Eros e Psique-Cap VII

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A jovem respira fundo e gira lentamente sobre os calcanhares

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A jovem respira fundo e gira lentamente sobre os calcanhares. Já havia empunhado a lâmina quando, para seu espanto, não contempla um monstro asqueroso e horripilante deitado sobre o leito e sim, o mais formoso e encantador dos seres: cachos dourados e macios caíam-lhe em cascatas sobre os ombros; rosto corado e suave; às costas, um belo par de asas brancas e brilhantes serviam de bela moldura a um corpo perfeito e admirável. A criatura respirava suavemente, denunciando que estava mergulhada em doces sonhos, pois sorria. E que lindo sorriso!

O coração dela, ao ver aquela beleza invadir-lhe os olhos, dispara ainda mais. Hipnotizada e em total e gracioso arrebatamento, vai na direção dele. A tênue luz da lâmpada brilha em algo sobre a cabeceira, e ela nota um arco e uma aljava largados displicentes sobre um nicho na parede e arregala seus olhos surpresa. Aqueles objetos e as belas asas às costas denunciavam quem, na verdade, era o seu marido.

- Não acredito... - murmura Psique para si mesma. - Ele é... Eros, o deus do amor!

Psique cai de joelhos maravilhada junto à cama. Observa-lhe cada detalhe: os braços que a envolviam todas as noites; as mãos travessas que a excitavam e arrancavam-lhe incontáveis suspiros e gemidos; os lábios mornos e insaciáveis, que tantas vezes beijara.

Lágrimas de gratidão brotaram de seus olhos e uma paz imensa invade-lhe o peito, pois não havia mais razão para ter medo. Extasiada, quis contemplar-lhe o belo rosto mais de perto e aproxima a luz. A beleza dele torna-se mais gritante; irreal! Psique não tinha palavras para expressá-la.

- Meu doce senhor... meu amado esposo... - sussurrava embevecida, em total estado de adoração, enquanto reclinava-se sobre ele para beijar-lhe a face.

Mas, por um azar, uma gota do óleo quente cai sobre o ombro de Eros e, quando este sente o calor a queimar-lhe a pele, acorda assustado. Psique também se assusta e cai no chão; com a surpresa, esquece de esconder a faca afiada que estava em sua mão.

- O que pensavas fazer? - pergunta-lhe o deus levantando-se. - Por que esta faca?

- Faca?! Que faca... Oh não!

Ela tenta esconder a lâmina, contudo, era tarde demais.

- Tu irias me matar? - os olhos dele, de um azul profundo e celestial, enchem-se de cólera. - Depois de haver desobedecido às ordens de minha mãe e feito-te minha mulher, tu estavas disposta a cortar-me a cabeça?! Oh, Psique... que decepção... - lágrimas vieram aos olhos de Eros.

- Não! Meu senhor, não! Eu posso explicar... Minha irmã, ela... ela me disse que tu eras um monstro, contou-me coisas apavorantes - dispara Psique tentando consertar a situação. - Eu fiquei com muito medo! Oh, meu marido... Perdoai-me! - chora em desespero.

Largando a traiçoeira lâmpada no chão, Psique ainda arrasta-se até ele e agarra-lhe as pernas, numa tentativa de conquistar o perdão do amado; só que Eros, muito enfurecido, repele o seu gesto.

Eros e Psique por Paula DunguelOnde histórias criam vida. Descubra agora