Por Malia.
Era sábado. O senhor Fletcher iria pintar a loja hoje e eu iria ajudar - como disse a Ethan -. Vesti um short jeans e uma blusa azul de alcinhas que deixava uma pontinha de minha barriga a mostra. Calcei meus chinelos coloridos de praia e prendi o cabelo em um rabo de cavalo alto. Caminhei calmamente com meus fones de ouvido até a cabana do senhor Fletcher.
- Você veio. - meu pai diz quando me vê entrando na loja dos Fletcher.
- É, eu vim. - o abracei de lado.
- Bom, se vocês quiserem começar pintando a loja, podem começar. Eu e Nicholas vamos até a cidade vizinha pegar as coisas que comprei para a loja. Talvez iremos demorar, não sei ainda. - o senhor Fletcher diz e assinto com a cabeça.
Logo os dois saíram na caminhonete azul do senhor Fletcher.
- Pai, eu...- Ethan diz cruzando a porta atrás do balcão mas para assim que me vê.- Ora, vejo que a minha aluna favorita aceitou meu convite. - ele cruza a portinha baixa que separa o balcão do resto da loja.
- Continuo sendo sua única aluna. - corrijo. Ele se abaixa atrás do balcão para pegar as latas de tinta e me entrega uma delas.
- Não mais. - ele aponta o indicador para mim como se esperasse que eu dissesse isso. - Agora estou dando aula de reforço de química para Eliza Hollister também. - pego uma lata de tinta da sua mão
- Eliza Hollister? - ele assente - A líder de torcida? - rio. - Acho que ela passou a perna em você. Ela é ótima em química. - ele ergue as sobrancelhas.
- Por que ela faria isso? - continuamos com o trabalho de tirar as latas de tinta de trás do balcão.
- Para passar tempo com você? - digo - como se fosse óbvio - mais parecendo uma pergunta do que uma afirmação. - Não é óbvio?
- Não pra mim. - ele me entrega a última lata de tinta. E sai de trás do balcão.
- Nada é óbvio para os garotos. - digo e ele põe a mão no peito, como se eu tivesse o ofendido.
Colocamos as latas de tinta do lado de fora da loja. Desci as escadas do pequeno deck - que batia na minha cintura quando eu ficava na areia - para poder abrir as latas e descobrir quais eram de qual cor. Ethan sai de dentro da loja com rolinhos de tinta e pincéis.
- Qual você acha melhor? - ele estava sem camiseta. Fico parada por alguns segundos apenas analisando aquela cena. - Malia?
- Ah...eu...eu não sei. Talvez os rolinhos. - volto minha atenção para as latas de tintas antes que faça - mais ainda - papel de tonta.
Subo no deck, Começamos a pintar a frente da cabana. Fizemos uma faixa ondulada com tinta laranja bem no meio da parede de madeira e em seguida pintamos a parte de cima da faixa de azul e a de baixo de verde água, como eu tinha imaginado.
Ethan pega os pincéis para podermos pintar perto da faixa laranja sem borrar, pois os rolinhos eram muito grandes e nada delicados para se fazer pinturas cuidadosas. Sinto um líquido gelado tocar minha bochecha. Fico sem entender e coloco a mão na bochecha. Arregalo os olhos quando vejo que meus dedos que tocaram minha bochecha estão com as pontas pintadas de azul. Como...?
Olho para Ethan e ele me encara com um sorrisinho convencido.
Dou um soco em seu braço e ele reclama de dor.
- Você é forte. - ele massageia o braço que soquei.
- Eu sei. - sorrio convencida. - Se isso não sair, você será um garoto morto. - passo a mão na bochecha tentando limpar.
- Eu te chamei 5 vezes, Malia. Você não me olhou, pensei que estivesse me ignorando como fez na biblioteca. - ele diz rindo.
- Não faço de propósito.
- Duvido. - ele volta a pintar a parede.
- Tenho déficit de atenção. - digo depois de alguns segundo em silêncio ainda sem olhar o garoto loiro.
- Sério? - ele para de pintar a parede para me encarar.
- Sim. Pensei que já tivesse percebido. - ele franze as sobrancelhas loiras. - Minha dificuldade em aprender química, meu hiper foco em certas coisas, esquecimentos constantes, nunca relacionou tudo isso? - ele nega com a cabeça.
