[vida após a morte];;

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"eu não deveria estar tão surpresa" pensei comigo mesma levantando da cama e deixando que algumas mechas do meu cabelo deslizassem sob meu ombro. Me direcionei ao espelho a qual fixei meus olhos por alguns segundos proibindo-me mentalmente de chorar.

passei um tempo daquela forma, como se a qualquer momento o meu reflexo naquele espelho sujo fosse me dar as respostas de tudo.

Depois de um tempo encarando o espelho decido sair daquele transe desnecessário. Afundei o rosto na gaveta por alguns segundos. Troquei rapidamente aquela camisola desgastada por um vestido preto rodado que ficava um pouco acima dos meus joelhos, com mangas que alcançavam o meu pulso.

"Ele vai te dar uma surra" tentava me aconselhar a não fazer merda de novo, mas eu nunca fui muito de seguir conselhos, principalmente os meus

Apoiei meu pé na cama para que pudesse amarrar meu all star de cano alto preto. Eu estava me sentindo uma jovem fã de bandinha britânica, aquelas jovens modernas, sabem? Aqui não me sinto tão ridícula quanto me sentia na Inglaterra, as pessoas se vestem assim aqui.

Olho para o espelho que estava um pouco distante e ignoro o fato das olheiras enormes e do meu cabelo estar tão bagunçado e ressecado, eu estava um caos. Meus olhos correram pelo quarto e pararam no relógio da parede, era 1:35 da madrugada.

Passo pela estante levando junto uma cartela de Marlboro que tinha roubado do meu padrasto e guardado há uns 3 meses, não vivia sem ela em nenhum momento da minha vida, mesmo que não usasse-a, não iria larga-la.
Abro lentamente a janela de madeira tentando fazer o mínimo de barulho possível, mas ainda assim podia se ouvir um rangido de madeira velha. Janela filha da puta.

Uso uma cadeira para facilitar a minha fuga, e em poucos minutos já estava do lado de fora. Senti o ar fresco e o vento forte da madrugada bater contra meu rosto. O frio tomou conta das partes que não estavam cobertas pelo tecido do vestido. Fechei a janela por fora e a olhei por mais alguns segundos antes de começar a descer avenida abaixo.

Tiro o isqueiro do bolso do vestido e acendo um cigarro. Seguro a tosse por ter inalado excesso de fumaça.
ok, eu tenho 18 anos e nem sequer consigo fumar direito, é um desastre ser eu, repito, é um desastre ser eu.

Mas eu pareço mais descolada segurando aquilo entre os dedos, que eu pude literalmente esquecer o fato de que aquilo um dia poderia me matar. Dou de ombros como se não me importasse com a ideia de morrer, " nascemos para morrer. "

Estou sentada no meio fio na frente de um bar. Passaram-se uns 4 homens perguntando se eu era mulher de programa, e sinceramente, estou bem tentada a ser.
Um deles me ofereceu um copo de whisky, falou que eu era jovem e que tinha que aproveitar. Aquele imbecil não parava de tagarelar sobre juventude, drogas, sexo, bebidas e etc. Eu tomei até uns goles daquela bebida horrível dele para que me deixasse em paz. Ele desistiu de me cantar e levantou resmungando, ele deve estar em crise de meia idade. Pude vê-lo dobrando o quarteirão, o que me deixou tranquila.

Continuei sentada no meio fio, fumando e observando atentamente as pessoas. É estranho pensar que cada pessoa tinha uma história, uma vida, um passado, um amor. Me vejo presa em meus pensamentos fúteis.

Começo a sentir uma tontura inexplicável, tentei lutar contra isso, mas em questão de tempo cai de costas no chão. Estava tudo tão bagunçado, tudo tão confuso e eu não entendi o que estava acontecendo. Apenas fechei os olhos para que pudesse enxergar melhor e simplesmente não consegui abri-los novamente.

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