Era Pra Ser

O Melhor Verso de Todos - As Linhas, Os Sons e Os Movimentos

É tudo uma questão de assumir as consequências das decisões que tomamos. E hoje percebo que, apesar de tudo o que sinto, você foi o meu pior erro. Não vou ficar aqui sentado reclamando de tudo o que escolher ficar do teu lado me causou. Porque no fim das contas, não foi teu sorriso, tua voz ou tua inconsequência que me trouxeram aqui. Foram minhas escolhas. Te ouvir, tentar te entender, fumar teu cigarro, tomar da tua tequila, foram somente algumas das decisões que eu tomei que deram um pontapé inicial para a merda que eu estou hoje. Você sempre foi contramão, velocidade, inconstância. Eu sempre fui certeza, tranquilidade, abraço apertado. Mas naquela noite Victor, eu poderia jurar que você era feito pra mim.

Depois de passar um dia todo distante de todos, eu pude conhecer um pouco mais de você. E quanto mais eu me aproximava, mais eu me surpreendia. No fim da tarde, quando voltamos pra cidade, eu realmente não sabia o que esperar, mas segurar na tua cintura e furar todos os sinais vermelhos até voltarmos para sua casa, foi a melhor decisão que eu poderia tomar.

Você abriu a porta e entramos. Passamos por uma moça que estava sentada na sala.

"Boa noite, Ana!" - Você disse.

Ela abriu um sorriso lindo, olhou pra nós e disse:

"Boa noite meu querido!" - E se virou pra mim - "Quem é esse rapaz bonito, Victor?"

"Um amigo da faculdade" - Você respondeu, seco.

Fui até ela, estendi a mão.

"Lorenzo Ribeiro, prazer em conhecê-la"

Ela apertou minha mão, e com a voz grave e suave, respondeu educadamente. Quando estávamos subindo as escadas, ainda ouvimos a voz dela.

"Cuidado, vocês dois. Principalmente você, Victor!"

Eu realmente não entendi o que Ana queria dizer com aquilo, mas não me importei. Ela me parecia ser do tipo que abraça o mundo e cura feridas, ao contrário de você. Olhei pra trás e ela piscou pra mim e sorriu novamente. Foi então que eu percebi que tinha tomado a decisão correta, estar com você, no seu quarto, naquela noite.

Quando chegamos na porta do seu quarto você parou por um momento e me olhou como se fosse me contar o maior segredo do mundo.

"Olha, não quero que ache que sou louco, nem que fique de mimimi. Depois de uma fase tensa da minha vida eu resolvi construir um lugar onde eu pudesse ficar em paz. E fora a Ana, você é tipo... a primeira pessoa que entra aqui!" - Você sorriu, constrangido.

Senti a minha espinha gelar. Talvez porque eu finalmente chegaria mais perto de você. Talvez porque conhecer quem você é de verdade pudesse mudar minha vida, ou talvez só porque aqueles teus grandes olhos arregalados e assustados fossem a coisa mais linda que eu já tinha visto no mundo. Assenti com a cabeça e você abriu a porta.

Dei alguns passos, estava tudo escuro até que você apertou o interruptor. De repente, centenas de minilâmpadas se acenderam ao longo dos cantos das paredes e teto, formando uma espécie de céu dentro do teu quarto. Boquiaberto eu olhava as paredes de fundo branco repletas de textos e letras de música que se estendiam desde a extremidade superior até o rodapé. Poesias, contos, música popular brasileira, tudo escrito à mão com tinta preta, eu realmente não acreditava. Ao longo do teto, notava-se várias imagens que depois de alguns segundos percebi que eram capas de álbuns famosos. Não qualquer tipo de música que você ouve na parada mensal e nunca mais vê em lugar algum. Eram clássicos. Nirvana, Johnny Cash, The Strokes, Legião Urbana... Se aquele era teu mundo Victor, a partir daquela noite eu queria viver nele contigo.

"Que porra é essa?" - Perguntei completamente maravilhado.

"Gostou?" - Você disse, sorrindo, com certeza já sabia a resposta.