Eros e Psique- Cap IV

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O gosto dos lábios dele impregnara-se em sua boca; ela fechava os olhos e aquela doce lembrança invadia sua mente, sem ater-se a pedir licença

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O gosto dos lábios dele impregnara-se em sua boca; ela fechava os olhos e aquela doce lembrança invadia sua mente, sem ater-se a pedir licença. O dia inteiro, Psique não conseguia esquecer o que aconteceu na noite anterior e perguntava-se: por que seu companheiro não reclamou seus direitos de esposo? Por que preferiu não forçá-la; limitou-se apenas em dar-lhe aquele longo e amoroso beijo e se foi?
E nas noites que se sucederam o mesmo repetiu-se: ele chegava, beijava-a com paixão, cobria-lhe de presentes, mimos e ficava um pouco a deleitar-se de sua companhia, elogiando-lhe os encantos. Algumas vezes demorava um tempo considerável; em outras, não ficava nem dez minutos e, assim, ia sentindo o efeito que lhe causava. Foi aos poucos intensificando ainda mais as carícias, à medida que Psique permitia. Com muita paciência, a envolvia naquele amor intenso, mas em doses moderadas; quando sentia-lhe quase entregue, propositalmente despedia-se dela com um tímido "Eu te amo" e partia apressado pela janela.
O querido rosto ainda não revelado e aquela atmosfera de mistério que o envolvia era sedutora e instigante. Certa noite, a moça chega a queixar-se com ele:
- Por que fazes isto comigo? Me envolves tanto, me deixas ardendo de desejo para depois partir; por quê?
- Um dia, Alma Minha, tu me pedirás para ficar e eu ficarei. Nesse momento e sem o menor temor, hás de se entregar a mim e farei de ti minha esposa, mas por enquanto, deixemos que a semente do amor amadureça entre nós; não tenhamos pressa. Quanto melhor for cultivada a semente, mais forte se tornam as raízes da árvore - dizia-lhe num tom carregado de ternura, despedindo-se mais uma vez.
Assim, sem precisar de nenhum artefato mágico ou flechas, o desejo por ele foi sendo-lhe cultivado aos poucos e a cada noite, o ser misterioso deixava-a com aquela vontade de querer receber ainda mais. O poder inerente do próprio deus do amor era - por sua natureza -, avassalador.
Pela manhã, enquanto Psique era cuidada pelos seres encantados que a cercavam, tentava captar algum comentário dos mesmos sobre seu senhor, porém, em vão. Para sua frustração, nenhum deles tocava no assunto nem quando lhes perguntava; simplesmente desconversavam e perguntavam à sua senhora o que preferia no almoço e no jantar, se as frutas estavam do seu agrado ou não, ou se queria mais pétalas às águas do seu banho.

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Os dias foram passando e para testar-lhe os sentimentos, o deus começou a aparecer apenas algumas noites e assim, atiçar-lhe a saudade e a inquietude. Numa semana era uma noite sim e outra não; às vezes, aparecia uma e ficava duas sem vir. Uma vez, ficou sem visitá-la por uma semana e como tinha imaginado, tais atitudes estavam perturbando Psique. Ela começou a sentir demais sua falta e nas noites que não o via, a bela chorava pela sua ausência. Temia que ele tivesse se cansado dela. Pelo menos, assim a jovem acreditava, entretanto, Eros sempre esteve com ela; apenas mantinha-se oculto para ver-lhe as reações.
Então... numa bela noite, depois de quinze dias sem vê-la, seu esposo chega para visitá-la e numa atitude desesperada, a jovem atira-se em seus braços surpreendendo-o:
- Achei que não me amasses mais - chorava sentida, molhando o peito do deus. - Por que me abandonaste assim? Fiz algo que te desgostei, meu senhor? FALA!!!
- Eu jamais iria abandonar-te, Alma Minha. Apenas achei que um tempo sem ver-te, farias com que medisses teu amor por mim.
- Não faças mais isto! Oh, por favor... eu te amo, meu senhor! Nunca me deixes assim ou morrerei - confessa enfim. - Quero ser tua esposa de verdade, fica comigo e faz de mim tua mulher... - sussurra apaixonada e beija-o com ardor e na mesma magnitude, o deus corresponde-lhe.
Eros sorri feliz, toma-a em seus braços e leva-a para o leito. Psique estava pronta para recebê-lo e com o coração disparado no peito, no mesmo compasso que o dela, os deus do amor une-se, finalmente, à sua amada.
A sublime espera foi recompensada. Ambos se entregaram um ao outro com exacerbada paixão e para Psique não mais importava se ele seria um monstro ou não. Nos braços dele esquecera todas as lágrimas que vertera, tempos atrás, pela desafortunada sorte a ela imposta e Eros, que era a própria essência do amor, conhecia-lhe todos os caminhos e despertava na sua mulher as mais pulsantes sensações.
Muitas noites de intensos sentimentos sucederam-se após esta. A cada união íntima, Eros irradiava sua energia para Psique e a feliz esposa recebia a divindade do deus em seu regaço. Mas quando o sol se levantava no leste - por causa da promessa feita à sua mãe de nunca revelar-se - Eros partia, deixando-a saciada de prazer e mergulhada em sono profundo.
Pela manhã ela abria os olhos e procurava por ele, mas o esposo não estava mais junto dela e agora, apenas os lençóis de linho desarrumados - e impregnados do seu perfume almiscarado - indicavam que ele estivera com ela. Psique só tornaria a vê-lo à noite, quando as candeias do dia se apagassem. A morena contava as horas e torcia para que logo as trevas de Nix se precipitassem sobre os mortais e pudesse abandonar-se em seus braços outra vez, inebriar-se naquele amor que o amante lhe oferecia. O resto do dia, em companhia dos servos invisíveis, ficava a suspirar pelos cantos e recordando-se de cada gesto, de cada afago, de cada beijo que trocavam e do prazer inenarrável que no corpo o Amor lhe despertava.
" Ele não pode ser um monstro, um ser cruel e horrendo como o oráculo disse... ", pensava apaixonada, evitando imaginar qualquer um desses possíveis defeitos.

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E aí pessoinhas? Essa paixão será inquebrável? Nossos apaixonados continuarão desfrutando desse grande amor? Psique confiará cada vez mais em Eros? Continuem com eles nessa apaixonante jornada.

Eros e Psique por Paula DunguelOnde histórias criam vida. Descubra agora