Capítulo 6

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Pov Noah

Sábado, o dia mais esperado por mim. Sim, eu estava ansioso para encontrar o Josh... Digo, eles. Any também, claro. Já estava na hora da reunião, e dessa vez não tínhamos planejado nada. Pensei em trazer eles para a minha casa, já que moro sozinho mesmo. Sugeri isso em nosso grupo do WhatsApp, e todos concordaram, então comprei alguns lanches e bebidas, e depois fui buscar eles.

Eu mal chego e eles vêm rindo até o meu carro. É bom ver eles felizes assim. Pelo jeito eles se aproximaram bastante essa semana.

- Oi, Noahzinho! - fala Any, beijando a minha bochecha e se jogando no banco de trás.

- Oi Noah! - fala Josh, e ele está lindo como sempre.

- Oi, gente, quanta alegria!

- É porque, enquanto te esperávamos, o coordenador viu a gente e queria nos trazer de volta. Ele ficou um tempão tentando nos convencer, até que eu falei tudo na cara dele e ele ficou com cara de tacho. - Any fala, rindo.

- O melhor foi que quando ele estava saindo, ele tropeçou e quase caiu. - Josh complementa, rindo. - É maldade nossa rir disso.

- Maldade é ele falar "se você está triste, sorria", isso sim! - Any fala, rindo, e eu acabo rindo junto.

Fomos o tempo todo falando sobre coisas aleatórias, e, dessa vez, Josh estava mais solto. Isso é bom. Quando chegamos na minha casa, tento mostrar todos os cômodos.

- Cara, você mora numa mansão? Isso aqui não tem fim! - Any fala.

- Cadê seus pais? - Josh pergunta, na inocência. É aí que as coisas complicam...

- Eu não tenho pais, moro sozinho.

- Ah... entendi, me desculpe. - ele fala, muito arrependimento. Mas não tinha pena, e isso é bom, porque eu odeio quando sentem pena de mim.

- Tudo bem... Querem comer alguma coisa?

- Você comprou morangos como eu te pedi? Se não, eu saio daqui agora. -Any fala.

- Comprei, Any, eu comprei. - e daí ela me abraça muito forte e fica beijando minha bochecha várias vezes. Não sou muito de abraços.

- Eu acho que alguém não gosta muito de abraços, viu. - Josh comenta.

- Ah é? Então vem também, Josh. Quero encher o saco dele hoje. - ela puxa ele pelo braço, fazendo ele abraçar a mim e a ela também. Na hora eu só senti o perfume dele, e o da Any simplesmente sumiu.

- Ai, gente, eu já vi que vocês me amam, podem me soltar. - eu falo, mas só para manter a pose, porque eu queria muito ficar no abraço de Josh. E eles me soltam, rindo.

Sentamos na sala para comer e beber, obviamente bebidas não alcoólicas. Conversamos sobre coisas sem sentido. Até que Any comenta o que aconteceu na escola segunda-feira e como aconteceu com ela na outra escola. Eu não acredito que existam pessoas assim no mundo.

- Any, você é uma pessoa maravilhosa e não merece, e nem mereceu, passar por isso. E saiba que sempre vamos estar aqui para o que você precisar. - eu falo para ela. Any é um ser iluminado, ela realmente não merece isso. Eu fico com tanta raiva dessas pessoas que dá até vontade de ir bater nelas.

- Obrigada, Noah! E Josh também. Vocês têm me ajudado muito, muito mais do que aquele grupo de apoio - fala ela, revirando os olhos e rindo.

- Eu já tentei suicídio, mas não deu certo. - fala Josh, do nada.- Só minha mãe sabe disso e eu acho que agora é o momento certo para eu contar para vocês... - eu seguro na mão dele para dar apoio, enquanto Any o abraça de lado.

- Estamos aqui para te ouvir. - eu falo.

- Eu sempre sofri bullying, como Any viu segunda, e por causa disso eu já apresentava sinais de depressão, mas daí a bomba veio. Meu pai foi diagnosticado com câncer, e ele era como um heroi para mim - fala ele, com uma lágrima escorrendo. Eu seco rapidamente, prestando atenção em tudo que ele falava. - No dia do meu aniversário ele faleceu, e a partir daí comecei a me cortar, até esse ano eu tentar suicídio. Mas eu não sei o que fiz de errado, pois eu sobrevivi, e agora minha mãe está no meu pé, e é isso. - ele termina, já chorando muito. Aperto suas mãos, tentando passar conforto, mas eu sei que isso é impossível. A cena dele chorando me dói demais.

