11 - A aposta

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Por Malia.

Segunda feira. O teste mais próximo era daqui a exatamente uma semana.

Não falei com Ethan depois do ocorrido na sexta. Caleb e Justin levaram uma advertência e por pouco não pegaram uma suspensão. É pouco pelo que aconteceu no corredor. É pouco por uma briga. Mas todos nós sabemos que o diretor aliviou a barra porque se Justin levar mais uma suspensão, é o suficiente para ele ser expulso da escola. Justin estava mais calmo - ou assustado por eu ainda lembrar de Jéssica Foster, não sei dizer-.

Observo Ethan pegar seu almoço e procurar com os olhos uma mesa para se sentar. Faço um sinal com a cabeça para ele se sentar conosco mas a mesa dos skatistas parece ter chamado o garoto loiro antes. Ele me lança um olhar de vou sentar com eles pois preciso de amigos que me entendam e não de um grupo de amigos que é completamente diferente de mim e lanço para ele meu melhor olhar de ok.
Faltavam quase 15 minutos para o fim do intervalo do almoço e como de costume os surfistas estavam sentados na arquibancada do campo de futebol. Eu observava Caleb contar sobre como foi na sala do diretor e como Justin ficou calado o tempo todo enquanto ouvia uma bela bronca do pai.

- Posso falar com você? - Ethan diz me encarando e sua fala atrai a atenção de todos os 10 surfistas que estavam conosco na arquibancada.

- Pode. - franzo as sobrancelhas e observo o garoto loiro se virar, descer as arquibancadas e ir até a lateral delas. O sigo rapidamente.

- O próximo teste é na segunda e também preciso estudar um pouco antes da prova - assinto. - Podemos estudar hoje a tarde? - penso um pouco.

- É...acho que sim. - ele sorri fraco.

- A loja do meu pai abre daqui há duas semanas e eu não sei absolutamente nada de surf. Você prometeu que iria me ajudar. - ele diz.

- Não prometi nada. - corrijo.

- Então prometa. Jure de dedinho. - ele estende o mindinho para mim e cruzo o meu mindinho com o dele. - Pode ser na minha casa? - pareceu mais uma pergunta do que uma afirmação.

- Pode ser no Venice Point. - sugiro. - É uma cafeteria na Venice Boardwalk. É o melhor lugar para estudar. - ele assente.

- Ok. No Venice Point. Às 3. - ele tira o celular do bolso, sei lá para quê. - Não se atrase. - ele aponta o indicador para mim.

- Eu nunca me atraso. - digo com um sorrisinho amarelo e volto a fofocar com os surfistas no assento mais alto da arquibancada.

[...]

Empurro as portas de vidro pesadas do Venice Point. As mesas são dispostas em formato de L e posso ver Ethan sentado na última mesa do café. Se não estivesse acostumada com esse lugar, seria atropelada por um dos garçons - que andam aqui dentro de patins - agora mesmo. Tiro minha mochila das costas e me sento no sofá vermelho e macio na frente do garoto loiro.

- Atrasada. - ele diz enquanto digita algo no celular.

Aperto o botão lateral do meu celular para ver as horas. 3:02 pm.

- 2 minutos. - coloco o celular na mesa e abro o zíper da mochila.

- Eu nunca me atraso. - ele repete minhas palavras mas com uma voz irritante.

- Cala a boca. - ele ri.

- Então... parece que rola uma química entre a gente. - paro de mexer na mochila para olhar o garoto loiro com uma expressão de eu queria não ter ouvido isso.

- Cala a boca. - repito e ele ri. - Essa foi péssima. - coloco o caderno em cima da mesa.

- Eu sei. - ele ri exibindo seus dentes perfeitos. - Só para descontrair. - ele ri outra vez.

- A gente descontrai depois, ok? Preciso memorizar isso. - digo exasperada.

- Você precisa aprender isso. - ele corrige.

- E não é a mesma coisa? - pergunto de sobrancelhas franzidas.

- Não. - ele diz como se fosse óbvio. - Memorizar é só guardar a informação e aprender...bem...aprender é...- ele escolhe as palavras.

- Guardar a informação. - completo e ele revira os olhos. - Podemos começar logo? - sugiro, já impaciente.

- Claro. - ele coça o queixo e posso ver sua barba começando a crescer.

Estudar com Ethan era fácil. Ele fazia parecer divertido e de repente, eu sabia as fórmulas de cabeça. Sabia a maioria dos elementos da tabela periódica e provavelmente saberia fazer a prova na semana que vem.

- Fiz uma prova para você resolver. - ele coloca uma folha na minha frente.

Tento prestar atenção mas posso sentir os olhos verdes em cima de mim. O que não me ajuda.

- Pare de olhar para mim. - digo sem tirar os olhos da prova e ele vira a cabeça para encarar lá fora. - Pronto. - entrego a prova para ele. Ele fica alguns minutos corrigindo a prova. Enquanto isso, tamborilo as unhas na mesa.

- Bem, de 5 questões você acertou 2.- bufo, frustrada.

- Resumindo minha situação: recuperação - digo e apoio a testa na mão.

- Não é ruim, você só precisa revisar algumas coisas. - ele diz com um sorriso amigável.

- Resumindo: recuperação. - digo colocando meus cadernos de volta na mochila.

- Pare de ser assim! - o garoto diz exasperado e o encaro. - Se você ficar com esse seu pessimismo não vai passar mesmo. - solto um risinho de deboche.

- E se eu ficar com esse seu otimismo, vou ficar ainda mais decepcionada quando for mal na prova. - ele revira os olhos. Pego minha mochila e me levanto, sem nem me despedir. Cruzo as portas de vidro da cafeteria e penduro a mochila em um dos ombros. Ouço a porta se abrir atrás de mim.

- Vamos apostar. - a voz de Ethan me faz parar e me virar de frente para ele lentamente. Posso ver seus cabelos loiros e compridos bagunçados porque ele - provavelmente - correu para me alcançar do lado de fora do café.

- O que? - franzo as sobrancelhas.

- Vamos apostar. - ele repete. - Se você ficar de recuperação, faço o que você quiser. Se você não ficar de recuperação, você faz o que eu quiser. - ele se aproxima.

- E o que você quer? - dou um passo a frente.

- Sair com você. - sua resposta me pega de surpresa. Quando eu contar isso para Elis, Anne e Sarah elas vão surtar. Confesso que surtei também, mas não deixei isso transparecer. Tinha que bancar a durona.

- Ok. - digo tentando fazer indiferença e ele tenta esconder um sorriso. Acho que não sou a única que tenta esconder sensações.

- E o que você quer? - ele fecha ainda mais o espaço entre nós e minha respiração fica acelerada.

Penso um pouco antes de responder.

- Se eu ficar de recuperação você vai me ajudar a estudar para a prova final. - digo e ele assente. Era muito pouco pelo que ele pediu em troca. - E...me ensinar a andar de skate. - completo e ele ri.

- Quer aprender a andar de skate? - ele pergunta com os braços cruzados.

- Porque não poderia? Eu praticamente já ando de skate mas o meu é levado pelas ondas e não por rodinhas. - ele ri.

- Não disse que você não pode. - ele rebate. - Ok, trato feito.

- Trato feito. - repito e apertamos as mãos um do outro.

Um amor de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora