Eros e Psique- Cap III

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Dentro da construção, a riqueza não deixava a desejar em relação à parte externa

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Dentro da construção, a riqueza não deixava a desejar em relação à parte externa. Colunas internas tão ricas quanto as do lado de fora, sustentavam um teto abobadado pincelado de afrescos e relevos, ressaltando arabescos florais. Tomada de espanto e admiração, a donzela segue entre as mesmas, virando-se em torno dela própria para examinar cada detalhe da magnífica arquitetura que se apresentava ao redor.
Psique sente-se pequena diante de toda aquela majestosidade divina. Também repara que haviam imensos aposentos e câmaras abarrotadas das maiores fortunas nunca vistas, enchendo-lhe de assombro. E ela fica mais encantada, quando percebe que servos invisíveis arrumavam, em um deles, uma suntuosa mesa de jantar, com os pratos mais variados. Parecia um banquete dos deuses como se poderia dizer.
- Bem-vinda, soberana nossa! Neste lugar, tudo é vosso - saúda-lhe uma voz feminina que vinha do nada.
Psique toma um grande susto.
- Oh... não vos assusteis nem precisa temer-nos, alteza. Estamos aqui para oferecer-vos nossos préstimos e fazer-vos companhia até que chegue a noite escura.
Uma taça de vinho, dos mais suaves e saborosos, vem até Psique pousando docemente em sua mão. Ela hesita tomá-lo, mas o cheiro da bebida fermentada estava convidativo e dado o tamanho da sua sede, a moça não resiste e sorve um pequeno gole. Ela nunca havia provado vinho igual aquele e bebe tudo sem reclamar. O sabor das uvas restitui-lhe um pouco o ânimo.
- Vamos preparar-vos um banho morno e relaxante! - riram as vozes juvenis.
Mãos misteriosas começam a despi-la, como se fossem aias a cuidar de sua senhora e depois a conduzem a uma espécie de lavabo onde uma grande tina, embutida em um nicho da parede, aguardava para recebê-la. De forma diligente, as servas prepararam as águas com pétalas de rosas coloridas, para que o cheiro delicado das flores se impregnasse em sua pele aveludada.
Após o banho, as vozes voltaram e puseram-se a arrumá-la. Vestiram-na com uma túnica das mais ricas e finas, escovaram e arrumaram as suas longas e onduladas madeixas em um coque trançado, deixando alguns fios soltos a emoldurar-lhe a face. Logo, Psique estava linda e assusta-se ao ver-se pronta com tanta rapidez.
- Vossos cabelos são tão lindos! Negros, mas com reflexos tão azulados, como se uma lua cheia eterna os banhasse! - elogia-lhe uma das vozes.
Psique mira-se no espelho que uma das servas oferecia-lhe e sorri, estava irreconhecível.
- Vosso marido ficará encantado e louco para afagá-los - fala outra animada
- Sim! Sim! Nosso senhor ficará maravilhado com tanta formosura, minha senhora! - brinca uma terceira voz, porém, Psique fica triste com o comentário.
- Por que estás tão acabrunhada, jovem princesa? - comenta a mesma voz.
- N-Nada - gagueja Psique, lembrando-se das palavras fatídicas do oráculo.
Uma pergunta vem à sua cabeça na mesma hora e as vozes misteriosas lhe respondem, como se lessem os seus pensamentos:
- Vosso marido só virá ter convosco à noite, quando a escuridão favorecê-lo e não causar-vos tanto espanto. Não peças para que coloquemos uma lamparina no quarto, é proibido e sofreremos consequências se desobedecermos as ordens dadas.

****

A bela jovem nem repara as horas passarem desfrutando da companhia dos servos invisíveis que lhe cobriam de mimos e atendiam a todos os seus caprichos. Sons de cítaras e flautas alcançaram seus ouvidos; vozes celestiais entoavam uma música harmoniosa enquanto Psique senta-se para provar a saborosa refeição, no que ela não resistiu, pois o cheiro estava tentador. A moça nunca havia degustado um jantar tão lauto como aquele; nem mesmo no palácio de seus pais. Quando cai em si, vê que a escuridão de Nix(*) havia se debruçado sobre a terra. Era chegada a hora; seu suposto marido apareceria a qualquer momento. Psique até havia se esquecido disso; da razão de estar naquele lugar.
O temor toma outra vez conta do coração da jovem; ainda mais depois que a conduzem aos seus aposentos no pavimento superior. O quarto estava na total escuridão, como de fato lhe relataram as servas invisíveis. Psique não enxergava um palmo adiante do nariz e cada vez que as horas corriam e nenhum sinal do esposo, seu coração apertava-se cada vez mais. Talvez, no fundo, desejasse que ele não viesse, mas... quando a madrugada ia avançada, ela ouve um bater forte de asas.
"ASAS?!!", pensa a virgem assustada e corre para a cama, temendo o que poderia ser. Ela puxa a coberta até a altura do pescoço e encolhe-se toda. Começa então a dirigir preces a todos os deuses.
Pela janela, uma figura alada e sombria entra no quarto. Psique sufoca um grito em sua garganta e começa a tremer de medo. Ele, percebendo-lhe o temor, fala de forma suave para tentar acalmá-la:
- Não temais, Alma Minha! Não vos farei mal algum. Mesmo se eu quisesse, não poderia por amar-vos tanto.
Pela voz tão bela e cálida, Psique duvida que ele seja um monstro, contudo, a silhueta das asas em suas costas, deixam-na muito desconfiada. A virgem sente que a criatura aproxima-se mais e que trazia algo em suas mãos; mas ela não consegue definir o que era.
- Beba isto - pede ele estendendo-lhe o que parecia ser uma taça. Antes de ter com a esposa, Eros passou pelas duas fontes do jardim de Afrodite mais uma vez e recolheu um pouco da água da Fonte da Alegria, guardando-a consigo.
- O que é isto? - pergunta-lhe ressabiada.
- Se beberes desta água, a maldição injusta do fel em teus lábios será quebrada - explica-lhe.
Psique obedece e pega a taça que o misterioso ser lhe oferecia. O líquido tinha um paladar adocicado e maravilhoso. Engolindo-o em poucos goles para saboreá-lo ainda mais, ela bebe todo o conteúdo.
- Vejamos se funcionou...
O esposo a atrai para junto de si e furta-lhe os lábios com volúpia. O coração da jovem dispara quando sente uma língua morna encostar na sua, enquanto mãos invisíveis começam a explorar-lhe o corpo que arrepia-se em resposta às carícias recebidas. Ela fica paralisada de início, sem ação! Agora, as mesmas mãos que antes acariciavam sua pele, puxavam os fios da sua nuca e a bela, fechando os olhos, entrega-se ao seu primeiro beijo.
Foi um ósculo longo e ardente, uma sensação mágica e inexplicável. Ela tenta levar as mãos ao rosto do afetuoso amante para acariciá-lo, mas quando este percebe-lhe o intento, se afasta na mesma hora.
- Vou-me agora, minha doce Psique.
- Hã?!
Não passou disto naquela noite. Eros deveria ser bem cauteloso com ela, para não causar-lhe desconforto e aos poucos, ganhar-lhe a confiança.
- Como assim? Ei! Aonde vais? - pergunta a jovem confusa.
- Deixo-te, pois sei que ainda sentes medo de mim e não quero causar nenhum incômodo impondo-te minha presença - explica-lhe docemente. - Adeus, Alma Minha.
Ele parte rápido pela janela da mesma forma que chegou à alcova, enquanto deixa para trás uma donzela com o coração aos saltos e que toca seus lábios, tentando guardar a sensação do seu primeiro contato de amor.

(*) deusa da noite

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E então pessoinhas amadas. Conseguirá o deus, mesmo sendo obrigado a manter sua identidade em segredo, conquistar o coração da moça? Conseguirão construir um forte alicerce, baseado no amor e na confiança?
Próxima segunda, mais respostas... Abraços!

Eros e Psique por Paula DunguelOnde histórias criam vida. Descubra agora