A literatura de autoajuda toma cada vez mais espaço nas livrarias, nos computadores, nas bolsas e cabeceiras das pessoas. Houve um tempo em que autoajuda era para malucos, maníacos-depressivos, pessoas fracas e sem amigos para conversar. Se bem que pensando bem talvez ainda seja, porque fizeram questão de colocar uns codinomes mais aceitáveis e menos taxativos como auto aperfeiçoamento auto aprimoramento e o mais elegante que temos até agora, o desenvolvimento pessoal. No fim é tudo autoajuda.
O que acontece é que as pessoas estão a procura da fórmulas, métodos e sistemas para atingirem seu objetivo final, que é o da realização pessoal, como já dizia Maslow e sua pirâmide da hierarquia das necessidades humanas. A Pirâmide de Maslow. Só que essa realização pessoal não está em objetos, posses e outras pessoas como muitos equivocademente pensam.
Marido, filho, Ferrari e cargos executivos não significam realização pessoal. Realização pessoal é também um outro termo elegante que inventaram, mas no fundo o que todo mundo busca é uma boa autoestima e paz de espírito.
Casamo-nos, temos filhos, compramos iates, vamos à academia e à igreja para no fim termos amor-próprio e paz de espírito.
Só que, apesar dessa maior busca pelo autoaprimoramento, não vemos as pessoas sendo mais felizes de acordo com o número de livros de autoajuda que leem. Se repararmos bem, cada autor ou escritor tem sua própria história de sucesso, depoimentos de seguidores que copiaram sua fórmula e também obtiveram sucesso, e muitos deles condenam as outras fórmulas dos outros autores, que por sua vez também possuem sua própria história de sucesso e seus seguidores com depoimentos emocionantes do quanto sua vida mudou para melhor.
Que confusão. É igual dieta e religião. Cada um diz uma coisa e o que não faltam são evidências para apoiar suas respectivas convicções e seguidores satisfeitos. Aí chega eu e você, tentamos as duzentas dietas infalíveis, os cem métodos de enriquecer, as trezentas receitas de como aumentar nossa autoestima e seguimos passo a passo os cinquenta métodos de como melhorar nosso relacionamento, somente para ver que entramos numa corrida de rato.
Aquela rodinha que se corre, corre mas não se sai do lugar. E os tantos depoimentos e casos impossíveis que foram solucionados? Pois é, não é de se estranhar que tanta autoajuda assim em vez de ajudar acaba por nos fazer sentir um fracasso.
Mas por que somente algumas pessoas conseguem emagrecer, ficar ricas, mudar de comportamento e atingir metas com facilidade? Elas são melhores que as outras?
Talvez elas realmente tenham algo que as outras não têm, mas eu não diria que sejam neurônios ou sorte, eu diria motivação. Sim, um motivo em ação, ou uma motivação se preferir. Por que quando estamos apaixonados fazemos coisas que normalmente não faríamos? Por que nos meses de janeiro e fevereiro as academias enchem mais? Por que quando estamos envolvidos em um projeto pessoal prazeroso, dormimos e nos alimentamos pouco, sem chamar isso de sacrifício?
Não há nada de místico em janeiro que faça os preguiçosos de repente sentirem vontade de malhar/treinar. Quantas vezes uma mulher só começa a cuidar de sua saúde e vitalidade quando nasce o primeiro neto, porque agora ela quer poder brincar com ele quando ele crescer.
Essas pessoas não leram livros ou fizeram cursos, elas simplesmente foram automotivadas por um desejo ardente. Então da próxima vez que eu quiser emagrecer eu não vou mais querer saber sobre a última dieta da moda ou pílula revolucionária. Também não vou confundir mais a minha cabeça lendo fórmulas mirabolantes do sucesso da vida de outras pessoas.
Agora eu vou olhar para dentro. Eu vou conhecer os desejos autênticos do meu coração e trocar o uso da força de vontade por uma motivação intrínseca. Eu sei que quando estamos a viver a conquista de um desejo autêntico do coração, o trabalho vira prazer, a antecipação da meta já nos faz sentir prazer no aqui e agora.
Para que eu quero emagrecer? Hoje eu não preciso, mas quando eu precisar, a qualidade da resposta a essa pergunta será a chave da certeza do meu sucesso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
NARRADOR
Non-FictionEu sempre disse que seria mais feliz sozinho. Teria meu trabalho. Meus amigos. Mas ter mais alguém na sua vida o tempo todo? São mais problemas que o necessário. Ao que parece, estou nesta situação. [...] Há um motivo para dizer que eu seria mais fe...