R E C O M E Ç O

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Marcus mal podia acreditar que estava voltando a sua antiga casa. Ele não conteve a alegria em massa que o invadiu ao ver de novo a bela casa com varanda para a cidade onde ele passava noites olhando e pensando na vida. Logo que entrou foi ao seu quarto. Lá, se lembrou com clareza daquele dia onde tudo começou. Se lembrou da porta do quarto abrindo de manhã bem cedo com sua mãe o acordando para ir a escola. Da ida e volta pra casa com David conversando sobre planos e vontades, e consequentemente da morte do homem naquele beco sem saída em uma rua qualquer escura da vila Mariana. Foram três anos sem ver de novo a vista de seu quarto, três anos sem a falta de vontade de sair da cama pra repetir a mesma rotina diária, e três anos sem o cheiro de flores que sempre entrava pela porta da varanda que ele deixava aberta escondido. Toda a sensação era tão viva aos olhos de dope que ele quase podia se ver levantando dali de manhã. Mas mesmo que agora estivesse de volta Marcus, sabia que nada mais seria como antes. Ele não veria mais a vista de sua varanda do mesmo jeito, ele não iria mais a escola e não sentiria os cheiros da manhã com a mesma perspectiva. Marcus tinha tudo e ao mesmo tempo nada de volta.
- vamos tomar um café filho?
- ah, vamos sim mãe, eu já tô indo.
Já na mesa da cozinha, Marcus podia notar a felicidade estampada no rosto de sua mãe. Ele estava feliz por ela, não deve ter sido nada fácil ver seu filho ser acusado de morte e preso da noite pro dia.
- eu estou tão feliz que você esteja de volta meu filho, não faz noção do quanto fico aliviada. Aquele lugar deve ter sido horrível.
- com certeza foi mãe, e a senhora tá trabalhando?
- tô, na verdade sua avó tinha um bom dinheiro guardado no banco e me deixou como herança. Sendo assim as contas estão todas em dia e tenho ganhado meu salário direitinho.
- isso é ótimo! Você acha que eu devo ficar aqui com você?
- você cresceu filho, só eu não tinha percebido isso ainda, já é um homem que tem suas responsabilidades e eu não vou me envolver nisso, além do mais seus amigos tem uma proposta para você bem interessante e acho que você vai gostar. Se quiser ficar aqui eu vou adorar, mas sei que você já é um passarinho pronto pra voar e traçar seu próprio caminho. E eu não vou me meter nisso.
- poxa mãe, isso é incrível. Eu não esperava isso de você que foi sempre tão protetora.
Enquanto passava geleia na torrada em seu prato, Michele respirou fundo e disse a Marcus.
- então filho, tenho algo a te falar...
- pode dizer mãe, o que é?
- seu pai. Ele tá vindo te ver.
- o quê? Meu pai? O que ele quer comigo? A gente só sabe brigar quando se vê.
- é eu sei filho, mas seu pai passou esses anos muito preocupado com você, sabe ele... Ele acordou e percebeu que não quer passar a vida brigado com o próprio filho. Ele quer ficar de bem com você.
- é, eu só não sei se eu quero ficar de bem com ele.
- bom isso não é um assunto meu então, não posso opinar, porém ele é seu pai e tem direito de conversar com você, acho que deveria ouvir o que ele tem a dizer.
- tá certo, eu vou pensar nisso. Quando ele vem?
- não sei ainda, de qualquer forma quando ele estiver em são Paulo ele te avisa ou me avisa não sei.
- ok. Então eu vou ver o que aqueles dois tem pra me falar que é tão interessante. Com licença mãe.
- toda.
Marcus então foi em direção a sua varanda onde David e Abner esperavam meio ansiosos.
- muito bem, cheguei. Minha mãe disse que vocês queriam falar comigo, o que que é?
- então Marcus, lembra quando fui te visitar na prisão e disse que tinha uns planos aqui? Pois é. Eu e o David resolvemos nos unir pra fazer algo bacana.
- uau, vocês dois se uniram? São tão diferentes Marcus riu enquanto David e Abner se encararam sem saber a graça.
- bem, o negócio é o seguinte, Abner me disse que estava bolando alguma coisa sobre música pra vocês fazerem, então eu sugeri que vocês formassem uma dupla mas ele disse que seria cafona demais, então ele quis pensar em algo mais moderno, e então pensa que um coletivo seria o ideal.
- é isso aí Marcus, um coletivo de rap que tal? Ou de trap, os trapstars da parada!
- olha, eu acho maneiro. Tava querendo tentar uma carreira no trap mesmo. Me parece uma ótima ideia. Mas, onde vamos formar isso, vai ser tipo trabalho de escola que a gente se encontra uma vez ou outra na casa de alguém?
- que nada cara com isso pode ficar tranquilo. Bem minha mãe... Minha mãe faleceu, e eu assumi o comando da nossa empresa, e resolvi mudar, trazer pro novo mundo sabe. Quando esses velhos morrerem as pessoas não vão mais ligar pra investimentos e vai dar pra fazer tudo pela internet, eu não posso dar bobeira e deixar a empresa falir. Por isso eu peguei meus acionistas e mudei nosso tema, a empresa está aos poucos mudando para uma grande loja de produtos variados, com um design próprio e único que eu mesmo projetei.
- então David, dá pra chegar na parte que o Marcus quer ouvir?
- ah claro. Então, eu como o presidente da empresa resolvi investir em vocês. Eu dei uma olhada nos outros garotos e eles tem potencial vai por mim. Sendo assim vocês serão como os garotos propaganda da empresa,quando vocês chegarem no topo, a  empresa chega também.
- isso é incrível! Mas tipo e...
- pode ficar tranquilo, eu comprei uma casa só para vocês morarem, sendo assim poderão ficar até tarde produzindo e fazendo música como sei que vão querer fazer. Sem se preocupar com a sua mãe querendo que você vá dormir pra acordar cedo por exemplo.
- caralho! Vocês pensaram em tudo mesmo!
- somos geniais né?? Já sinto o cheiro do sucesso e do dinheiro vindo mano.
- e eu sinto o cheiro de uma empresa decolando junto com a carreira de vocês. Bom, eu vou deixar vocês um pouco a sós e tô lá no carro esperando pra levar vocês até a tal casa. Abner já conheceu e estava só esperando você.
- valeu cara.
Abner então pegou um cigarro e acendeu, enquanto olhavam pro horizonte pela varanda de Marcus.
- ou, dá um cigarro ai.
- ué, desde quando você fuma?
- não fumo, mas quero começar.
- tá certo né?
Abner deu um cigarro para dope que acendeu, e soltou uma fumaça pra cima.
- então, tá pronto pra isso? Deve estar sendo muito louco ver tanta coisa acontecer né.
- é. Tá sendo sim, mas eu tô pronto pro que vier cara. Eu vou ser o maior trapstar do Brasil... Não se esqueça disso!
Abner olhou pra Marcus e sorriu de canto.

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