótima oportunidade de mostrar para seus colegas de turma que suas idéias malucas não eram tão idiotas assim, que seu humor duvidoso a levaria além. Ela queria que seus amigos a admirassem e acreditassem nela pelo menos uma vez.

Sally pensou em fazer duas das coisas que sempre mais admirou nesse mundo artístico. Improviso e stand-up.

Muitas vezes Sally juntava todo dinheiro que tinha para ir a shows de stand-up em várias casas de comédia em São Paulo. Levando consigo um caderninho e canetas coloridas para fazer algumas anotações.
Sempre mentindo para os seus pais dizendo que estaria fazendo trabalho na casa de alguma amiga ou simplesmente dando sumiço sem nenhuma explicação.

Era o único contato direto que ela tinha com stand-up, diferente do improviso que ela só lia alguns livros e revistas da biblioteca de sua escola. E dês de que conheceu esses dois mundos diferentes, ela se apaixonou completamente e sentiu no seu coração que ela mesma deveria mostrar isso ao mundo.
Mas como? Quando? Onde? Nem a mesma sabia.

Mas nesse grande show de talentos, ela viu como uma oportunidade única fazer as duas coisas que mais gosta.
O problema é que ninguém achou a idéia da Sally uma das melhores. Se nem sempre em trabalhos de escola, a turma aceitava os textos e sugestões escritas pela mesma, imagina no show de talentos onde o colégio inteiro vai estar alí para assistir e possivelmente te julgar?
Como fazer um show sem nem ter um texto ou algo programado? E stand-up? Apenas Rafinha Bastos sabe fazer isso, e não uma garota qualquer.
"Isso nunca daria certo" Era o que diziam. Acabou que ela resolveu fazer tudo sozinha.

Com pouco conhecimento e experiência no assunto, Sally resolveu fazer da maneira que pôde.

A mesma pensou em fazer apenas um jogo, mas normalmente, quando se improvisa, você precisa ter um parceiro de cena, coisa que ela não tinha.
Mas mesmo assim Sally quis testar alguns jogos de improviso para ver como se sairia. Ela escreveu cenas aleatórias em vários papéis e colocou dentro de uma caixinha embaralhando tudo que tinha dentro. Assim, seria um ótimo jeito de fazer a sua cena acontecer.

- Bom, nesse jogo que vou jogar agora, eu irei pegar uma cena aleatória que foi escrita por vocês e vou improvisar com base nelas, tudo bem? Ótimo! - Disse ela para ninguém.

Sally pegou a tal caixa e sacudiu com as suas mãos. Ao parar, abriu a caixinha e pegou uma cena aleatória.

- Uh! Cenas de uma propaganda de shampoo. Hehe, essa é legal.

A menina deixou a caixinha de lado, se preparou e começou:

- Você está cansado de tropeçar toda vez que caminha pela rua? Novo shampoo anti-quedas, para que não haja mais acidentes. - Sally fez um joinha com a mão e soltou um sorrisinho acompanhado de uma piscadinha.

Assim que terminou a sua cena, ela ouviu uma risada da porta da sala fazendo a mesma levar um susto.

Ela viu um menino branco de olhos claros e cabelo loiro rindo horrores com uma das mãos na boca. Ele tinha várias pulseiras coloridas no pulso, o cabelo muito bem arrumado e a blusa de uniforme por dentro da calça. Ele aparenta ter a mesma idade que ela.

Bem vinda ao espetáculo.Onde histórias criam vida. Descubra agora