CAPÍTULO 9

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— Muito prazer Arthur, me chamo Clarice. E obrigada mais uma vez.
— Não precisa agradecer.
— É que é tão difícil quando as pessoas que você mais ama te abandonam, é como se você não tivesse importância ou algo assim — diz Clarice.
— Sei como é isso — diz Arthur.
— Eu queria tanto saber como meu filho está agora, aonde ele mora, se tem amigos, como ele está sendo tratado — diz Clarice.
— O que aconteceu com seu filho? — Arthur pergunta.
— É complicado, você não entenderia.
— Minha mãe costuma falar que as coisas sempre se resolvem, seja de um jeito bom ou ruim — diz Arthur.
— E quem é a sua mãe? Alguma filósofa? — pergunta Clarice.
— Na verdade não, a gente tá passando por um momento bem difícil agora, perdi minha vó, e agora voltei pra Greenópolis novamente. Minha mãe não queria mas... eu insisti, sei que vai ser bom pra ela, ela é uma mulher incrível.
— Nunca ouvi um filho falar assim de uma mãe, ela deve ser muito especial pra você.
— É sim, e é tudo que eu tenho agora — diz ele.
— Como se chama sua mãe? Quem sabe a gente já não se conhece, afinal vocês já moraram aqui.
— Anabela Morgan, conhece?
— Não, nunca ouvi falar — Clarice mente, pois na verdade ela tinha acabado de se dá conta com quem estava conversando.
— Estranho, ela era bem conhecida aqui antes — ele diz.
— Posso te dar um abraço? — Clarice pergunta e ele estranha um pouco.
— Tá, ok. Você me parece inofensiva mesmo — ele sorri e em seguida eles se abraçam. Enquanto eles se abraçavam Clarice deixou escapar uma lágrima.
— Você tá bem? Quer que eu chame um táxi pra você? — Arthur pergunta.
— Não. Olha, sobre o que eu disse do meu filho, eu tô bêbada, não faço ideia do que eu tô dizendo, não sei nem se eu me chamo Clarice mesmo — ela mente mais uma vez, não quer ele suspeite de quem ela é caso Ana tenho dito alguma coisa sobre ela.
— Você me parece bem sóbria, mas tudo bem. Agora eu tenho que ir, foi bom conhecer você, é como se nós já nos conhecêssemos — ele diz.
— Concordo com você.
— Tchau, se cuida. E não se preocupa tá? As coisas vão se resolver, sei que é difícil, mas essas coisas fazem parte da vida — diz Arthur.
— Obrigada, tchau.

  Ele acena pra Clarice uma última vez e então vai embora. E Clarice ficou ali em pé, imóvel, não conseguia acreditar no que acabara de acontecer. Ela tinha abraçado e falado com Arthur, era inacreditável. Por um momento ela esqueceu do mundo quando se deu conta quem era ele, mas o pior ainda estava por vir, Clarice ainda tinha que falar pro Miguel sobre o seu filho, e o pior, falar pro Collin. Ela foi embora, e quando chegou em casa encontrou Collin deitado no sofá da sala de estar:

— Oi — diz Clarice ao entrar.
— Clarice! Onde você estava? Eu fiquei preocupado, por que não atendeu as minhas ligações? — Collin pergunta.
— Eu fui na casa dos meus pais, precisava conversar com eles algo importante, e depois fui dar uma volta, pra relaxar um pouco.
— De qualquer forma deveria ter me avisado, eu fiquei preocupado. E o que foi conversar com seus pais? Você saiu da festa sem avisar.
— É exatamente isso o que eu quero te dizer também. E antes de qualquer coisa, eu peço que ouça até o final o que eu tenho pra dizer — diz Clarice séria.
— Você tem certeza que quer conversar agora? Amanhã temos que ir bem cedo pro orfanato receber as crianças.
— Tem que ser agora, eu já perdi tempo demais — diz Clarice.
— Tá bom, pode começar, estou ouvindo — disse Collin.
— Collin, eu tenho um filho. Eu queria poder te falar isso de outra forma, mas acho que não tem outro jeito de explicar isso.
— Um filho? Você só pode estar brincando comigo, você disse que não queria ter filhos, isso não é possível. Ou é? — Collin pergunta sem entender.
— É sim, foi há muito tempo, eu nunca tinha falado pra ninguém, bom, pelo menos até hoje — diz Clarice.
— Eu ainda não consigo acreditar, se isso é verdade, quem é o pai desse seu filho? E onde ele está? — Collin pergunta.
— O Miguel é o pai, foi quando a gente ainda namorava.
— E por que vocês nunca me falaram isso? Eu tô me sentindo um idiota agora, por que você me escondeu isso todos esses anos? Você faz ideia do que fez? Acho que não, né? — ele pergunta decepcionado.
— Ele não sabe que tem um filho.
— Quem é você, Clarice? Por que essa definitivamente não é a pessoa que eu conheci a anos atrás, a Clarice que eu conheço jamais faria algo assim — diz Collin.
— Me perdoa, Collin, por favor. Eu sei que é complicado...
— Onde está o seu filho? O que aconteceu? — Collin pergunta interrompendo Clarice.
— Eu não sei — ela mente — eu o entreguei pra uma mulher que estava na lanchonete, nunca mais o vi depois disso.
— Como você teve coragem de entregar seu bebê? Como pôde ser tão fria? Além de mentirosa é uma tremenda covarde. Sério, só queria um, um motivo, por que fez isso?
— Você sabe que eu não queria ter filhos, na época eu só queria me dedicar a minha carreira, o meu futuro, um filho iria atrapalhar todos os meus planos. Eu não tinha ideia do que eu estava fazendo, eu fui muito egoísta eu sei, mas as coisas mudaram, eu me arrependo tanto que você não faz nem ideia...
— Já chega! — ele grita — não quero ouvir mais uma palavra que venha de você, eu não acredito mais em você...
— Você precisa me ouvir...
— Eu já entendi que você está arrependida, a questão é que você mentiu pra mim, logo pra mim...
— Eu estou te falando a verdade agora, acha que tem sido fácil pra mim conviver com isso todo esse tempo? Meus pais não querem nem me ver mais, acho que eles nunca vão me perdoar por isso — diz Clarice triste.
— Não se faça de vítima! Foi você que mentiu pra todos nós, enganou a todo mundo se passando de boazinha, agora eu entendi o motivo de você querer abrir um orfanato...
— Eu quis abrir um orfanato porque eu quero de verdade ajudar aquelas crianças, e se você e o resto do mundo não acredita em mim... eu não posso fazer nada. Mas eu só queria que pelo menos você acreditasse em mim, eu errei? Sim e muito. Mas eu estou pedindo que me perdoe. Eu só quero começar uma nova página, sem mentiras e sem discussões, mas se você não consegue me perdoar, em entendo — ela diz triste.
— Isso tudo é demais pra mim — ele vai embora, e Clarice não diz nada, ela já tinha entendido a resposta.
  Depois de um tempo Clarice desesperada liga pra Suzi:

Convivendo com o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora