08 - O teste de química

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Por Malia.

Só consigo prestar atenção em Elis quando ela me cutuca para ir até a sala de aula. Era terça feira e essa não estava sendo uma boa semana. Ontem tivemos um teste surpresa de química e como esperado, meu déficit de atenção não me ajudou muito na hora do teste. Eu sabia que tinha ido mal. Mas ir mal no primeiro teste do ano letivo não era ruim, era péssimo. E para melhorar eu ainda tinha meus dois joelhos machucados por causa da queda de ontem. Chegamos até a sala de aula, onde eu esperava ansiosamente o senhor Smith chegar. Não tínhamos aula dele hoje mas ele disse que passaria lá para entregar as notas dos testes. Teríamos mais um teste avaliativo que decidiria as notas do bimestre, apesar de eu achar que ainda era muito cedo para as provas começarem. Mas o senhor Smith sempre era o primeiro a dar provas e depois de algumas boas semanas os outros professores começavam também. Ele sempre foi desesperado.

- Bom dia, Professor Miller. Só quero entregar as provas - o professor Miller assente e o Senhor Smith entra e distribui as folhas pela sala.

- Quanto valia? - uma garota questiona e agradeço mentalmente por isso.

- 10. - começa um burburinho na sala. Encaro meu teste com um belo 6 estampado de vermelho. Droga. Eu precisaria tirar 10 na próxima prova para ficar com pelo menos 8 de média - já que as médias eram a soma das notas divididas por 2 -.

O intervalo do almoço finalmente toca. Vou até a mesa dos surfistas, como de costume.

- E então a gente se beijou! - Sarah diz animada.

- Quem? - pergunto baixinho para Caleb.

- Justin. - reviramos os olhos ao mesmo tempo.

- Caleb, estou tão ferrada. - digo lembrando do meu teste de química.

- Por que, Mali? - o garoto passa o braço pelos meus ombros.

- Tirei 6 no teste de química. - digo e ele tenta esconder a cara assustada. - Não precisa disfarçar, eu sei que estou perdida. - digo e ele aperta os lábios

- É, você está. - ele comenta. - Mas você pode pedir ajuda para alguém que seja bom em química e se sair bem no próximo teste. - o garoto diz e penso um pouco.

- Tem razão. - ele sorri.

Depois da aula vou para a casa. Depois do almoço - e de algum tempo jogada na minha cama - resolvo ir até a loja do Senhor Fletcher para entregar a lista de coisas que ele precisa para a loja de surf. Coloquei em um caderninho anotado os tipos de prancha e um desenho de como elas são, bem ao lado. Coloquei também camisetas de surf, quilhas e algumas coisas que podem socorrer surfistas desesperados, como: protetor solar e parafina.

Caminho pela praia sentindo a areia adentrar meu chinelo e se alojar entre meus dedos. Caso eu não tenha falado, a loja do senhor Fletcher e literalmente no meio da praia, como se fosse um quiosque só que um quiosque de surf. Limpo a areia dos pés antes de entrar com o caderno e algumas folhas que vão servir de guia para o dono dessa loja.

- Malia? - Paul e Ethan parecem surpresos.

- É. Vim trazer a lista de materiais. - Paul assente e coloco o caderno no balcão. Os dois param do outro lado do balcão de madeira e parecem prestar muita atenção no que digo. - Eu montei uma tabela sobre como o peso e altura do surfista influencia na compra da prancha. - os dois parecem surpresos. - E fiz alguns desenhos nesse caderno sobre os formatos de pranchas e para que cada um serve. - Paul parece interessado em relembrar o assunto que tanto conhecia mas Ethan parece não entender muita coisa.

- Ótimo, querida. - o senhor Fletcher toca meu ombro. - Mais alguma dica? - ele pergunta apoiando os braços no balcão.

- Bem, como sua loja é literalmente no meio da praia, acho que o senhor deveria vender coisas que ajudam em imprevistos na vida de um surfista. Como: protetor solar e parafina. - comento enquanto encaixo as mãos nos bolsos de trás do meu short.

- Parafina? - Ethan pergunta.

- É. A parafina é passada na prancha para o surfista não escorregar. - Paul completa e assinto.

- Bom, preciso ir, tenho que estudar. - digo e saio da loja ainda vazia. Saio da praia com fones nos ouvidos escutando uma playlist melancólica para eu sofrer pela minha vida acadêmica. Andei bastante pela calçada da praia já que a loja do senhor Fletcher ficava uns bons metros mais a frente da minha casa - que era no final do calçadão-.

- Você anda muito rápido. - Ethan bate o pé no skate e o pega logo em seguida. Rio.

- O que você quer? - pergunto tirando os fones de ouvido.

- Tão simpática. - ele diz e levanto o dedo médio para ele. - É que meu pai precisa que eu trabalhe com ele na loja. - ele começa a caminhar do meu lado.

- Mas você não entende nada de surf. - o interrompo.

- Exatamente. - ele aponta o indicador para mim como se eu tivesse tirado as palavras da sua boca. - E aí eu pensei que você poderia me ajudar. - ele segura o skate na frente do corpo e com as duas mãos.

- Por que eu faria isso? - passamos do fim do calçadão Boardwalk e estamos quase chegando a minha casa.

- Por que você é uma garota legal? - pareceu mais uma pergunta do que uma afirmação.

- Não. - paramos em frente a minha casa mas do outro lado da rua - ainda na calçada da praia -.

- Por que? - o garoto pergunta.

- Não tô no clima. - cruzo os braços.

- E precisa de clima pra isso? - ele franzindo as sobrancelhas.

- Não sei, ok? - levanto as sobrancelhas, exasperada. - Peça ajuda ao Caleb. - digo pronta para atravessar a rua.

- Ele não vai muito com a minha cara. - o encaro esperando uma resposta. Já sei qual vai ser mas quero ouvir dele. - Porque eu ando com os atletas e ele os odeia.

- Ah, olha só que coincidência. Eu também. - me viro para atravessar a rua outra vez.

- Você tem raiva deles sem motivo. - o garoto justifica cruzando os braços na frente do corpo.

- Não é sem motivo, legal? - digo. - Se soubesse também os odiaria. - completo.

- Então me conta! - ele se aproxima.

- Não posso! - mantenho as mãos espalmadas na frente do corpo. - Só...esquece. Ok? - não dou tempo para o garoto continuar a conversa pois atravesso a rua correndo e cruzo o deck de casa. Olho para trás, ele está parado no mesmo lugar.

Um amor de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora