Capítulo 4 - Sombras

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John a narrar...

A minha filha acordou e assustou-se ao ver que eu estava no quarto dela.

É compreensível, normalmente é a Alice, a minha mulher, que fica com ela.

- O que estás aqui a fazer a esta hora? - perguntou ela a coçar o olho.

- Filha, são dez da manhã. - disse com um ar triste.

- O quê? - disse ela sem compreender - Mas está escuro lá fora. Podes acender uma luz? Eu mal te vejo.

- Bethany, não há sol, não há luz, não há nada disso. Eu não sei o que se passa. - eu respondi.

Devia ter explicado mais devagar. Ela foi bombardeada com informação negativa.

Ela olhou em volta.

- A mãe? - ela perguntou.

Em situações como estas, eu não gosto que ela seja inteligente.

- A mãe não está aqui connosco. - eu disse da melhor maneira que me veio à cabeça.

Ela fez um ar mais triste.

- Como assim, não está? - ela disse numa voz mais aguda.

Cheguei-me perto dela e abracei-a, enquanto a ouvia chorar.

Ficamos ali um pouco, porém ouvimos um barulho metálico vindo da rua. Provavelmente um caixote do lixo ou algo do género.

Pedi à minha filha para não fazer barulho e destranquei a porta do quarto.

Desci as escadas devagarinho, sempre com a minha filha atrás de mim.

Passei a sala sem fazer barulho e olhei pela janela, pensando que poderia ver alguma coisa.

Não vi nada. Nem um único movimento.

Já estava suficientemente assustado com o facto de o Sol e a minha mulher terem desaparecido, mas agora, não havia palavras suficientes para descrever o meu medo.

Afastei-me ligeiramente da janela, preparando-me para fechar as cortinas, quando vejo uma mão bater no vidro.

Caí para trás com o susto e ouvi um pequeno grito da minha filha, que se assustou também.

Era um homem negro, parecia estar aflito. Mal viu que estava alguém na casa, correu até à porta e bateu nela.

- DEIXEM-ME ENTRAR! POR FAVOR! - ele gritou.

Eu queria ajudá-lo. A sério que queria. Mas havia algo dentro de mim que dizia que nada daquilo fazia sentido.

Tentem seguir o meu raciocínio. Ouvimos um barulho metálico, mas depois ficou um silêncio absoluto.

Viemos cá abaixo, mas não se via ninguém. Mas depois, do nada, aparece um homem a pedir ajuda como se não houvesse amanhã.

Ele não teria feito barulho a fugir do que quer que fosse?

- PAI! ESTÁS À ESPERA DO QUÊ? ABRE A PORTA! - gritou a minha filha ao ver o desespero do homem.

Só eu sabia onde estava a chave. Por essa razão a minha filha ainda não tinha aberto a porta ao estranho.

- Não, filha... Algo está errado. - respondi.

- POR FAVOR, NÃO ME DEIXE AQUI! - voltou a gritar o homem - ESTOU A FICAR SEM TEMPO!

Sem tempo? O que ele quereria dizer com isso?

Ele estava ali à cerca de cinquenta segundos. Vendo que não lhe ia abrir a porta, ele tentou arromba-la, sem sucesso. Ainda bem que tinha comprado uma porta mais resistente depois dos assaltos que houveram na rua há uns anos.

Quando passou exatamente um minuto, ele caiu no chão e desintegrou-se.

Os restos dele juntaram-se e transformaram-se numa matéria negra.

A matéria negra formou-se e tornou-se num ser humanoide feito de escuridão.

A minha filha gritou de novo e correu para trás de mim.

Aquela criatura ao olhar para nós, deu um golpe na janela, não a partindo completamente.

- BETHANY, CORRE! - gritei e ambos corremos para o andar de cima e voltamo-nos a trancar no quarto da minha filha.

- O que era aquilo? - perguntou a minha filha baixinho.

Eu ia responder, mas ouvi o resto da janela a partir-se no andar debaixo e passos logo a seguir.

Aquela coisa tinha entrado na casa...

Ouvimos muita mobília e loiça a partir-se no andar debaixo, mas parou.

Até que ouvimos passos nas escadas. A criatura vinha ao andar de cima.

Mais mobília foi partida quando aquilo estava no nosso andar.

Lembrei-me então da Revólver que pertencia ao meu pai... Mas estava no meu quarto. Não tinha como chegar lá.

Até que a criatura bateu na nossa porta de madeira, deixando um buraco no meio dela...

O Dia em que o Sol não voltou [CONCLUÍDO] Onde histórias criam vida. Descubra agora