14 - A pintura da loja de artigos de surf

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Por Malia.

Era sábado. O senhor Fletcher iria pintar a loja hoje e eu iria ajudar - como disse a Ethan -. Vesti um short jeans e uma blusa azul de alcinhas que deixava uma pontinha de minha barriga a mostra. Calcei meus chinelos coloridos de praia e prendi o cabelo em um rabo de cavalo alto. Caminhei calmamente com meus fones de ouvido até a cabana do senhor Fletcher.

- Você veio. - meu pai diz quando me vê entrando na loja dos Fletcher.

- É, eu vim. - o abracei de lado.

- Bom, se vocês quiserem começar pintando a loja, podem começar. Eu e Nicholas vamos até a cidade vizinha pegar as coisas que comprei para a loja. Talvez iremos demorar, não sei ainda. - o senhor Fletcher diz e assinto com a cabeça.

Logo os dois saíram na caminhonete azul do senhor Fletcher.

- Pai, eu...- Ethan diz cruzando a porta atrás do balcão mas para assim que me vê.- Ora, vejo que a minha aluna favorita aceitou meu convite. - ele cruza a portinha baixa que separa o balcão do resto da loja.

- Continuo sendo sua única aluna. - corrijo. Ele se abaixa atrás do balcão para pegar as latas de tinta e me entrega uma delas.

- Não mais. - ele aponta o indicador para mim como se esperasse que eu dissesse isso. - Agora estou dando aula de reforço de química para Eliza Hollister também. - pego uma lata de tinta da sua mão

- Eliza Hollister? - ele assente - A líder de torcida? - rio. - Acho que ela passou a perna em você. Ela é ótima em química. - ele ergue as sobrancelhas.

- Por que ela faria isso? - continuamos com o trabalho de tirar as latas de tinta de trás do balcão.

- Para passar tempo com você? - digo - como se fosse óbvio - mais parecendo uma pergunta do que uma afirmação. - Não é óbvio?

- Não pra mim. - ele me entrega a última lata de tinta. E sai de trás do balcão.

- Nada é óbvio para os garotos. - digo e ele põe a mão no peito, como se eu tivesse o ofendido.

Colocamos as latas de tinta do lado de fora da loja. Desci as escadas do pequeno deck - que batia na minha cintura quando eu ficava na areia - para poder abrir as latas e descobrir quais eram de qual cor. Ethan sai de dentro da loja com rolinhos de tinta e pincéis.

- Qual você acha melhor? - ele estava sem camiseta. Fico parada por alguns segundos apenas analisando aquela cena. - Malia?

- Ah...eu...eu não sei. Talvez os rolinhos. - volto minha atenção para as latas de tintas antes que faça - mais ainda - papel de tonta.

Subo no deck, Começamos a pintar a frente da cabana. Fizemos uma faixa ondulada com tinta laranja bem no meio da parede de madeira e em seguida pintamos a parte de cima da faixa de azul e a de baixo de verde água, como eu tinha imaginado.

Ethan pega os pincéis para podermos pintar perto da faixa laranja sem borrar, pois os rolinhos eram muito grandes e nada delicados para se fazer pinturas cuidadosas. Sinto um líquido gelado tocar minha bochecha. Fico sem entender e coloco a mão na bochecha. Arregalo os olhos quando vejo que meus dedos que tocaram minha bochecha estão com as pontas pintadas de azul. Como...?

Olho para Ethan e ele me encara com um sorrisinho convencido.

Dou um soco em seu braço e ele reclama de dor.

- Você é forte. - ele massageia o braço que soquei.

- Eu sei. - sorrio convencida. - Se isso não sair, você será um garoto morto. - passo a mão na bochecha tentando limpar.

- Eu te chamei 5 vezes, Malia. Você não me olhou, pensei que estivesse me ignorando como fez na biblioteca. - ele diz rindo.

- Não faço de propósito.

- Duvido. - ele volta a pintar a parede.

- Tenho déficit de atenção. - digo depois de alguns segundo em silêncio ainda sem olhar o garoto loiro.

- Sério? - ele para de pintar a parede para me encarar.

