— Acho que vai ter que por rodinhas para ele conseguir pelo menos ficar em cima dela. - Meu irmão zomba.
Me sento na calçada de algum vizinho, cansado de todas as tentativas. Limpo o suor que escorria pela minha testa, ainda escutando a risada do meu irmão.
Fiquei feliz pela Ruivinha ter ficado até tarde para eu não correr o risco de passar tanta vergonha com as pessoas andando na rua.
— Dessa vez você andou por .... Dois metros? Já é alguma coisa. - Ela tenta me animar.
— Eu acho que esfolei minhas mãos nesse chão de tanto que cai. - Ironizo.
— Você não tá conseguindo, porque está com medo. - afirma meu irmão, pegando a bicicleta jogada no chão. — Se uma barata entrar no meu quarto e eu ficar com medo de matá-la, ela nunca vai sair.
— Você nunca matou uma barata na sua vida, garoto. -Bufo, achando graça na comparação dele.
— Porque eu tenho você para matar. - Ele se justifica. — Então se você tivesse medo, ela nunca sairia.
Ed se concerta, inclinado a bicicleta na minha direção.
— Acho que já estou ralado o suficiente por hoje. - Invento uma desculpa, minha motivação agora está focada em outra coisa, ou pessoa.
— Posso andar nela então? - Pergunta, claramente mais animado que eu.
— vinte minutos.
— Trinta? - Retruca.
— Vinte e cinco.
Não precisou ser dito mais nada para ele pular em cima dessa coisa que não gosta unicamente da minha pessoa.
A Sam ri, observando meu irmão sair na maior velocidade possível.
— Você foi incrível. - Ela murmura, se sentando ao meu lado. — Para quem nunca andou.
— Me diz uma coisa que eu não sou incrível? - Brinco, ganhando uma gargalhada suave em troca.
— Conselhos péssimos? - Ela sugere, tombando a cabeça para o lado, me olhando.
— São horríveis, mas podem funcionar. - Dou de ombros. — Você pode comprovar isso.
— Quê?
— Naquele dia no boliche, eu disse que transava para esquecer, e advinha só? Você usa muito bem o meu corpinho.
— Ele serve mais do que isso pra mim. - Ela suspira.
— Isso significa que eu sou muito bom?
— Você é um convencido, nada humilde e... não poderia estar mais certo. - Ela diz, pegando uma das minhas mãos. — Não dói?
Pergunta, passando os dados pelos arranhões minúsculos na palma da minha mão.
— Não. - Fixo o olhar nos dedos dela passando pela minha mão cuidadosamente. — Você não deveria ir embora? Está tarde.
— Deveria. - Ela responde de maneira simples, sem dar muita atenção. — Por que você disse que não voltaria para a faculdade naquele dia?
Seus olhos curiosos focam em mim.
— Eu tinha esse sonho bobo da faculdade a muito tempo, mas tive que abrir mão pelo Ed, prometi a mim mesmo que quando eu tivesse condições, tentaria novamente, mas meus sonhos de anos atrás não são o mesmos de agora.
Ela me ouve com atenção com as sobrancelhas franzidas.
— E quais são seus sonhos agora?
Desvio o olhar dela, tentando pensar em algo, depois de alguns segundos em silêncio eu percebi que sou um homem sem sonhos.
— Acho que nenhum.
— Isso me parece deprimente. - Sam murmura, olhando para frente. — Eu também não.
— Acho que demos tudo de nós para as pessoas em nossa volta e nos perdemos por completo. - Suspiro, vendo meu irmão andando de um lado para o outro com a bicicleta, como se fosse a coisa mais legal do mundo. — Mas eu faria tudo de novo.
— Ele tem sorte de ter você. - Ela comenta, olhando para o mesmo lugar que eu.
— Ou ao contrário, Já pensou eu ter que viver tudo sozinho? Seria mil vezes mais triste.
— Dois sortudos então. - Ela me olha. — Vou sentir sua falta lá, quem mais vai me distrair nas aulas chatas?
— Está tentando me comover? -Pergunto num tom sarcástico, me levantando logo em seguida.
— Eu? Jamais. - Ela responde no mesmo tom. — Acho que essa é a hora que eu me despeço de você.
Acho que era para ser uma afirmação, mas soou como uma lamentação.
— Poxa, Quem vai me consolar caso eu fique muito triste? - Faço a mesmo que ela, ganhando uma sorriso travesso em troca.
— Já que você insiste, não precisa se ajoelhar.
— Depois eu sou o convencido.
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Tudo de mim
عاطفيةSPIN-OFF de MFDTA Eram de mundos diferentes, tinham dores diferentes, tinham vidas diferentes, eram completamente diferentes um do outro. Talvez a única coisa que tinham em comum, era o desejo nítido nos dois. A doçura que ela esbanjava o confundia...