CAPÍTULO 15

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— Muito obrigada por ter aceitado o convite do Arthur,  mesmo você sendo um ser humano desprovido de compreensão você fez um ótimo trabalho — Clarice faz uma pausa — ah, já ia me esquecendo. E mesmo você agindo como uma criança de cinco anos e mesmo que as suas decisões a respeito de certos assuntos sejam pouco plausíveis, eu ainda sou grata por você ter ajudado essas crianças tão especiais — Miguel olha com ódio pra Clarice e apenas entra no seu carro e vai embora.
— É, acho que ele não gostou do que você falou — disse Arthur.
— Eu não ligo pra o que ele pensa — diz Clarice.
— Acho que vocês deveriam parar com essa implicância tola, vocês são adultos, poderiam resolver isso com uma boa conversa.
— Eu já tentei, não adianta. Ele se acha o dono da razão.
— Não entendo vocês, o que aconteceu pra vocês se odiarem tanto assim?
— Na verdade eu não odeio o Miguel tanto assim, eu até entendo ele em algumas partes, mas em outras, eu o detesto, detesto a forma como ele pensa — explicou Clarice.
— Acho que entendo.
— Eu não quero ficar aqui falando do Miguel. O que acha de darmos uma volta e ir tomarmos um café?
— É, acho que você tá precisando mesmo disso.
— Então tá, eu vou pegar a minha bolsa na minha sala e já volto.

  Quando Clarice voltou com a bolsa eles foram caminhando até a cafeteria:

— Acho que eu ainda não tinha passado nessa rua — diz Arthur enquanto andava na calçada da rua — ela é tão bonita, tão cheia de cerejeiras.
— É, eu gosto de passar por aqui.
— E o Collin? Vocês estão juntos de novo?
— Não, somos só amigos agora — respondeu Clarice.
— Ele parece gostar de você de verdade.
— Eu também gosto dele.
— E por qual motivo estão separados?
— É difícil pra mim te explicar isso, eu não saberia nem por onde começar.
— É por causa do Miguel?
— Não! — Clarice respondeu rápido — não é por causa dele.
— Você é uma pessoa extraordinária Clarice, mas parece que você esconde algo, algo que deseja contar, mais não fala porque tem  medo do que os outros vão pensar de você. Estou certo?
— Por que você acha isso?
— Primeiro porque você não fala mais com seus pais, segundo você não está mais com o Collin, e por último você discutiu com o Miguel por um motivo que ninguém sabe. Minha intuição diz que você esconde algo.
— Uau. Estou impressionada com suas conclusões.
— Então eu tenho razão?
— Sim, eu não vou negar, a sua intuição está certa.
— Por que você não fala logo o que é e se livra desse peso? — Clarice fica em silêncio.
— Por medo — diz ela por fim.
— Medo de que?
— Medo de perder as pessoas que eu amo, antes eu achava que se eu falasse a verdade as coisas poderiam melhorar, mas eu estava enganada, só piorou tudo.
— Eu queria muito poder te ajudar. Mas você não vai me perder, eu sempre vou estar do seu lado — Arthur sorri.
— Mesmo se eu mentisse pra você?
— Acho que todo mundo merece uma segunda chance, não é mesmo?
— Sim — ela sorri.
— Então, na minha opinião você deve falar a verdade e esclarecer tudo pras pessoas que você ama, e se elas amarem você de verdade, vão continuar do seu lado independente de qualquer coisa, porque elas  acreditam e amam você.
— Você falando assim tudo parece ser tão fácil.
— E é. Faça a coisa certa Clarice, não deixe que seu medo de magoar as pessoas atrapalhe você.
— Acho que você está certo. Obrigada pelos conselhos — ela sorri.
— Não foi nada, só quis te ajud...
— Por favor — falou um homem velho que estava sentado em um canto da rua.
— Pois não? — perguntou Arthur.
— Você poderia me ajudar? — perguntou o velhinho.
— Claro, o que você precisa? — disse Arthur.
— Arthur, precisamos ir — falou Clarice.
— Precisamos ajudá-lo — diz Arthur.
— É, você está certo, não podemos deixar ele aqui nesse estado — falou Clarice.
— Eu estou com muita fome — falou o homem, ele usava roupas rasgadas e chinelos velhos. Seu olhar mostrava que ele era uma pessoa triste e abatida.
— Tudo bem, vamos levar você pra comer alguma coisa — disse Arthur ajudando-o a levantar.
— O senhor consegue andar? — Clarice pergunta.
— Mais ou menos — ele responde, a voz dele era rouca e arrastada.
— O senhor consegue andar até aquele restaurante? — perguntou Arthur apontando para o restaurante do outro lado da rua.
— Acho que sim.
— Venha, vamos levar o senhor até lá e pagar alguma coisa pra você comer — diz Clarice.
— Muito obrigado, nem sei como agradecer.
— Não precisa nos agradecer — dizia Arthur enquanto eles atravessavam a uma.
— Como o senhor veio parar aqui? O que aconteceu? — perguntou Clarice.
— Eu não sei — ele se esforçava para falar — não lembro o que aconteceu.
— Eu sinto muito — disse ela triste — qual o seu nome?
— Matias.
— Muito prazer, eu sou a Clarice.
— Vamos sentar nessa mesa perto da janela — falou Arthur quando eles chegaram no restaurante.
— Tudo bem — diz Clarice.
— Com licença — disse o gerente ao ver eles adentrando o restaurante — vocês não podem sentar aqui.
— Por que não? — Arthur pergunta sem entender.
— Não com ele — disse o gerente se referindo a Matias.
— Eu não estou entendendo qual é o problema, por que ele não pode sentar conosco? — falou Clarice.
— Senhora, entenda que uma pessoa como ele não é bem-vinda aqui — falou o gerente.
— Por que uma pessoa como ele não é bem-vinda aqui? — protestou Arthur — só porque ele mora nas ruas e não tem um trabalho fixo de onde pode tirar o seu sustento? Isso é um absurdo!
— Por favor, se retirem — falou pacientemente o gerente.
— Você não vai me responder? — diz Arthur.
— Me desculpem, eu acho melhor eu ir embora — disse Matias.
— Não Matias, você não precisa se desculpar — diz Clarice.
— Vocês querem que eu repita ou preferem que eu chame a segurança? — disse o gerente irritado.
— A gente vai embora, vamos procurar um lugar decente pra comer, um lugar onde as pessoas como você  não julguem as outras só por causa da sua classe social, cor ou religião — diz Arthur.
— É, vamos embora — disse Clarice indo embora — estrelinha zero pra vocês — gritou Clarice e todos que estavam no restaurante ouviram e ficaram sem entender o que estava acontecendo.
— Impressionante como ainda existem pessoas ignorantes como ele — comentou Arthur.
— É, e infelizmente não é só ele que pensa dessa forma — disse Clarice — e agora? Pra onde vamos?
— Tem uma lanchonete ali perto daquela loja de brinquedos, podemos ir até lá — disse Arthur.
— Tudo bem se formos em uma lanchonete? — perguntou Clarice a Matias.
— Pra mim tá excelente.
— Ótimo, vamos até lá — disse Arthur.

Convivendo com o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora