"Ferir-se a si mesmo, pode trazer consequências inesperadas..."
(Noveleta readaptada sobre a lenda mitológica Eros e Psique).
Com uma narrativa dinâmica e ilustrações de próprio punho, a autora convida todos a viajarem por estas linhas, que contam...
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Certo de sua incontestável vitória, Eros decide visitar Afrodite e cobrar-lhe a benção prometida. Entretanto, a orgulhosa deusa jamais toleraria aquela empáfia. Tal insensatez lhe seria cobrada; todavia Eros estava determinado e acreditava-se piamente senhor dos sentimentos de Psique. Aquela disputa mãe vs filho ainda iria muito longe. Com duas forças do mesmo patamar medindo o seu poder, seria difícil prever qual delas sucumbiria primeiro. - Ainda é muito cedo para abençoar-vos. Ela ainda não provou que confia em ti - desconversa sua mãe tentando ganhar tempo. - Mas ela confessou que me ama - insiste o filho. - Ainda não é suficiente - fala Afrodite arrumando sua túnica ricamente bordada e mirando-se num espelho alto, que permitia-lhe ver-se inteira e sorria de satisfação com o que via. - Não estás sendo justa, minha mãe - retruca-lhe Eros indignado. Afrodite o ignora totalmente e dirige-se aos seus belos jardins. Aquilo irrita Eros em demasia e ele posta-se em frente a sua mãe, impedindo-lhe sua passagem. Encara-a com um misto de inconformação e frustração no olhar e diz-lhe em tom desafiador: - Ora! Quereis mais provas? Pois bem, minha mãe, as terás! O filho abre as asas e abandona o santuário e assim que ele sai, enquanto o vê ganhar os céus, os olhos de Afrodite enchem-se de ira e ela começa a arquitetar um plano cruel em sua mente. Volta ao seu quarto e pega seu espelho, aquele com o qual observava os homens e busca por Psique. A imagem da moça logo aparece na superfície polida e brilhante. - Maldita sejas! Estás me saindo melhor do que eu esperava, Psique querida... mas tua ventura durará pouco. Tu não mereces o amor do meu filho. Como uma vil criatura consegue obter vitória sobre mim e conquistar o Amor com tanta facilidade? Eles não serão felizes, não permitirei tal afronta! - jura a deusa encolerizada, disposta a tudo para separá-los. - Até aqui, não interferi em nada nessa história, todavia, está na hora de tudo isto ter um basta. A deusa então começa a sussurrar e sua voz atinge os ouvidos da jovem. Com aquelas palavras, Afrodite faz com que Psique sinta uma vontade incontrolável de conhecer o rosto de Eros e também o seu nome, coisa que nunca o deus lhe havia revelado. O que não seria estranho em nenhuma hipótese, porque qualquer mulher, na mesma situação que ela, desejaria conhecer aquele amante tão envolvente que a fazia feliz todas as noites. - Por que partes antes do amanhecer e não me deixas ver teu rosto? - queixa-se aninhada em seus braços. Eros afasta-se por uns instantes. - Por que queres me ver? Duvidas do meu amor? Tens algum desejo que não vos foi satisfeito? - responde-lhe um tanto incomodado. - Oh, não! Não é isso... pelo contrário! Tu me satisfazes em tudo, meu senhor; eu apenas... desejava conhecer aquele que tanto amo. Eros volta ao seu tom suave e calmo de falar e toca o rosto de Psique: - Se me vistes, Alma Minha, talvez irias temer-me como um monstro ou adorar-me como um deus, mas a única coisa que vos peço é que me amais, não pelo que sou e sim, como um igual a vós. - Ah, por favor! Só uma vez! A escuridão não me permite ver-te... - Não, querida. Não posso fazer isto. Se um dia, meu rosto for a ti revelado, terei de impor-te a pena de abandonar-te para sempre - fala com um certo tom de ameaça velado. - Então, ao menos, me digas teu nome. - Para ti meu nome importa? Deixarei de ser quem sou se revelares tal segredo? Me chames apenas de Amor, pois hei de sentir-me lisonjeado! - Está bem. Aceito tuas palavras. Perdoai-me pela minha insistência, meu amor - fala-lhe sorridente, dando bastante ênfase ao meu amor. O deus a toma novamente nos braços e começa a beijar-lhe o tão macio e desejado corpo, arrancando-lhe risadas e nessa aprazível brincadeira, marido e esposa uniram-se uma vez mais, antes que os primeiros raios solares invadissem de modo importuno a alcova.
