Capítulo 1

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Victoria Furlan
Eu me chamo Victoria Furlan, tenho 28 anos, e sou mais uma acometida pelo amor avassalador. Conheci Lorenzo alguns anos atrás, na faculdade de logística. A nossa primeira troca de olhares foi o suficiente para nos provar que rolava uma química entre nós. Fomos conversando, saindo, até que, aos poucos, a amizade virou namoro. Lorenzo sempre foi o homem que pedi a Deus. Romântico, carinhoso, fofo, preocupado, tudo isso e mais um pouco contribuiu para que nos casássemos logo. Aos meus 23 anos, logo após terminar minha faculdade, eu me casei. Foi um casamento às pressas, por conta do nosso desespero para ficarmos juntos logo, mas mesmo simples e apenas para os mais íntimos, meu casamento foi perfeito. Depois que começamos a morar juntos, nossa relação só melhorou, éramos recém formados em logística, recém casados, e recém independentes da casa e dos cuidados de nossos pais. Mas tudo isso contribuiu para que nos uníssemos, para juntos vencermos todos os desafios da vida. Juntos, fomos além! No começo, morávamos em um "apertamento". Sim, porque era minúsculo. Mas era o nosso primeiro cantinho, e estávamos radiantes por isso, mas com o decorrer do tempo, conseguimos bons empregos e, juntos, compramos a nossa primeira casa. É um sobrado, de portão elétrico, e garagem para dois carros. Não é uma mansão, mas é o nosso cantinho de paz! Já moramos aqui há 3 anos. A casa é grande, tem dois quartos grandes e uma suíte, que é o nosso quarto.
Lá no andar de baixo, ficam a sala, a cozinha, o lavabo, a lavanderia, e uma área de lazer, do lado de fora, onde ficam uma churrasqueira e uma grande mesa de madeira rústica. Como podem perceber, não é uma mansão, mas é NOSSA casa e estamos mais do que felizes com ela, pois foi conquistada com nosso esforço e suor.Eu sorrio feito boba, lembrando do tempo em que meu casamento era maravilhoso, pois hoje em dia, as coisas estão complicadas aqui em casa. Lorenzo sempre foi um bom marido, mas seu machismo está me tirando do sério, e não é de hoje. No começo eu relevava, pois eu o amava demais para querer começar uma briga por um motivo à toa, mas, aos poucos, estou me fartando. Não aguento mais suas arrogâncias e sua super proteção, que ele julga ser apenas por me amar demais, mas eu já não estou acreditando muito nisso. Por exemplo, quando ele me conheceu, eu já tinha habilitação de carro.  E, hoje em dia, ele não me deixa usá-lá por nada. Ele quer ter o gostinho de que eu dependa dele para tudo. Eu só trabalho até hoje  porque o enfrentei, e disse que do trabalho eu não sairia, porque a vontade dele é que eu fique em casa, e que ele nos sustente. Por enquanto, eu consegui a vitória de continuar trabalhando, mas sei que, se por acaso um dia a gente adotar um filho, vou ter que abandonar meu trabalho por exigência do meu marido machista. São tantas atitudes sem fundamento, que se eu contasse pra alguém que vivo isso em pleno o século XXI, ninguém acreditaria.
Logo depois de 1 ano e meio de casamento, nós decidimos tentar ter um filho e, depois de tantas tentativas frustadas, recorremos à medicina, que diagnosticou que eu não poderia gerar um filho. Eu tenho alguns problemas de saúde que não me permitem a dádiva de gerar um bebê. Como podem imaginar, eu fiquei arrasada, o maior sonho do Lorenzo era ser pai, e eu não podia proporcionar isso a ele. Isso destruiu meu ego feminino, eu me senti fracassada como mulher, como esposa. Mas Lorenzo me disse que isso era só um detalhe, e que poderíamos adotar um filho, e que, acima de tudo, isso nunca interferiria em nosso casamento. E assim tem sido, graças a Deus. Eu me olhava no espelho do quarto. Hoje era sábado, e passaria o dia com meu marido. Apesar de todos os seus defeitos e suas discussões sem fundamento, eu o amo demais.
Meu cabelo louro, nem tão louro, porque a tintura eu não retocava há meses, por exigência do Lorenzo, estava molhado, deixando mais aparente o tom esverdeado dos meus olhos. Observei meu corpo, e lembrei de como eu era mais bonita antes de casar. Eu frequentava o salão de beleza, então sempre minhas unhas, meus cabelos, e minha depilação, estavam perfeitas. Além disso, eu malhava semanalmente, o que me deixava com a barriga lisinha, hoje eu não posso mais malhar, porque Lorenzo julga ser desnecessário, e como tenho tendência a engordar, eu já estou bem cheinha.Vesti um short jeans, na altura do joelho, e uma camiseta, pois não queria dar motivos para Lorenzo discutir comigo, logo agora, por conta das minha roupas. Saí do quarto e desci. Me sentei na sala e liguei a TV, Lorenzo foi tomar café com seu pai. Ele sempre faz isso nos sábados, desde que descobrimos que seu pai, o Sr. Benedito, é acometido do câncer no sangue, a leucemia. Todos nós estamos sentindo muito por isso, então, estamos aproveitando nosso tempo para que, sempre que pudermos, estarmos ao seu lado. 