- Sim. Pensei que já tivesse percebido. - ele franze as sobrancelhas loiras. - Minha dificuldade em aprender química, meu hiper foco em certas coisas, esquecimentos constantes, nunca relacionou tudo isso? - ele nega com a cabeça.

- Eu sinto muito, de verdade. - o encaro.

- Relaxa. Não é como se eu tivesse uma doença raríssima sem cura e estivesse em estado terminal. - ele ri fraco. - Já me acostumei. - o empurro de leve com o ombro e ele ri. Pego o pincel molhado de tinta e passo na sua bochecha. Ele abre a boca incrédulo.

- Como você pode? - ele faz drama e rio.

- Vingança. - sorrio.

Depois de pintarmos toda a loja, eram quase 6 da tarde. Já que vim para cá quando eram 9 da manhã e só terminamos agora fazendo pausas curtas para água e lanche.
Ethan estava sentado no deck em frente a loja - de costas para mim e de frente para o mar -e eu estava estirada no mesmo. Encarei suas costas nuas. Os músculos das costas eram fortes e seus ombros eram atraentemente largos. Fechei os olhos e senti o vento gostoso que essa praia tem. Algum tempo depois, meu pai e o senhor Fletcher chegam na caminhonete azul - que agora estava com o compartimento de carga cheio de itens de surf.

-Olha aí, os pintores. - meu pai brinca e eu rio.

- Vocês precisam de ajuda para descarregar a caminhonete? - Ethan se levanta do deck e bate a mão na bermuda para tirar a areia.

- Não. Vocês já trabalharam demais por hoje, podem descansar. - o pai de Ethan diz. Me sento no deck.

- Podem deixar que assumimos o serviço daqui.

- Georgia, minha esposa, vai chegar daqui a pouco para nos ajudar a limpar e organizar tudo. - o senhor Fletcher sobre no deck com a gente e para os olhos nas paredes já pintadas. Ele estava tão elétrico que não tinha percebido.

- Caraca, vocês mandaram muito bem. - meu pai diz e sorrimos.

- Jesus, não acredito que já vamos abrir amanhã. - senhor Fletcher suspira. - Vocês mandaram muito bem, camaradas. Muito obrigado. - ele nos abraça. - Bem, temos muito o que limpar e arrumar. Vão se divertir na praia, crianças. - o senhor Fletcher e meu pai entram na loja.

- Crianças. - Ethan repete a frase do pai e solta um risinho. - 18 anos mas ainda somos crianças. - ele passa a mão nos cabelos loiros e compridos.

- Bem, eu ainda tenho 17.

- Ah sim, agora tudo faz sentido. Você com certeza é uma criança com essa idade. - ele diz e rio. Nos sentamos no deck e observei nossos pés balançarem. Estar com Ethan depois de ele ter saído do grupo dos atletas era diferente. Ele estava diferente. Eu sabia que ele começaria a se tornar um deles. Já estava começando. Mas o acontecido no corredor e depois de saber a verdade sobre Jéssica Foster e o quanto Justin Campbell era idiota, duvido que ele fosse um idiota para voltar para o grupo deles. Ele não parecia ser assim, pelo tempo curto de um mês que eu o conhecia. Minha mãe diz que eu tenho o poder de ver a alma das pessoas pois sempre que digo que elas são mau caráter, acerto. Aconteceu com Justin, Noah, Elena - minha inimiga da época do primário que me acusou de ter roubado todas as sua borrachinhas em formato de bichinhos e semanas depois a mãe dela encontrou todas as 24 borrachas em uma caixa no quarto de garota. E sim, ela tinha mesmo 24 borrachas em formato de bichinhos e era mesmo uma coleção invejável mas eu jamais roubaria algo. - e também com Alice - uma amiga de Maya que vivia quebrando as coisas dela e dizendo que foi sem querer, mesmo sabendo que era impossível quebrar certas coisas. Qual é, como se arranca 3 páginas de atividades sem querer. Pois é, ela fez isso no caderno de Maya.
Eu via a alma dele. Era amarela e quente. Brilhante. Era uma alma boa. Eu sentia isso.

Um amor de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora