Capítulo 17: Come back for me

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Capítulo 17: Come back for me 
Cinderela 

        Eu estou sentada na mesma janela de sempre, aquela janela enorme que sempre me mostra um paraíso na minha esquina, um paraíso que não consigo alcançar. É ali que meus pensamentos voam, é ali que minha voz é ouvida por mim mesma, é ali que o silêncio é tão grande que consigo escutar cada batida do meu coração, eu as escuto e conto, as escuto e conto, as escuto e conto. Eu não estou bem, mas eu estou viva. São dez horas da manhã de um sábado de inverno, o tempo não está tão frio, entretanto a temperatura encontra-se agradável para se usar um casaquinho leve cobrindo meus ombros. Eu já estou ali desde cinco horas da manhã, quando acordei de um dos meus pesadelos de sempre. Nesse mês os pesadelos são mais corriqueiros que o normal, e eu quase nem consigo dormir durante a noite. 
        Eu estava com a minha barbie na mão, uma barbie engraçadinha e bonita, meu vestido era lilás e eu corria pela casa com a boneca na mão, subia as escadas gritando por minha mãe. Meu desespero era notável em minha voz de criança, eu corria e corria até chegar ao quarto dela. Ela estava lá sentada na cama com o rosto levemente preocupado, segurava alguns papéis dos quais eu não tinha noção do que estava escrito neles. Eu subia na cama desesperadamente e meus olhos estavam cheios de água, eu estava triste. 
— Mãe! Eu odeio o meu nome! Odeio! —  Eu gritei muito estressada, deveria ter uns sete ou oito anos de idade. 
— Cinderela, o seu nome é lindo. Por que está dizendo isso? — Com a voz calma e sem tirar os olhos dos papéis, minha mãe questionou o meu descontentamento. 
— Porque todo mundo ri de mim, me chamam de gata borroqueira. Eu não gosto mãe! — Minha voz saiu fina em meio as lágrimas, a boneca estava pressionada em meu peito como se eu estivesse apelando para que ela me ouvisse. 
— É borralheira meu amor. E seu nome é lindo. Cinderela! — O som de sua voz sai feliz e contente, ela juntou todos os papéis em uma pilha e os colocou em cima da sua escrivaninha, em seguida sentou-se novamente na cama e me puxou para perto de si, me fazendo deitar em seu colo quente e suave.
— Você sabe qual é a história do seu nome? — Me perguntou com um leve sorriso no rosto.
—  Já sei, a história da princesa chata. Não gosto dessa princesa mãe. —  Permanecia aborrecida, todavia ela tocou em meus cabelos e isso começou a me deixar levemente mais tranquila.
— Não é essa a história do seu nome. Eu escolhi Cinderela porque me lembra a esperança e a alegria mesmo nas horas mais difíceis, porque mostra que a magia existe e que os sonhos por mais remotos que sejam podem se tornar realidade. A Cinderela representa toda a força que tem um sonho, e que a partir dele tudo pode ser possível. Seu nome não é de uma princesa, é de uma guerreira. — Essas palavras me acalmaram, eu fiquei tão feliz em saber que eu poderia ser uma guerreira, que poderia fazer tudo o que eu quisesse, que meus sonhos, seriam todos, um dia a minha realidade. Eu me levantei e a abracei bem forte, minha mãe se deitou na cama com o meu corpinho em cima do seu, eu comecei a bagunçar seus longos cabelos loiros e ela riu para mim. Mas depois desse breve momento de felicidade, seus olhos se fecharam e eu gritei tanto para que ela acordasse, porém ela não me escutava mais, ela não respirava mais, ela morreu, ela morreu de novo.

        Quando alguém se vai de nossa vida, essa pessoa não se vai apenas uma única vez, cada lembrança, cada sorriso, cada momento vivido juntos trazem consigo a lembrança diária de que essa pessoa não está mais aqui, e mesmo que eles te façam sorrir por um breve tempo, eles te assombram porque a escuridão vem junto com eles. Não há como mudar isso, o que nos resta é viver com as lembranças e aguentar a dor, mesmo quando não se pode mais.

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        Tento não recordar do pesadelo, tento não lembrar de nada que me assombra, tento ser feliz, mas parece que nada vai apagar essa dor de mim. Por mais que eu não queira, eu preciso admitir que não aceito que ela se foi, não aceito que ela teve que morrer, e isso me assombra, me aterroriza, me invade e eu não consigo ser mais eu, eu sou o meu próprio medo. Então, perdida mais uma vez em meus pensamentos, ouço uma voz a me chamar, procuro pelo meu quarto a voz, contudo não a encontro. Em seguida porém, percebo quem me chama e onde está. Aqueles olhos incrivelmente azuis, seus cabelos pretos lisos estão voando junto com o vento e ele está me olhando do meu quintal, ele sorri pra mim quando o meu olhar encontra o dele. 
— Jogue suas tranças! — Grita em meio a um sorriso encantador. 
— Acho que confundiu as histórias! — Respondo com uma risada espontânea. 
— Tanto faz, são todas princesas mesmo!

4 Amigas e os Passos de CinderelaOnde histórias criam vida. Descubra agora