Eros e Psique por Paula Dunguel

Eros e Psique - Cap XIII

Psique fecha os olhos e caminha em direção ao seu destino. De olhos cerrados, talvez o medo da morte não lhe apavorasse tanto e fosse mais fácil dar cabo da sua vida; entretanto, antes que se jogue do templo, uma voz impede-lhe no último minuto:

- NÃO FAÇA ISSO! PARE, PSIQUE!

- ZÉFIRO?!!

- Por que, desventurada jovem, pretendes pôr fim aos teus dias de modo tão horrível?

- Eu não tenho mais esperanças! Eu não posso contra a fúria de uma divindade irritada!

- E que covardia faz desanimar diante deste último perigo, quem tão milagrosamente venceu todos os outros? Ouça, doce Psique: vim da parte de teu marido, ensinar-te como podes, através de certa gruta, chegar ao reino de Hades e evitar os perigos do caminho; passar por Cérbero, o cão de três cabeças e convencer Caronte, o barqueiro do rio das almas, a transportá-la por suas águas e trazê-la de volta, ilesa. Vamos. Irei levar-vos até lá.

- Eros enviou-te? - sorri Psique cheia de esperança. - Então... isso significa que...

- Sim, bela menina! Ele sente tanto tua falta quanto tu sentes a dele e Eros já a perdoou por amar-vos tanto... - diz o vento emocionado. - Tanto é assim, que ele fez com que as formiguinhas a ajudassem no celeiro e implorou aos deuses, que lhe fossem favoráveis e a auxiliassem... Lembras-te de Pã e do rio-deus? - ele comenta e continua e seguir: - E a reunião que Zeus convocou para esta noite, mencionada por Afrodite, é justamente para tratar do vosso caso. O deus supremo do Olimpo quer resolver de vez a questão e acabar com esta guerra tola.

- Oh, Eros... meu amor... - suspira ela.- Sempre estiveste por trás de tudo!

- Agora... ouça com atenção: quando Perséfone te der a caixa, tem cuidado, acima de todas as coisas, para que de modo algum abras a caixa e não permitir que tua curiosidade olhe o tesouro de beleza das deusas, pois a beleza dos deuses não cabe aos olhos mortais. Ei! Me entendestes?

- Sim! Eu entendi! - diz ela eufórica, mas a sua ansiedade era tanta, que não deu muita atenção àquelas palavras.

****

Psique segue todas as recomendações e chega sã e salva ao reino de Hades. Foi admitida no palácio dos deuses do limbo e sem aceitar o delicioso banquete que lhe fora oferecido - pois do contrário ficaria presa ao reino dos mortos eternamente -, contenta-se com um pedaço de pão para alimentar-se ao regressar da viagem. Transmite o recado de Afrodite e a caixa lhe é devolvida sem demora, fechada e repleta de coisas preciosas. Psique volta pelo mesmo caminho e sente-se feliz quando vê outra vez a luz do dia.
Eros estava cada vez mais próximo dela. Em breve poderia vê-lo novamente; abandonar-se em seus braços e provar novamente dos seus beijos. A deusa mesmo disse que esta seria a última prova, então, Afrodite ousaria quebrar sua palavra?
Ao pensar nestas probabilidades de plena bem-aventurança, o coração da moça parecia querer saltar-lhe do peito.

- Eu consegui! Cumpri a prova! - comemora e olha para a caixa. - O que foi mesmo que Zéfiro disse para tomar cuidado?

Naquele instante, a urna começa a emitir um brilho azul e chama-a pelo nome, como se desejasse tentá-la. Talvez uma última armadilha de Afrodite. Psique sente-se arrebatada e perde a noção do tempo e do espaço; ela parecia hipnotizada pela força misteriosa daquele objeto. Dominada por intenso desejo de examinar o seu conteúdo e usar um pouco daquela beleza, para parecer mais bela aos olhos de seu deus, ela abre cuidadosamente sua tampa...

****

E mais uma vez Psique deixa-se levar pela mesma curiosidade de outrora. Qual castigo advirá desta imprudência? Ela terá salvação? Afrodite vencerá, ou o casal conseguirá virar o jogo? Aguardem.
*Peço perdão aos meus amigos que acompanham Eros e Psique. Embora a saga esteja chegando em seus momentos finais, o encerramento ainda não será na próxima. Permiti-me trabalhar num final mais surpreendente para todos. Espero que gostem.