Capítulo 23

27 2 0
                                    

Conseguia ouvir de longe o que falavam sobre minha situação. Pelo visto a bala que atingiu a minha perna atravessou para o outro lado, por isso a quantidade maior de sangue que estava saindo. A do meu ombro estava alojada pois não tinha marca de saída e eu passaria por uma pequena cirurgia. 

Fizeram uma limpeza na minha ferida, colocaram acesso e me levaram para fazer a averiguação do ferimento da coxa e sutura já que por sorte não atingiu a artéria principal e nenhuma veia importante. No caso da bala do ombro, fizeram uma limpeza e colocaram apenas um curativo para poder fazer um raio x enquanto preparavam a sala de cirurgia. 

A dor ainda estava forte mas eu já tinha me restabelecido com o soro e os medicamentos aplicados, Como procedimento padrão, a enfermeira fez as perguntas de praxe para o meu prontuário, se tinha alguma alergia a medicamento, algum problema de saúde hereditário e claro, se haveria a possibilidade de eu estar grávida. 

Para todas as perguntas as respostas foram negativas, mesmo assim, o médico pediu alguns exames de sangue para verificar se não tinha nenhuma inconsistência principalmente porque vou ter que passar por um exame de raio x. 

A cara do Daniel estava péssima enquanto aguardava a enfermeira ao meu lado, ele havia chorado, seus olhos estavam vermelhos e estava abatido. Já estava sem o blazer, somente com a camisa azul com algumas manchas de sangue, sua calça estava com uma marcação enorme de sangue na coxa.

Você está horrível! - disse para ele.

Você me passa medo, lógico que estou. Não era seu serviço me proteger.

Força do hábito.

Descansa, um pouco. Me perguntaram uma coisa e eu não soube responder. Você comeu hoje? - em seus olhos se viam medo. 

Acho que sim, não me lembro. Acho que comi um pedaço de torta hoje de manhã, não ando me sentindo bem a alguns dias. - confessei.

E você não me conta nada?! - agora com pavor em seus olhos.

Não achei que fosse nada demais. Não se preocupe. Por favor. - supliquei. 

Não deixe de me contar nada, eu me preocupo com sua saúde e seu bem estar. 


Balancei a cabeça em positivo e peguei num sono leve por alguns minutos. Não sei exatamente por quanto tempo dormi, mas me senti melhor depois do cochilo, foi bem no momento que vi Daniel conversando com alguns policiais dando seu depoimento e o médico estava com os exames em sua mão, poderia dizer que não me deixou preocupada mas estaria mentindo porque a cara dele não estava tão amigável.

Pedindo licença ao policial, Daniel e o médico entraram na sala silenciosamente se aproximando da cama em que eu estava. 

Estou com resultado dos exames e tenho uma notícia muito boa. A senhora não tem nenhum problema de saúde preexistente, mas algumas vitaminas estão um pouco baixas pela situação em que a senhora se encontra no momento. Vai precisar de uma nova dieta e talvez alguns medicamentos para ajudar mas não se preocupe, não é nada alarmante. O raio X também não interfere na sua condição, não fará nenhum mal, pode ficar tranquila, o seu bebê está muito bem. 

O QUÊ? - dizemos em coral. 

Como procedimento, fizemos um teste de gravidez sanguíneo que deu positivo. Ainda é bem recente, mas está tudo indo bem. Vai precisar apenas de algumas vitaminas. Vamos levá-la para tirar o raio x e verificar a localização da bala para poder retirá-la. Parabéns e vocês tiveram muita sorte! - deixando os exames com a enfermeira que fez a alteração no meu prontuário saindo em seguida para averiguar a sala do raio x.

Eu estou ficando louca? - ainda não acreditando na notícia. 

Mesmo nessa situação, essa é a melhor notícia que eu poderia receber.

O que? Não, isso não pode estar acontecendo, eu to sonhando ainda. - resmunguei.

Não diz isso. - ele estava desapontado. 

Dan, é tão recente nossa relação. Eu não queria que fosse assim, não agora. - respondi com um nó na garganta. Droga! Só foi saber da notícia que fiquei emotiva.

Eu sou o homem mais feliz desse mundo! Eu te amo mais que tudo e agora você carrega um filho meu! - seu sorriso derreteu meu coração. 


Fui levada para a sala de raio x e após para o centro cirúrgico alguns minutos depois da notícia que mudou minha vida para sempre. Ainda não conseguia digerir aquela informação, mil e uma perguntas, dúvidas e medos na minha mente. Primeiro, como iria contar para os meus pais essa notícia? Meu pai iria dar um troço e minha mãe? Nem sei por onde começar.

Horas depois, eu estava no apartamento com meu braço imobilizado, minha perna enfaixada e meu cabelo uma bagunça. Ouvi o som de alguém ao telefone, ainda que longe, quando consegui me situar realmente, visualizei Daniel já com roupas limpas ao telefone. Ele estava de camiseta com mangas longas cinza, calças jeans e o cabelo penteado para trás, concentrado enquanto respondia a quem ele estivesse conversando. Notando que eu acordei, veio em minha direção.

Oi minha linda, que bom que acordou. Como está se sentindo? - perguntou com a voz rouca e baixa.

Estou bem, na medida do possível. Não sinto dor, somente o incomodo da cama mesmo. Eu devo estar horrível. 

Engraçada na verdade. O médico disse que por sorte não pegou nenhuma área perigosa, mas foi por pouco. Ele pediu para tomar cuidado com a forma que você se mexe, pelo menos até cicatrizar melhor. - disse segurando minha mão livre com os olhos preocupados.

Com quem você estava ao telefone? - indaguei.

Com seus pais. Falei com seu pai pois sua mãe começou a chorar e não conseguiu me ouvir. 

Eles devem ter surtado.

Eu expliquei o que aconteceu conosco e que a polícia já está investigando. O seu pai disse que quer conversar comigo de homem para homem e sua mãe começou a surtar nos primeiros minutos que comecei a falar com ela. - disse rindo.

Você contou sobre o bebê? - perguntei até com medo da resposta.

Não, isso nós temos que contar pessoalmente, disse apenas que assim que estivesse de alta iríamos visitá-los. - ele me respondeu ainda sorrindo.

Que alivio. Ainda estou pensando em como fazer isso. 

Vamos resolver isso juntos. - me deu um beijo na testa. 


Agora era esperar me recuperar para poder receber alta e voltar para minha casa. Me animou fazer essa visita aos meus pais, eu sentia falta deles, do carinho, do amor, das broncas, só estou com medo da reação deles. 

Segurança ParticularOnde histórias criam vida. Descubra agora