Lorenzo Goulart
Eu não tenho dúvidas de que a Vic é a mulher da minha vida. Estamos casados há 5 anos, e sei que foi a melhor decisão que tomei na minha vida. Às vezes, sou  super protetor e até meio machista, mas tudo isso é porque a amo, e quero protegê-la de tudo e de todos, cuido dela com a minha própria vida, ela foi o maior tesouro que recebi dos céus. Recentemente, descobrimos que meu pai está acometido por a maligna leucemia! Eu fiquei irado, mas do que adiantava toda a minha ira e nervosismo? Nada. Tive que engolir toda a minha raiva, e encarar de frente essa doença. Tive que ser forte para dar forças à minha mãe, e para ajudar meu pai que estava morrendo aos poucos. Cada dia que o vejo, ele está mais magro, mais pálido, cada vez mais frágil. A leucemia estava matando-o aos poucos, e isso estava me matando junto. Meu pai, meu herói, meu amigo, estava morrendo e eu não podia fazer nada, a não ser esperar. A melhora, ou a morte de vez.Eu estava sentado nos bancos do quintal com meu pai. Estávamos conversando e observando a horta da minha mãe.

-Filho, eu queria tocar em um assunto delicado. - ele diz,com a voz fraca e sem vida.

Ultimamente, era só assim que ele falava.

-Pode falar, papai. - digo, fazendo carinho em suas costas.
-Eu sei de todos os problemas que você e a Vic passaram, mas eu queria tanto a alegria de um netinho! Os seus irmãos já me deram netinhos lindos, e agora só faltam vocês.

E era verdade. Meu irmão mais velho, Gabriel, de 35 anos, é casado com Paola e tem os gêmeos Caio e Cauã, que têm 6 anos. Minha irmã, Alice, com 27 anos, a caçula da casa, é casada com o Daniel, e tem a nossa princesinha, a Karina, que têm 2 anos. Eu sou o filho do meio, tenho 29 anos, e ainda não tenho filhos, pois minha mulher não pode gerá-los. Mais isso nunca foi um problema para nosso casamento, poderemos adotar um, só que o processo é muito burocrático e demorado, mas se meu amor quiser, o enfrentaremos juntos.Volto a prestar atenção no meu pai.

-Papai, eu realmente também quero te dar um netinho, e acho que já está na hora mesmo.

Eu sempre quis um filho, na verdade, meu sonho é ter minha casa cheia de filhos, correndo por todos os lados, gritando "papai" e "mamãe". Mas depois que vi o quanto a Vic sofreu por ser estéril, eu acabei deixando o assunto de lado, por ela. Eu vi o quanto essa historia a chateou, e não gosto de vê-la assim. Mas, por mim, e, principalmente, pelo meu pai, chegou a hora de voltar a esse assunto dolorido, porém necessário, pois eu realmente quero um filho meu e da Vic.

(...)

Depois do café com meu pai, eu voltei pra casa. Hoje é sábado, e eu e minha mulher vamos fazer alguma coisa juntos.

-Oi, amor. - digo, entrando em casa.
-Oi, Lorenzo. - ela diz, me dando um beijo rápido. 
-Me beija direito, Victoria. - digo sério.

Ela vem e me dá um beijo demorado.

- Como você está?
-Bem, e seu pai? 
-Está cada vez mais fraquinho... - digo, triste.
-Sinto muito. - ela fala, cabisbaixa.
-É complicado. - digo, dando um beijo em sua testa. - Mas temos que aprender a lidar com ela. Vamos almoçar fora? - seria a oportunidade de conversamos sobre uma possível adoção.
-Vamos! - ela diz, ajeitando o cabelo atrás da orelha.

Minha esposa é uma mulher muito atraente, e, por isso, não gosto que ela se arrume muito. Odeio quando ela vai ao cabeleireiro, manicure, academia, e até quando faz compras, isso só a deixa mais atraente.
Peguei meu carro e conduzi até o restaurante próximo de casa, que gostávamos de frequentar. Durante o trajeto, conversamos amenidades, era sempre tão bom estar com minha esposa! Chegamos no restaurante e fizemos nossos pedidos, enquanto não chegava, aproveitei a deixa, para falar do assunto de adotar um filho.

- Amor, hoje conversando com meu pai, ele me pediu uma coisa, - digo, calmamente - uma coisa que eu já quero a muito tempo, mas nunca tive coragem de tocar no assunto.
-O que é, Lorenzo? - ela diz irritada, nunca gostou de suspense.
-Vamos adotar um filho? - pergunto, sorridente.

Cansei de ser boazinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora