Capítulo 2 - Olhos Queimados

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Peter a narrar...

Mas de qualquer maneira... Imaginem que já está toda a gente na escola pronta a fazer o teste.

Depois eu não faço o teste e a minha média cai.

Não posso deixar a minha média cair... A minha mãe e o meu pai esforçam-se muito para me manter naquela escola.

Vesti-me e fui ao andar debaixo. Ao chegar lá, vi que não havia cereais.

Não gosto nada de acordar os meus pais, mas nunca sei onde a minha mãe coloca os cereais. Tem que ser sempre ela a ir buscar.

Bati à porta do quarto, mas ninguém respondeu. Acabei por abrir... Mas...

A cama estava feita. Não havia ninguém.

Não havia um único vinco nos lençóis. Estava completamente perfeita, como se nunca ninguém se tivesse deitado ali.

Ao ver aquela cena, no meio do escuro arrepiei-me. O que se estava a passar? Os meus pais? O Sol? Tudo está estranho... Estou a ficar louco?

Seria isto um sonho? Ou um pesadelo... Isto está mais para pesadelo.

Haveria alguém na escola?

Tentei ligar luzes, porém nenhuma ligava.

Mas quando liguei a televisão, ela ligou. Porém apenas dava estática.

Estava convencido de que teria uma boa desculpa para não ir à escola neste dia.

Por isso, neste momento vou ficar em casa. Estou com medo para ser sincero. Já são nove da manhã segundo o meu telemóvel. Ainda não vejo um único raio de Sol...

Acho que nunca mais vai voltar... Tenho esse pressentimento.

Kate a narrar...

A casa onde entramos era enorme. Mas, sendo sincera, não gostava que fosse tão grande. Eu tenho medo do escuro... Isto pode parecer muito infantil, especialmente para mim, pois já tenho dezassete anos.

Segundo o meu raciocínio, quanto maior a casa, mais escuridão ela tem... Por isso não gostei que a casa fosse muito grande.

Mas é um segredo que guardo para mim há bastante tempo.

E ao que parece agora nenhuma luz se liga. Eu tenho andado atrás da Jessie o tempo todo. Não quero me separar dela.

Estava perdida nos meus pensamentos, quando a Jessie disse, olhando para o teto:

- Está ali alguma coisa...

Eu assustei-me, mas depois reparei que era só a entrada para o sótão da casa.

A Jessie puxou o fio e abriu-se uma escada para lá.

- Queres ir à frente? - ela perguntou.

- Oh... Não... Não, obrigada. - respondi.

Ela olhou nos meus olhos.

- Está tudo bem? Estás meio medrosa desde que entramos na casa.

- É que... - eu disse não completando a frase.

- Diz. Anda lá, somos melhores amigas faz dois anos. - ela disse meio decepcionada por não lhe querer explicar.

- Pronto. - respondi - Eu tenho medo do escuro.

Ela riu-se um bocadinho, mas depois fez uma cara séria.

- Olha, não fiques com vergonha. Toda a gente tem os seus medos. Eu vou à frente, não te preocupes.

Fiquei aliviada por ela compreender.

Ela subiu e quando lá chegou acima ouvi um grito.

Eu subi rapidamente e vi-a deitada no chão com a mão à frente da boca.

- O que se passa? - perguntei.

Ela apontou numa direção. Eu olhei.

Estava lá um cadáver, com os olhos completamente esbugalhados. Dos olhos saíam sangue e uma ligeira fumaça, como se os olhos se tivessem queimado.

- Mas que porra... - eu disse antes de elevar a mão à boca, enquanto tentava não vomitar.

A Jessie parecia completamente horrorizada.

Eu tentei acalma-la, enquanto me tentava acalmar a mim mesma... Não é uma tarefa fácil. Mal a Jessie se acalmou, ela disse:

- Podemos sair deste maldito sotão? - ela perguntou sem desviar o olhar do corpo.

- Sim. Vamos sair daqui. - respondi.

Saimos de lá, mas quando a Jessie ia fechar a entrada para o sotão, vimos um clarão de luz enorme lá em cima.

Demorou uns segundos a desaparecer novamente.

Voltamos a subir, com ainda mais medo que da primeira vez.

A Jessie desta vez apenas ficou especada a olhar para a zona onde tínhamos visto o cadáver. Eu subi de novo.

- Diz-me que eu não estou a ficar louca - disse a Jessie - Tu também viste o corpo ali no canto? Também viste o clarão de luz, não foi?

- Sim, eu vi isso tudo. - respondi, não compreendendo tantas perguntas.

Ela saiu da minha frente para eu poder observar.

- Então, por favor, explica... Onde está o corpo que ainda agora aqui estava? - ela perguntou com uma expressão clara de medo.

O cadáver tinha desaparecido.

O Dia em que o Sol não voltou [CONCLUÍDO] Onde histórias criam vida. Descubra agora