Nem percebo que também estou chorando, até ele também secar minhas lágrimas. O toque dos dedos dele na minha pele são tão singelos, tão delicados. Fico encarando-o, enquanto nós dois choramos, até esqueço que Any também está ali. Mas ela parece não se importar com o nosso momento, até sorri para isso.

- Eu entendo a sua dor. - resolvo falar - Perdi meus pais quando eu tinha 8 anos.

Flashbacks começam a vir na minha cabeça, de tudo que aconteceu, e eu começo a narrar tudo.

- Estava eu, meu pai, minha mãe e minha irmã, dentro do carro. Estávamos voltando de Orange County, chovia muito e já era noite. Meus pais discutiam nos bancos da frente, até que surge um caminhão do nada, meu pai tenta desviar e o carro desliza na pista, consigo ouvir minha mãe gritando para o meu pai frear, e daí batemos numa ribanceira. - agora é Josh quem aperta a minha mão.

- Eu fiquei desacordado, mas tive poucos ferimentos. Meu pai morreu na hora e minha irmã, por alguma razão, estava sem cinto e só não voou para fora do carro por causa do banco do meu pai. Ela também morreu na hora. Minha mãe foi hospitalizada e entrou em coma, ficando por 3 meses "viva", até que ela morreu. E eu fiquei órfão. - eu provavelmente chorava muito, mas no momento não estava ligando para isso.

- Meus tios ficaram com a minha guarda, mas assim que eu completei 15 anos me emanciparam e compraram essa casa para mim. Segundo eles, não ficariam com um viadinho como eu lá, tinha perigo de eu corromper meu primo, então, assim que tiveram oportunidade, se livraram de mim. Mas não tenho o que reclamar, eles pagam tudo para mim e às vezes me procuram pra saber se está tudo bem. - eu termino e Josh me abraça. Eu esparava que a Any me abraçasse, não ele, mas é muito bom.

- Eu não tenho o que te falar, porque eu sei que essa dor não passa assim, mas obrigado por compartilhar. - ele fala no meu ouvido. Logo Any se junta ao nosso abraço e ficamos por um tempo assim.

- Desculpa por isso, mas eu pensei que, se vocês contaram as histórias de vocês, eu tinha que contar a minha também. Não por obrigação, mas porque eu confio em vocês. - eu falo após o abraço.

- O bom é que agora nós três nos conhecemos bem. Cara, a gente é o trio mais problemático que existe! - fala Any e a gente ri. Só ela para nos fazer rir.

- Eu acho que a gente devia dar uma animada, isso foi muito deprê. - eu comento.

- E o que você sugere? - pergunta Josh.

- Sei lá.

- Uma festa! A gente pode ir para uma festa! - Any de repente fala.

- Agora? - eu pergunto - Eu acho que a gente não está no clima para isso no momento. Eu pensei num filme.

- Não, sábado que vem. Eu consigo umas identidades falsas e a gente pode entrar numa boate, ou eu posso conversar com algumas pessoas e ver alguma festa universitária...

- Any, calma! Eu nunca fui em festa e talvez seja precipitado. - Josh fala.

- Tá aí! Mais um motivo para irmos em uma festa! O bonitão aqui nunca foi. Noah, por favor, me dá uma força pra convencer ele, você é bom nisso. - mas eu nunca convenci ninguém na frente dela, eu hein.

- Ahn, sei lá. As vezes é bom sair pra se divertir e beijar algumas bocas. - isso ficou horrível, e eu nem quero que ele beije alguém sem ser eu, quer dizer... Ah, foda-se!

- Esse argumento foi horrível, Noah! - ele fala, rindo - Mas tá bom, Any e Noah, se vocês querem tanto ir numa festa eu vou!

- Irra! Vou tentar achar uma festa universitária para irmos, qualquer coisa descolo algumas identidades falsas. - Any fala comemorando. Nem parece que minutos atrás estávamos chorando. Josh e eu nos olhamos, rindo da animação da Any.

É bom eles terem aparecido na minha vida, por mais que eu ainda fique receoso por tudo que está acontecendo. Mas eles são uns fodidos na vida, que nem eu, então eles me entendem e não me julgam.

Monster In MeOnde histórias criam vida. Descubra agora