II - REENCONTRO

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Kennedy e eu aparecemos em cima da horta da minha avó, o que seria um risco de morte para nós se não fosse o feliz fato de sermos elementais.

Depois de algumas manipulações, foi fácil deixar a horta como antes, ou talvez até melhor, visto que Kennedy era especialista no assunto. Cuidar da horta era uma de suas funções na tribo Nathu. Ele e outros jovens elementais do elemento Planta, juntamente com alguns elementais da Terra e da Água, ficavam encarregados da função de cuidarem da horta, que diga-se de passagem, era um trabalho muito bem executado.

Logo que terminamos de concertar a horta "ex-pisoteada", segui para a entrada dos fundos da casa, esperando encontrar algum dos meus familiares.

A probabilidade de encontrar meus pais era mínima, quase inexistente, afinal os dois eram arqueólogos e depois da minha partida, não tive muito contato com eles. Os chefes da tribo não me permitiam entrar em contato com outras pessoas por motivo de segurança... e por falta de comunicação tecnológica também (O sinal de celular nos Andes não é dos melhores. Ainda mais quando se está mudando de localização uma vez por mês). Aparelhos de comunicação eram itens proibidos no acampamento, e acho que os correios ainda não tinham filiais por aquelas bandas.

De qualquer modo, encontrei um meio bem incomum de me comunicar com meus pais: a Telepatia. Depois de pouco mais de seis meses de treinamento, finalmente consegui o controle sobre minhas habilidades telepáticas. Pelo que meu avô me explicou quando ainda estávamos na cidade, nós elementais sétuplos, por termos o controle sobre os sete elementos da natureza, meio que desenvolvemos uma sensibilidade maior à energia a nossa volta, e conseguimos captar e emitir com mais facilidade as ondas eletromagnéticas do cérebro, ou coisa parecida. Meu avô também explicou que esse era o motivo de eu meio que ter "ouvido os pensamentos" do meu peixinho dourado ainda antes dos meus poderes se manifestarem por completo. Ele acredita que eu já vinha desenvolvendo a habilidade telepática desde aquele momento, embora isso fosse incomum. O fato é que, essa habilidade me foi muito útil para entrar em contato com meus pais; sempre que tinha um tempinho livre dos treinos, eu meio que dava uma escapada e me concentrava tentando pensar apenas neles. Minutos depois, eu meio que os via na minha frente, como em um sonho, e até podia ouvi-los.

De início, eles se assustaram com a comunicação diferenciada e sem aviso, mas depois de algumas vezes, a comunicação ficou bem mais... "natural", o que não mudou foi o fato de eu não poder demorar mais que alguns segundos na comunicação, no máximo um minuto. Eu ficava simplesmente exausto, sem falar nas dores de cabeça que sentia no início. Depois de um tempo eu me acostumei e não sentia mais dores de cabeça tão fortes, mas ainda sentia alguns desconfortos.

O problema é que, com isso, eu tinha que escolher entre falar com meus pais ou com meus amigos, então resolvi revezar, mas quase sempre era com meus pais que eu falava, pois eles ficavam sempre muito preocupados comigo e com meu avô, mas com o pouco tempo de comunicação que eu tinha, nunca dava para perguntar o que eles fizeram depois que eu parti. Eu tinha uma visão da paisagem em volta, mas era meio turva e não dava para distinguir onde era, então apenas deduzia que deveria ser algum sítio arqueológico em algum lugar do mundo.

* * *

Kennedy e Eu nos dirigimos até a porta e eu girei a maçaneta. Assim que abro a porta, dou de cara com minha mãe lavando a louça.

Quando ela me viu, ela deixou a caneca de porcelana que estava segurando na mão cair na pia, fazendo com que ela trincasse, mas obviamente, minha mãe não ligou a mínima para isso e correu para me abraçar.

Ela me abraçou tão forte que por um momento eu me questionei se ela não teria desenvolvido o dom do elemento terra com a sub-habilidade de super força e agora estaria me esmagando para me punir por todo esse tempo que estive fora, mas aí lembrei que as mães costumam desenvolver habilidades do tipo quando o motivo é abraçar um filho que esteve fora por tempo demais, ainda mais no meu caso que era filho único.

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