- Eu sinto muito, de verdade. - o encaro.
- Relaxa. Não é como se eu tivesse uma doença raríssima sem cura e estivesse em estado terminal. - ele ri fraco. - Já me acostumei. - o empurro de leve com o ombro e ele ri. Pego o pincel molhado de tinta e passo na sua bochecha. Ele abre a boca incrédulo.
- Como você pode? - ele faz drama e rio.
- Vingança. - sorrio.
Depois de pintarmos toda a loja, eram quase 6 da tarde. Já que vim para cá quando eram 9 da manhã e só terminamos agora fazendo pausas curtas para água e lanche.
Ethan estava sentado no deck em frente a loja - de costas para mim e de frente para o mar -e eu estava estirada no mesmo. Encarei suas costas nuas. Os músculos das costas eram fortes e seus ombros eram atraentemente largos. Fechei os olhos e senti o vento gostoso que essa praia tem. Algum tempo depois, meu pai e o senhor Fletcher chegam na caminhonete azul - que agora estava com o compartimento de carga cheio de itens de surf.-Olha aí, os pintores. - meu pai brinca e eu rio.
- Vocês precisam de ajuda para descarregar a caminhonete? - Ethan se levanta do deck e bate a mão na bermuda para tirar a areia.
- Não. Vocês já trabalharam demais por hoje, podem descansar. - o pai de Ethan diz. Me sento no deck.
- Podem deixar que assumimos o serviço daqui.
- Georgia, minha esposa, vai chegar daqui a pouco para nos ajudar a limpar e organizar tudo. - o senhor Fletcher sobre no deck com a gente e para os olhos nas paredes já pintadas. Ele estava tão elétrico que não tinha percebido.
- Caraca, vocês mandaram muito bem. - meu pai diz e sorrimos.
- Jesus, não acredito que já vamos abrir amanhã. - senhor Fletcher suspira. - Vocês mandaram muito bem, camaradas. Muito obrigado. - ele nos abraça. - Bem, temos muito o que limpar e arrumar. Vão se divertir na praia, crianças. - o senhor Fletcher e meu pai entram na loja.
- Crianças. - Ethan repete a frase do pai e solta um risinho. - 18 anos mas ainda somos crianças. - ele passa a mão nos cabelos loiros e compridos.
- Bem, eu ainda tenho 17.
- Ah sim, agora tudo faz sentido. Você com certeza é uma criança com essa idade. - ele diz e rio. Nos sentamos no deck e observei nossos pés balançarem. Estar com Ethan depois de ele ter saído do grupo dos atletas era diferente. Ele estava diferente. Eu sabia que ele começaria a se tornar um deles. Já estava começando. Mas o acontecido no corredor e depois de saber a verdade sobre Jéssica Foster e o quanto Justin Campbell era idiota, duvido que ele fosse um idiota para voltar para o grupo deles. Ele não parecia ser assim, pelo tempo curto de um mês que eu o conhecia. Minha mãe diz que eu tenho o poder de ver a alma das pessoas pois sempre que digo que elas são mau caráter, acerto. Aconteceu com Justin, Noah, Elena - minha inimiga da época do primário que me acusou de ter roubado todas as sua borrachinhas em formato de bichinhos e semanas depois a mãe dela encontrou todas as 24 borrachas em uma caixa no quarto de garota. E sim, ela tinha mesmo 24 borrachas em formato de bichinhos e era mesmo uma coleção invejável mas eu jamais roubaria algo. - e também com Alice - uma amiga de Maya que vivia quebrando as coisas dela e dizendo que foi sem querer, mesmo sabendo que era impossível quebrar certas coisas. Qual é, como se arranca 3 páginas de atividades sem querer. Pois é, ela fez isso no caderno de Maya.
Eu via a alma dele. Era amarela e quente. Brilhante. Era uma alma boa. Eu sentia isso.
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Um amor de verão
RomanceA surfista Malia Harper vive na Califórnia com sua família. Em um dia qualquer, um garoto novo chega em sua escola. Apesar de suas amigas parecerem caidinhas pelo novato, Malia odeia seu jeito sabichão e sarcástico de ser. Até perceberem que precisa...