Cinema vs Realidade

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Acabei de reparar que quase todas as histórias que as pessoas vibram ao assistirem numa tela de cinema são aquelas nas quais os protagonistas são capazes de ficar juntos no final. Ficamos sentados a aguardar o momento em que a história de vida dos personagens vai se cruzar de forma definitiva. Aguardamos ansiosos pelo instante em que todas as confusões, discussões e desencontros terão um final. Torcemos pelo "Final Feliz" dos casais ao término do filme.

Percebi que desde as comédias até os dramas, o sentimento do telespectador é o mesmo: a torcida pelo amor e a busca pela felicidade atrelada ao relacionamento a dois. Talvez o significado real disso seja a dificuldade que as pessoas possuem nos dias atuais de serem capazes de se doarem. A magia do cinema é para muitas pessoas a última esperança de que a vida imaginária das telas também possa ser reproduzida no campo pessoal, na vida real. Muitas passam por decepções amorosas e acabam por se fechar para novas oportunidades.

Acovardam-se diante da possibilidade de amar novamente. Algumas se encontram nas discussões e desencontros assistidos nas telas, mas não têm coragem de dar o passo rumo a um final feliz. Como podem se imaginar felizes se estão a fechar-se? Como podem se ver em um final feliz se não conseguem deixar novas pessoas participarem da sua vida? Sempre ouvi dizer que a arte imita a vida, mas creio que em se tratando de amor a história não é bem essa. As pessoas, em vez de doarem-se, estão esconder-se cada vez mais.

Relacionar-se virou um jogo de estratégia mais difícil do que disputar um campeonato mundial de xadrez. As pessoas passam a analisar tanto suas "jogadas amorosas" que o ato de amar não é mais sincero. Amor é sentimento, não um jogo de estratégia. As pessoas deveriam amar para estarem vivas. Para poderem crescer. Mas, em vez disso, as pessoas estão relacionar-se apenas por fraqueza. Para suprir uma necessidade pessoal egoísta. Estão amar a pensar apenas em si próprias. Esse sentimento em que prevalece o único, no lugar do par, não pode ser considerado amor. Talvez, por essa razão, ao vermos nas telas as pessoas tendo a coragem de se desculparem, de se doarem, de irem em direção ao conjunto, isso nos faça vibrar, torcer e até nos permitir chorar de emoção. Afinal, ali na tela está o que gostaríamos de sermos capazes de fazer e que na grande maioria das vezes não temos coragem.

Por que amar ficou tão difícil? O mundo está dar-nos tanto conforto, melhorando tanto nossa qualidade de vida, e como estamos retribuir? Estamos a ficar cada vez mais mimados e egoístas. Querendo tudo apenas para nós mesmos. Esquecemos que respeito, doação, liberdade, confiança fazem parte do real sentimento de amar. O que vemos nas telas deveria nos servir de guia para a vida real. Sim, a vida real também pode ser maravilhosa como observada nas telas. A diferença é que ali existe o objetivo de querer ser dois, e na vida real estamos a olhar apenas para nós mesmos. Não existe amor em um mundo onde só existe um.

Deixe a pessoa amada entrar no seu mundo. Não tenha medo de tentar. Tentando você sempre poderá acertar. Estando fechado ou jogando, ou, pior ainda, sendo egoísta nos seus sentimentos, a certeza será sempre de erro. Não pode haver felicidade se você só consegue se enxergar. O mundo não foi feito apenas em função da sua existência. Aprenda a somar, em vez de dividir.

Afirmo: isso é muito mais divertido em todos os sentidos da vida. Seja capaz de contribuir com sua parte. Isso fará a diferença no filme da sua vida. Pense nisso e construa o tão aguardado final feliz para seu mundo...

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