Capítulo 4 - Bem-vindos à Poema

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Os sinuosos caminhos da alta cordilheira pareciam não ter fim enquanto Nora e Ari os percorriam, em busca das planícies que vislumbravam à distância. O estreito caminho na montanha consistia em sólidas lajes de pedra, firmemente assentadas no solo com uma misteriosa argamassa. O cenário rochoso se misturava a estranhos cartazes e placas de trânsito que pareciam fora de lugar.

Diferentemente do asfalto familiar, eles caminhavam sobre pedras irregulares, com uma leve brisa soprando do sul, atingindo-os de lado enquanto trilhavam seu caminho.

O velho sábio que os guiava raramente falava. Em vez disso, ele cantarolava mantras e murmurava palavras ininteligíveis, ignorando completamente os questionamentos e temores de seus seguidores.

Nora e Ari, como que hipnotizados, continuavam seguindo o misterioso mentor. À medida que avançavam, sem perceber, encontraram-se em uma clareira, uma pequena porção de bosque cercada por árvores altas e curvadas. Acima de suas cabeças, a lua vermelha lançava sombras distorcidas sobre a vegetação rala sob seus pés.

A tensão aumentou quando Ari questionou Nora com raiva e medo evidentes em sua voz, culpando-a pelo inexplicável acontecimento que os trouxera até aquele lugar desconhecido.

Nora, com as palmas das mãos ainda queimando do repentino aumento de temperatura de seu telefone, defendeu-se prontamente:

— Eu não fiz nada! É surreal, ainda estou tentando entender onde estamos e como viemos parar aqui — disse, visivelmente chocada.

Perdidos e assustados, eles olharam em volta, tentando encontrar algum sinal de civilização que pudesse ajudá-los a entender sua localização. A lua vermelha no céu noturno parecia um presságio sombrio de que algo estava profundamente errado, causando arrepios na espinha de Nora, como garras invisíveis percorrendo sua pele.

A tensão entre os dois amigos atingiu o ápice quando Nora acusou Ari:

— Isso é tudo culpa sua.Ari parou abruptamente, encarando Nora com os braços cruzados, sua expressão uma mistura de raiva e incredulidade:

— Você está brincando, não está? Como eu poderia ter alguma culpa nisso?Nora, com uma expressão indiferente, encolheu os ombros:

— Parece óbvio que você não queria me ajudar a descobrir quem escreveu aquela poesia...

Ari bufou, sua paciência chegando ao limite. Ele avançou em direção a Nora, ficando tão perto dela a ponto de intimidá-la. No entanto, Nora não se mostrou assustada e respondeu com um sorriso cínico e um erguer de sobrancelhas provocador:

— Você acha mesmo que eu, se tivesse a capacidade de abrir um portal e te jogar no meio do nada, viria junto?O velho sábio, observando a tensão entre os jovens, interveio com uma expressão julgadora, pedindo silêncio sem dizer uma palavra.

Enquanto Nora e Ari trocavam acusações, um panfleto sujo e encharcado de muco foi trazido pelo vento e pousou no chão em frente a eles. O panfleto continha uma mensagem perturbadora: "Procura-se desertor Kahuan Lopes: vivo ou morto."

Nora pegou o panfleto imundo e começou a limpá-lo com parte de sua blusa. Ela desconfiava que aquele panfleto tinha um propósito, talvez uma mensagem do universo.O velho sábio de chapéu peculiar, que estava tentando abrir uma caixa, interrompeu a discussão:

— Parem de se questionar — ele disse.
— Podem simplesmente me acompanhar?Com medo e confusão, Nora desabou em lágrimas:
— Por favor, precisamos da sua ajuda. Não sabemos onde estamos... O que está acontecendo?Ari, vendo Nora em um estado de desespero, a abraçou com força e tentou acalmá-la:
— Nora, calma! Vamos sair dessa, nada vai acontecer. Estou aqui! Não sei como viemos parar aqui ou por quê, mas eu te garanto que enquanto eu estiver aqui, não vou desistir de encontrar uma maneira de voltarmos, está bem?Nora, sentindo-se protegida e reconfortada nos braços de Ari, respondeu com gratidão:
— Tudo bem, você é muito legal.Enquanto as emoções se intensificavam entre os dois, o velho sábio, aparentemente pensativo, interrompeu seus devaneios:
— Vocês são irmãos? Vocês se parecem bastante, fariam um ótimo casal...A resposta de Nora foi imediata e decisiva:
— Não! De jeito nenhum. Ele é muito idiota e não faz o meu tipo...Ari, incomodado com a resposta, tentou amenizar a situação:
— Não precisa ser tão rude, Nora.Dirigindo-se ao velho sábio, Ari levantou-se do chão onde estava sentado e perguntou:
— Então, o que realmente precisamos fazer aqui? Qual é o nosso propósito?O velho sábio refletiu por um momento antes de responder:
— Vocês terão que lutar corajosamente um pelo outro. Poema é um mundo onde tudo pode acontecer. Vocês podem se deparar com sereias, bruxas ou até mesmo enfrentar as próprias palavras...Essas palavras deixaram Ari e Nora ainda mais perplexos e preocupados. O que estava reservado para eles em Poema era um mistério, e eles não tinham escolha senão seguir em frente, com o sábio como guia.

Por fim, o sábio acendeu uma fogueira na beira da trilha, oferecendo-lhes um refúgio contra o frio da noite. Nora, com medo, continuou a se questionar sobre as ameaças que o sábio mencionara, como bruxas e sereias. O medo começou a se infiltrar em sua mente, mas ela se forçou a se manter firme.

Desesperada, Nora gritou:
— Como assim? Você está ficando louco? Quem é você, afinal? Qual é o seu nome?O velho sábio, chamando-se Gonçalves Dias, sussurrou em seu ouvido:

— Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá. As aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá...Subitamente, Nora acordou em um quarto familiar, o quarto de Ari Stocco. Ela se levantou do chão empoeirado, onde havia papéis de bala e pacotes de salgadinhos vazios.

Com a mente turva e confusa, Nora se esforçou para compreender o que havia acontecido. Antes que pudesse chegar a uma conclusão, a porta se abriu, revelando Ari.

Nora, sobressaltada e confusa, pegou o controle remoto que estava sobre o teclado do computador, mas o arremessou inadvertidamente em direção a Ari.

Ari desviou-se a tempo, enquanto Nora estava atônita com o arremesso involuntário. Ela não conseguia entender como aquilo acontecera.

Ari, preocupado com o comportamento estranho de Nora, perguntou:

— O que está acontecendo com você, Nora? Você precisa me contar o que aconteceu...
Nora, lutando para sair do estado de sonolência, ficou assustada e fugiu do quarto em pânico.

Na rua que levava à casa dos Stocco, Nora corria desesperadamente, com o celular em mãos. Ela começou a lembrar-se de sua experiência anterior, quando havia adormecido no quarto de Ari.

A noite já estava quase acabando, o vento soprava persistentemente e as luzes amareladas da iluminação pública competiam com o brilho da lua cheia.

Em sua pressa, Nora tropeçou e caiu de rosto no chão. Seu celular foi arremessado, e uma luz dourada começou a brilhar, anunciando a abertura de um novo portal.
Ari, que a seguira curiosamente, tentou agarrá-la, mas foi tarde demais. Nora desapareceu no portal antes que ele pudesse detê-la.

Enquanto Nora caía novamente no lago gélido de Poema, Ari ficou perplexo, tentando encontrar uma explicação para tudo o que havia acontecido e desesperado para encontrar sua amiga em algum lugar desse mundo estranho e perigoso.

Assim, a jornada de Nora e Ari em Poema continuava, repleta de mistério e desafios, enquanto eles lutavam para entender a natureza deste mundo e encontrar um caminho de volta para casa.

Poemas: Sociedade dos poetas uivantesOnde histórias criam vida. Descubra agora