Capítulo 5 - They all cheat at cards

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Oi, gente. ♡
Esse é um cap de transição e é decisivo pro resto história.
O Frank me deixa com raiva porque ele não podia ser um cara mais da sua época do que é, todo cabeça fechada. Que saco.
E um comentário aleatório: curto The Smiths, mas a banda seria tão melhor se aquele bunda do Morrissey só abrisse a boca pra cantar, sabe?
É isso. Boa leitura pra todo mundo ♡

Gerard estava no refeitório, decidindo se iria ou não enfrentar a multidão de adolescentes famintos. Era hora do almoço e todos já haviam lanchado pelo menos uma vez ao longo daquele dia, mas, mesmo assim, pareciam como se não comessem há dias. As filas estavam enormes, algumas até mesmo dando voltas nas mesas. Segundo seus cálculos, ficaria pelo menos 45 minutos nelas, espremido entre inúmeros outros alunos. Não parecia exatamente uma orgia de conforto para Gerard, fora que ele estava com um mal humor do inferno porque sonhou toda a noite com uma reprise infinita do seu monólogo ridículo na sala de Berger. Por isso, decidiu que não iria almoçar, aproveitando o fato de que ninguém ainda havia conseguido se sentar para escolher uma mesa e ler qualquer coisa - mais tarde poderia apenas comer algo da máquina de lanches.

Direcionou-se à mesa mais distante, próxima à porta de saída, e sentou-se. Pegou em sua mochila uma cópia gasta de A metamorfose* que encontrou na biblioteca. Era sua primeira vez com Kafka, então realmente não sabia bem o que esperar, mas provavelmente teria alguma opinião formada sobre até o final da tarde, quando acabasse o livro -- precisava admitir que se sentia culto pra caramba lendo esse tipo de coisa, com pelo menos alguns pontos de QI a mais. Também pegou no bolso da frente de sua mochila um maço de cigarros e seu Zippo porque isso o ajudaria a driblar a fome por hora. Para alguém que fumava como uma chaminé e quase nunca comia apropriadamente, ele era bem gordo.

Do outro lado do refeitório, Frank, Jeph e Bert estavam sentados, olhando Gerard.

_Eu só preciso me aproximar... _disse Frank, inclinando a cabeça um pouco para o lado sem desviar a atenção de Gerard.

Gerard era muito branco, excessivamente branco. Sua palidez aliada a seus olhos claros, cabelo escuro e sobrancelhas cheias davam a Frank uma impressão estranha de estar olhando para um versão jovem do Drácula de Lugosi**. Além disso, exatamente como no filme, era como se houvesse também um fulgor extraordinário que sempre atraía a visão de Frank para os olhos verde-acinzentados de Gerard. Apesar de hialinos, havia algo como que uma sombra que os tornava insondáveis, obscuros, mas, antes de descobrir o que era, Frank repreendeu-se mentalmente por perceber que estava despendendo tempo demais na temática.

_Mas como você pretende fazer isso? _perguntou Jeph. Frank acenou negativamente com a cabeça, mordendo levemente o piercing em seu lábio que por sorte Gerard não arrancou quando brigaram.

_Eu não sei ainda.

Frank escutava seu walkman. Havia descoberto uma banda recentemente e estava adorando. Apesar disso, nunca contaria a ninguém sobre porque, além de comprometer a reputação musical que ele tinha criado por ser totalmente fora do que ele ouvia, ele ainda sentia que todas as músicas soavam gays demais - quer dizer, quem faz músicas sobre homens charmosos? --, o que poderia comprometer outras reputações ainda mais importantes. Se chamava The Smiths e tocava uma espécie de indie meio post-punk, com um sotaque britânico carregado. De repente, começou a tocar uma música que falava sobre um garoto atormentado cujo ódio escondia "um desejo assassino por amor"* que nunca poderia ter aparecido em um momento melhor.

Frank já tinha escutado alguns boatos sobre Gerard. Aparentemente, ele ficava com caras com alguma frequência. Frank, por sua vez, era católico (bom, mais ou menos), hétero e havia namorado uma menina, Jamia, por vários meses. Nunca havia sequer cogitado se envolver com nenhum garoto, mas Gerard parecia bastante solitário. Talvez, se ele simulasse algum tipo de interesse desse gênero, Gerard abrisse uma brecha para ele. Fazia algum sentido? Sei lá. Talvez Gerard fosse como o cara da música: se ganhasse alguma atenção e se sentisse seguro, contaria a Frank sobre as cicatrizes, então ele teria artifícios suficientes para revidar.

Drowning Lessons  -,' Frerard ,'-Onde histórias criam vida. Descubra agora