Capítulo 18: Um outro lado do mundo

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Capítulo 18: Um mundo nada fantástico
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— Aham mãe, mais uma vez você não virá ao Brasil, já faz mais de um ano que a gente não se vê. — Não aguento mais essas conversas por Skype, sempre me deixa triste conversar com a minha mãe. 
— Querida, seu pai tem precisado muito de mim. — Ela diz com aquele seu sorriso amarelado e contido de sempre, seus cabelos estão mais escuros e a maquiagem pesada do oriente deixa ela um pouco mais velha. 
— Mãe, primeiro ele não é meu pai e segundo ele tem mais de 10 esposas! Acha mesmo que ele precisa tanto assim de você? — Reclamo em voz alta, e agradeço por nenhuma de suas damas de companhia falar o nosso idioma. 
— Querida, ele tem oito esposas e me ama e precisa de todas nós aqui. Bem que você poderia passar o ano novo conosco benzinho. — Ah como eu odeio que ela me chame assim, e ela sabe perfeitamente disso, mas adora me provocar. 
— Mãe, já disse que vou viajar com os meus amigos, e você sabe que eu odeio quando vocês tentam me casar toda vez que vou pra aí, sem contar que meu árabe está péssimo. — Concluo numa tentativa racional de fazer com que ela jamais pense na ideia de eu viajar pra lá. O problema não é visitar os lugares paradisíacos do Oriente, a questão é que eles me prendem lá por mais tempo do que eu gostaria, as pessoas me olham estranho e eu odeio aquelas roupas com todo o meu ser.
— Queridinha de mãe, você sabe que estamos morrendo de saudades de você, seu pai te ama muito, mas se quer realmente passar com seus amigos a gente entende. — Ela sorri como se tivesse me fazendo um agrado ou algo do tipo. 
— Mãe, eu já disse que ele não é meu pai, e ele tem 23 filhas que moram com ele, duvido muito que se lembre da minha existência ou que me ame tanto assim, ele nem aparece no Skype quando você me chama para conversar. Sinceramente eu estou atrasada, tenho que sair. Beijos. — Ela não tenta me convencer do contrário, sabe perfeitamente que o homem que ela tenta me convencer de que é meu pai é extremamente ocupado e que provavelmente quer mais é que ela esqueça de mim, sou a brasileira, que não quer casar e nem viver da cultura islã. Sou a menos querida de todas. 
— Tudo bem, boas aulas! Você está de parabéns na escola, estamos orgulhosos de você! — Ela diz sorrindo. 
— Ok. — Dou um meio sorriso e bato a tela do notebook com raiva.
        Desde dos meus dois anos eu moro com minha vó, durante muito tempo acreditei nas histórias de minha mãe, de que ela e meu fajuto pai não queriam me forçar a viver na cultura islã e por isso não me levariam para viver com eles. Foi duro pra mim entender que não podia viver com meus pais como todas as outras crianças viviam, até que quando fiz quinze anos minha vó me contou toda a verdade. O fato é que não sei quem é o meu pai, apenas a minha mãe sabe, minha avó tentou de todas as formas descobrir, mas ela não diz de maneira nenhuma, vive mentindo, e por algum motivo que não se chama amor se casou com esse sheik arábe. Não gosto de contar nada da minha vida para ninguém, as pessoas acham que sou filha desse sheik, mas não sou, elas nem sabem meu verdadeiro nome. É mais fácil para mim que as pessoas saibam uma história fantasiosa, do que a verdadeira história sobre mim, a história da menina que não sabe quem ela é, nem quem é o seu pai. Então, esse é mais um dia brilhante para mim, desço as escadas com pressa para o café, minha vó já está sentada a mesa me esperando. Jogo minha mochila no chão e me sento para inciar o meu café da manhã. 
—  Mais uma conversa divina com sua mãe? — Pergunta minha vó tomando seu chá. 
— Das mais extraordinárias.— Queixo-me sem ressentimento algum. Minha vó é a pessoa mais doce e compreensiva
— Sua mãe sempre foi assim, aventureira e destemida. Já você puxou a mim, não gosta de ficar se misturando com tudo, prefere viver na sua cultura. — Minha vó tinha toda razão, somos muito parecidas, Comemos nos mesmos horários, gostamos de viver na nossa cultura e odiamos quando alguém nos deixa de lado, como minha mãe fez com nós duas. 
— É, ela queria que eu passasse o ano novo lá, e provavelmente faria de tudo para eu começar o ano casada com um árabe chato. — Tomo meu chá e dou uma risada ao ver a expressão divertida no semblante de minha vó. 
— São todos doidos mesmo. —  Seu desdém me deixou relaxada. 
—  Bom vózinha, se continuar essa conversa vou chegar atrasada na escola. — Beijei sua testa e corri para fora de casa. O Tomas, meu motorista já estava a minha espera, entrei no carro e parti para um de meus refúgios, não o preferido, mas pelo menos me faz esquecer da minha vida entre mundos. 

4 Amigas e os Passos de CinderelaOnde histórias criam vida. Descubra agora