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Tais argumentos do deus aquietaram Psique por uns tempos; mas a bela Afrodite, insatisfeita com mais uma derrota sofrida, prefere mudar de tática e atingi-la de outro modo. Com o passar dos dias, nasceu-lhe no peito uma saudade incontrolável da família. Saudade esta imposta pela própria deusa que, do mundo dos deuses, atormentava Psique. Mesmo em companhia dos seres invisíveis que a serviam, ela sentia-se muito só. À noite, como sempre, seu senhor chegava para amenizar-lhe a solidão, mas nem por isso, esquecia o sentimento que lhe feria o peito. Eros repara que ela sente alguma coisa, que algo a incomoda; só que para não atormentá-lo, Psique nada dizia. Preocupado, o deus começa-lhe a fazer uma série de questionamentos: - Diga-me, Alma Minha, o que sentes? Pois percebo que desejais falar-me algo, mas ao mesmo tempo evita-o e quando pergunto, desconversas sobre o fato. - É impressão tua, meu amor... - Não é, querida Psique... eu te conheço. Algo está a atormentar-te a alma. - Acho que realmente me conheces, meu esposo... mas não é nada! - Conte-me o que te afliges, Alma Minha. Acaso não confias em mim? - Não, é claro que confio! - retruca-lhe aflita. - Então, me digas o que tens. Talvez eu possa ajudar-te... - És tão bom para mim, que eu não ousaria... - Pois fale, minha senhora. Desejo saber. - É que... passo o dia inteiro em companhia dos criados invisíveis, sem ninguém para conversar... Tu só me apareces à noite, porém, o resto das horas... - ela faz uma pausa: - Sinto-me tão só à luz do dia! - E por que não passeias pelo belo bosque diante do templo? Oh, bela Psique! Tantos dias enclausurada estão roubando-lhe o rubor das faces! Saia um pouco... não sois minha prisioneira. - Mas não é só isso! Sinto saudades dos meus pais e das minhas irmãs. Queria muito revê-los um dia. Eros fica angustiado e confuso. A ideia não lhe agradara muito, uma vez que um encontro com a família, a esta altura, poderia reavivar-lhe antigos temores com as perguntas que lançariam sobre ela. Por outro lado, vê-la tão deprimida, não era nem um pouco agradável para ele. O sofrimento da esposa, também o afetava no íntimo do seu peito; sentia o coração tão pesado quanto o dela. O que fazer então? - Espere uns instantes, querida Psique... Preciso pensar um pouco - fala, levantando-se da cama. - Aonde vais? Ficaste ofendido, não é? Oh, por que fui abrir minha boca?! - Eu não estou ofendido, Alma Minha. Eu só preciso de um tempo para decidir o que fazer, só isso. Eros sai. Depois de voar por um tempo, pousa sobre uma planície próxima. Enquanto passeava sobre a grama banhada pela lua, que já ia alta, foi surpreendido por um comentario debochado, cuja voz ele conhecia muito bem: - Estás com medo, meu querido?! - provoca a deusa. - Mãe?!! - Tu não me disseste, em nosso último encontro, que a tola mortal te ama? Que confia em ti?! - Não me atormentes! - retruca o deus irritado. - Não fales assim comigo, Eros! Respeite-me, pois sou tua mãe! - Pois saiba a senhora que eu não tenho medo! Psique me ama sim! Confia em mim! - Bem, se tens tanta certeza, por que não permitir que ela veja a família? - provoca-lhe mais ainda. - Quem sabe esta não seja a última prova que reste, para convencer-me de que os sentimentos da tola princesa por ti são verdadeiros? Se assim for, finalmente poderei abençoar-vos - desafia Afrodite. - Queres esta prova? Pois bem! Permitirei que minha mulher veja os seus! - fala ele. Afrodite, conseguindo o intento por trás daquele encontro, desaparece assim como surgira diante do filho. Assim que a deusa o deixa, Eros invoca Zéfiro no mesmo instante: - Chamaste-me, meu amigo? - diz-lhe o Vento-Oeste. - Sim, Zéfiro. Preciso que me ajudes. - Pois não. Digas o que desejais de mim e de pronto o farei. - Quero que partas e busques a família de Psique. Traga-os para cá, como fizeste com ela. Psique está sentindo muita falta deles e eu não suporto vê-la tão triste. O deus vento anui e parte para cumprir o que lhe fora solicitado. Depois de um tempo, Eros volta e encontra a esposa acordada e inquieta. - Ainda não dormiste? - espanta-se ele. - Eu não consegui dormir. Estava preocupada... pensei que o tinhas magoado por... Psique não completa a frase. O deus beija-lhe a testa, demonstrando que não sentia o menor ressentimento pelo pedido e fala-lhe com ternura: - Psique, dentro de poucos dias, terás visitas. Visitas que desejais tanto. Prepare uma excelente recepção! Ela entende a mensagem e o abraça, cobrindo-lhe de beijos e radiante de felicidade!
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Olá, pessoinhas queridas. Acharam que Afrodite estava quieta demais, não é? E agora? Quais as próximas emoções? Essas e outras respostas na próxima segunda. Não deixem de conferir os próximos capítulos. Muitas surpresas hão de vir pela frente.