Por Malia.
Era sábado. Desde a inauguração - há 6 dias - fui até o SurFletcher todos os dias depois da aula. Ethan já estava aprendendo tudo. Aprender praticando é o modo mais fácil. Os estudos com o garoto estavam indo muito bem. Consegui tirar notas suficientes nos testes para o primeiro bimestre - em agosto e setembro -. Era início de outubro e eu só precisava passar nos últimos dois testes para fechar o ano com chave de ouro. Mas como nem tudo são flores, eu precisava estudar para passar nos testes. Apesar de Ethan fazer parecer fácil. Ainda era meio complicado.
- Esses estão certos. - ele me entrega uma folha com dois exercícios que eu resolvi. Depois pega outra folha com mais dois exercícios e a analisa por um tempo. - Esses também estão certos. - solto a respiração que eu nem me lembrava que estava presa. - Você foi muito bem. - ele apoia o queixo na mão.
- Digamos que eu já posso roubar seu cargo de aluno de ouro do senhor Smith - ele finge uma expressão de puro horror.
- Você não faria isso!
- Será que não? - levo minha xícara de chocolate quente até os lábios.
- Faltam quantos testes até o final do ano? - Ethan pergunta com as mãos nos bolsos do moletom.
- Dois. - coloco a xícara amarela na mesa.
- Ok. Dois. - ele repete. - E eu já sei quase tudo sobre surf.
- Só falta saber surfar. - ele ri.
- Então falta pouco até você não ficar de recuperação e eu ganhar a nossa aposta. - ele estampa um sorrisinho amarelo no rosto lindo. No rosto bronzeado, não lindo.
Quer dizer...no rosto bronzeado e lindo.
Quer dizer...não sei porquê estou disfarçando, não é como se vocês não soubessem que o garoto é lindamente bronzeado e bronzeadamente lindo. A Califórnia fez bem para ele.
- Quanta autoconfiança!
- Eu já sabia desde o começo que eu iria ganhar essa aposta. - ele se gaba.
- Você ainda não ganhou.
- É, mas eu só perderia se você fosse mal nas provas e você não está indo.
- Eu poderia ir mal nas provas de propósito. Nunca se sabe. - ele me olha com uma expressão duvidosa.
- Você não faria isso. - concordo. É verdade. Por que eu me auto sabotaria de propósito? - Você é inteligente, Malia. Só tem um pouco mais de dificuldade em certas matérias.
- Na maioria delas. - completo.
- É. Mas você não precisa ser boa em tudo. Você já é boa no surf. Não precisa ser necessariamente boa em química. - ele tenta argumentar.
- O surf não vai me garantir uma vaga na faculdade. - beberico um pouco mais do meu chocolate quente.
- Talvez a química também não. Você não sabe o que quer fazer ainda, certo? - assinto. - Você é boa em gramática. E é boa em biologia. Talvez você só não se identifique com química. - suspiro. Ele pode ter razão.
- E você já sabe o que quer fazer?
- De faculdade? - assinto. - Ainda não tenho certeza. O corpo humano é tão fascinante. Queria mesmo fazer medicina. Mas as notas são tão altas.
- Não é impossível.
- Eu sei. Mas é quase impossível. - rio.
- Minha mãe conseguiu.
- Sua mãe é médica? - ele arregala os olhos verdes.
- Sim. Neurocirurgiã, para ser mais exata. - dou de ombros.
- Deixa eu ver se eu entendi. A sua mãe. É neurocirurgiã. E você. Não me fala. Nada? - ele fala pausadamente.
- Você não perguntou! - me defendo.
- E precisa perguntar para você me contar uma coisa incrível dessas?!
- Claro. Não posso chegar nos lugares e dizer "Oi, meu nome é Malia Harper e minha mãe é neurocirurgiã". - ele ri.
- E eu não posso chegar dizendo "Oi, meu nome é Ethan Fletcher, por acaso seus pais são médicos?" - rio. Ele fixa os olhos verdes nos meus. Desvio o olhar. Nunca consigo encará-lo nos olhos.
A garçonete recolhe nossas xícaras vazias.
- Está sendo um outono frio, né? - comento enfiando as mãos no canguru do moletom.
- Está sim. - ele olha pela janela de vidro ao lado da nossa mesa - Já sabe do que vai fantasiada no Halloween?
- Não mesmo, o halloween é só no final do mês. Ainda tenho tempo. - ele umedece os lábios. - Mas provavelmente Anne e Elis vão me fazer usar uma fantasia combinando com a delas. - ele ri. - E você?
- É surpresa. Não posso contar. - levanto as sobrancelhas. - Vou arrasar e você só vai poder ver na hora.
- Você é perverso! - ele ri.
Fomos embora andando. Nossas casas eram tão perto do Venice Point mas dessa vez Ethan ia ficar no SurFletcher com o pai e eu ia ficar o final da tarde no quiosque pois não ajudei lá a semana toda. O quiosque era mais perto então cheguei primeiro.
- Que bom que chegou, Mali. - meu pai suspira aliviado quando me vê.
- Aconteceu alguma coisa? - pergunto preocupada.
- Aconteceu. Maya arrumou confusão na escola ontem. - solto o ar dos pulmões acompanhado de um risinho. - A diretora marcou uma reunião com um responsável dela. A reunião é daqui a 20 minutos e sua mãe só chega às 7. - olho as horas no celular. 5:30pm.
- Eu fico aqui para você. - ele sorri e beija minha testa.
- Obrigada, Mali. - ele pega as chaves de casa em cima do balcão. - Oi, Ethan. Nem te vi aí, cara. - ele dá um tapinha no ombro de Ethan e sai de lá.
Dou a volta e entro atrás do balcão.- Então...Mali, não é?
- Você não pode usar esse apelido comigo. - ele ri.
- Então terei que inventar um. - tento segurar um sorriso.
- Nem começa. - ele ri outra vez.
- Que tal Lia? - levanto as sobrancelhas.
- Tenho que dizer que não é tão ruim assim.
- Então, Lia. - sorrio. - O que vai fazer na sexta a tarde? - meu coração dispara. Ele vai mesmo me chamar para sair? Como um encontro?
- Nada planejado.
- Os garotos e eu vamos explorar a Venice Boardwalk a tarde. Se vocês quiserem vir conosco. - e com vocês ele quer dizer, Elis, Anne e eu.
- Ah, claro. Por que não? Adoraríamos. - ele sorri.
- Ótimo.
- Ótimo - repito.
- Então, até sexta. - ele se afasta.
- Ainda vamos nos ver na escola na segunda. - ele aponta o indicador para mim como se tivesse acabado de ser lembrar.
- Até segunda.
- Até. - observo o garoto se afastar. Me encosto no balcão e suspiro.
Definitivamente não será como um encontro.
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Um amor de verão
Roman d'amourA surfista Malia Harper vive na Califórnia com sua família. Em um dia qualquer, um garoto novo chega em sua escola. Apesar de suas amigas parecerem caidinhas pelo novato, Malia odeia seu jeito sabichão e sarcástico de ser. Até perceberem que precisa...