15 - A inauguração

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Por Malia.

Balancei os pés para tirar a areia assim que subi no deck da loja do senhor Fletcher. A porta de madeira azul estava encostada e a empurrei devagar até ver meu pai, Ethan e o senhor Fletcher lá dentro. Os três deixaram de conversar para me encarar.

Era hoje. A inauguração da loja do senhor Fletcher em pleno domingo. Sim, em pleno domingo. A desculpa que o senhor Fletcher deu é que causaria muito impacto uma loja inaugurar em um domingo mas a senhora Fletcher diz que é porque ele estava tão ansioso que não aguentaria esperar até segunda feira. E todos nós sabíamos que isso era verdade.

Eu estava com um short jeans claro e uma blusinha branca de alcinhas - com um biquini amarelo por baixo porque com certeza eu daria um mergulho no mar no final do dia-. Calcei meus chinelos coloridos de praia e prendi o cabelo em um rabo de cavalo folgadinho.

- Demorei? - encostei a porta atrás de mim.

- Um pouco. - meu pai diz e faço uma careta.

- Já arrumei tudo lá dentro. - Ethan cruza a porta traseira que levava até um pequeno corredor com três portas - um banheiro, uma cozinha minúscula e um quartinho de limpeza-.

Ethan usava uma regata branca e shorts azul claro. Metade de seu cabelo loiro estava preso em um coque minúsculo e a outra metade estava solta. Não vou mentir, ele estava parecendo um surfista. E estava lindo também.

- Já vamos abrir, ok? - todos assentimos.

As grandes portas azuis foram abertas e em questão de minutos, aquela loja estava cheia. Existiam muitos surfistas. Los Angeles. Eu mesma conheço muitos e não é nem a metade do número de surfistas que existem nesta cidade. Porque, jesus, essa cidade é enorme.

Atendi alguns clientes com Ethan e ele até se saiu bem. Ainda não lembrava os nomes dos bicos de pranchas mas pelo menos sabia o que era uma quilha, já é um começo.

- Olá, querida. Onde ficam as camisetas de surf? - uma garota alta e morena acompanhada de outras duas garotas me pergunta.

- Vou levar vocês até lá. - sigo para as prateleiras que ficam perto da entrada da loja. Paro em frente a uma arara cheia de camisetas. - Aqui estão.

- Ah meu deus, essa é linda. - a garota de cabelos castanhos curtos pega uma camiseta de surf preta que é bem maior que ela. Tamanho GG, sendo modesta. A garota era magra. Essa camiseta era péssima para ela.

- Olha, se quer uma dica, acho que deveria escolher outra camiseta. - as três param de mexer na arara para me olhar. - Essa é muito grande para você e essas camisetas têm que ficar um pouco justinhas se não você vai se atrapalhar toda enquanto surfa. - sorrio amigavelmente.

- Tudo bem, eu nem surfo. - ela completa e as amigas riem.

- Ah, então ainda vai começar? - me apoio na estante atrás de mim.

- Não mesmo. - a garota morena de cabelos cacheados ri.

- É para impressionar os garotos. Eles adoram surfistas. - fico paralisada por alguns segundos. Elas estavam mesmo fazendo isso? E os garotos tem mesmo uma quedinha por surfistas? Ótimo para mim.

Droga, Malia. Pare com isso.

- Você está falando sério? - pergunto ainda sem acreditar.

- Sim. Por que não estaria? - "por que é ridículo?". Penso, mas não digo.

- Olha, não acho que vocês precisem fingir ser quem não são para impressionar garotos. - elas me olham por alguns segundos e depois soltam um risinho. Respiro fundo, não posso discutir com clientes.

- Olhem aquele ali! - uma delas grita para as amigas mas estou ocupada demais encarando meus sapatos para ver do que elas estavam falando.

- Adoro loiros! - loiros? Mas que diabos elas estão falando?
Levanto o olhar e vejo as garotas observando Ethan de longe. Reviro os olhos.

- O surfista gato vai amar ver a gente vestida de surfista! - tento não deixar minha indignação transparecer. Como pode alguém dizer coisas tão estúpidas?

- Aquele ali não é surfista. - digo desencostando da estante.

- Como não?

- Ele curte mais skate. - elas assentem e voltam o olhar para ele ao mesmo tempo.

- Ele tem cara de surfista. - dou de ombros. - Você tem cara de surfista. - ela diz analisando cada centímetro de pele do meu corpo.

- Eu sou. - elas sorriem falsamente.

- E ele é seu namorado? - a mais baixa pergunta.

- O que? Não! Não mesmo!

- Que bom. - uma delas diz com um olhar ameaçador.

- Eu vou atender outros clientes. Caso precisem de algo, podem me chamar. - elas nem me dão ao trabalho de me responder. Saio dali o mais rápido possível. Que situação desconfortável.
Atendi mesmo mais alguns outros clientes e no final do dia. Quando a loja estava quase ficando vazia, senhor Fletcher nos liberou e ainda comprou picolé para todos os funcionários - que consistiam em: meu pai (que estava só para ajudar na inauguração) Paul Fletcher, Ethan, eu ( que também estava só para ajudar na inauguração) e um garoto baixinho e magro que eu nem sequer sabia o nome-. Ethan e eu ficamos sentados no deck, como no outro dia. Observando nossos pés balançarem. O deck da loja era alto. Ainda faltava um bom espaço até meus pés tocarem na areia. Terminei de tomar meu picolé e me estiquei para jogar o palitinho na lixeira perto de nós. Ethan pegou o meu palito e o dele e acabou colocando na mesma. Ele voltou a se sentar do meu lado.

- Os skatistas são legais? - pergunto quebrando o silêncio.

- Muito. Muito mais que os babacas dos atletas. - sorrio pela palavra babacas.

- Finalmente você percebeu. - ele ri. O garoto se deita no deck e fecha os olhos. Continuo sentada e não posso negar que observei seu rosto. Cada centímetro, para ser mais exata. Parecia irreal. Surreal. Parecia falso. Ou perfeito. Não sei dizer. Seus lábios eram hidratados e levemente vermelhos. Seus cabelos estavam bagunçados e ainda assim eram bonitos. Seus cílios eram longos e ele tinha uma pinta bem acima da sobrancelha direita.

- Quer nadar? - ele diz ainda de olhos fechados.

- Pensei que você nunca fosse perguntar. - ele ri e se senta. Fico em pé. - Não olhe. - digo e ele franze as sobrancelhas.

- O que?

- Para o meu biquíni. - viro de costas e puxo a blusa, ficando só de biquíni de shorts.

- Por que eu faria isso? - sinto vontade de sorrir por sua inocência. Ou por pelo menos não ser um babaca que fica secando garotas com os olhos.

- Porque Noah fez. - afirmo e ele se levanta e arranca a camiseta.

- Eu não sou o Noah. - retiro o short jeans e o coloco junto com a minha blusa.

- Mas pode ser igual.

- Não mesmo.

- Prove. - digo provocando e ele ri. Desço as escadas do deck e dou mais alguns passos antes de olhar para trás e ver o garoto parado no mesmo lugar. - O que está esperando? Vamos! - ele desce as escadas rapidamente.

- Você é inacreditável. - ele diz em meio a risos antes de sair correndo para o mar e me deixar para trás. Suspirei e depois de alguns segundos corri para o mar atrás do garoto loiro.

Um amor de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora