ℭ𝔥𝔞𝔭𝔱𝔢𝔯 6

82 26 225
                                    


O resto da semana passou da forma mais lenta e tediosa possível, a maioria dos alunos do terceiro ano já tinham começado a surtar desde o início do ano, mas após as férias, todo mundo pirou de vez, eram provas e mais provas chegando, as cartas de aprovação ou rejeição jorravam nos corredores, o SAT estava com os pés nas nossas portas e eu duvidava seriamente que qualquer aluno do ano ainda tinha o mínimo de saúde mental depois de tudo aquilo. Por isso, quando Charlize Houston anunciou que naquele mesmo fim de semana sua casa estaria sem nenhum responsável e regada de bebidas alcoólicas e qualquer outra típica de estar em uma festa adolescente, todo o ensino médio só conseguia pensar naquilo, a chamada por todos de melhor festa do ano, a mesma coisa que haviam falado da última festa que tivemos, era o maior e mais comentado assunto que corria pelos corredores da Academia Vanshoff.

Por conta do jantar de despedida que os pais de Suzie fizeram antes de viajarem naquele mesmo sábado, combinamos de nos encontrar na mansão de Charlize, aproveitarmos o máximo possível e voltar completamente bêbadas para sua casa, onde passaríamos o domingo nos curando da mais que garantida ressaca. Era um ótimo plano, sem possibilidade de falhas, pelo menos era o que eu pensava, antes de avisar à meus pais que dormiria na casa de minha melhor amiga e receber um belo banho de água fria de meu pai, que me falou que eu só poderia sair de casa caso conversasse com minha mãe, nem preciso dizer que eu ri com gosto do comentário, pensando seriamente que fosse uma boa e velha piada.

— Você pode ter certeza que não é nenhuma brincadeira. — Ele disse sério— Eu não aguento mais vocês duas sem se falar nessa casa. Por isso, ou você fala com ela, ou não sai.— ele disse dando de ombros como se aquilo não o afetasse em nada, o que provavelmente era verdade.

Bem, depois disso é óbvio que a minha lista de coisas que não deveria fazer aumentou em um tópico. Eu nunca tinha fugido de casa, mas honestamente não era muito difícil, eu tinha total liberdade para trancar a porta de meu quarto sempre que quisesse, o que não era algo muito usual, e meus pais nunca me incomodavam quando ela estava trancada. Como grande parte dos prédios de Nova Iorque, o meu não era uma exceção e possuía aquela característica escada de incêndio que cercava toda a fachada, perfeito para descer, e quando chegasse no fim da escada, uma pequena altura me distanciava do solo, não alto o suficiente para causar um machucado com a queda, me traria a tão almejada liberdade, eu só teria que chegar em casa mais cedo do que o esperado para não causar nenhuma suspeita.

O caminho até a festa não era nem muito complicado nem muito longe, o metrô me deixaria duas quadras da casa o que era considerado bem tranquilo. Por sorte consegui um assento no caminho, então meus pés ainda não reclamavam por conta do salto, mesmo sendo uma festa qualquer, era uma festa de Charlize, e vários boatos de que a garota já havia expulsado pessoas pouco arrumadas de suas festas, corriam pelos corredores, e eu não estava nem um pouco a fim de descobrir se eram verdadeiras ou não.

Eu conseguia escutar a música alta do início da rua então não foi nenhum desafio encontrar a casa, agora passar pelo mar de gente era outra coisa. Por todos os cantos era possível ver pessoas, se agarrando, bebendo, jogando. Me encaminhei para a cozinha logo em seguida, retirando o celular do decote do vestido colado, avisando à Suzie que já estava na festa e recebendo uma mensagem dela logo em seguida avisando que seu jantar em família não tinha acabado ainda. Suspirei e comecei a encher um copo vermelho, que estava empilhado num canto da cozinha, com alguma bebida com cor neon que estava numa jarra de vidro na bancada. O gosto doce espalhou por minha boca, mas diferente do que pensei, a bebida desceu ardendo minha garganta toda, exatamente o que precisava.

Eu já estava na festa a mais de uma hora e três copos cheios da bebida radioativa quando Suzie avisou que não conseguiria ir, já que seus pais não tinham confiado em sua palavra de que não daria dar uma festa na casa, e a mandaram para a casa de sua tia, a mais chata e careta de todas, mas a chave reserva estava atrás do vaso de planta do jardim, para que eu pelo menos passasse a noite lá, nós duas sabíamos que eu não conseguiria chegar em casa em silêncio no estado que eu geralmente me encontrava no final das festas.

Depois da notícia de que ficaria sozinha na festa, minha vontade de continuar no local eram quase nulas, por isso bebi mais alguns copos e me encaminhei para a saída. Eu estava longe de um estado completamente bêbado, no máximo bem mais alta que o normal, o que não me impedia de pegar o metrô em direção a casa de Suzie.

Depois de pouco mais de um quarteirão, eu já conseguia sentir meus pés reclamando por todo o tempo em pé, claro sinal de que o álcool já estava saindo de meu organismo. Eu estava passando por uma parte especialmente escura da rua quando um par de mãos grandes me puxaram de forma grosseira para o beco mal iluminado, eu mordi a mão que tapava minha boca, conseguindo alguma distância do homem que estava na minha frente.

— Olha só, a gatinha sabe morder! — ele disse rindo e tapando minha saída do beco com seu corpo.

— Olha só moço, eu estou muito cansada, se você puder sair da minha frente eu posso fingir que você não me arrastou para um beco e não te denuncio para a polícia. Que tal? — eu falei mentindo, tentando sair novamente, sendo impedida por quase dois metros de músculos.

— A gatinha está realmente achando que vai sair assim? Estamos procurando você por muito tempo para você ir assim. — ele disse sorrindo.

— Para começar, eu não te dei nenhuma autorização para me chamar assim. Segundo que, ou você me deixa sair daqui agora, ou vai se arrepender de verdade—eu digo levantando as sobrancelhas, em claro sinal de desafio. Ele ri com escárnio e me olha com divertimento.

— E o que uma gatinha bravinha como você vai fazer? Ninguém vai te ouvir gritando a essa hora.

— Eu não preciso de ajuda para derrubar um idiota como você. — digo dando de ombros, posso ver a raiva em seus olhos com minhas palavras.

— Se eu não tivesse que te entregar podendo falar, eu iria adorar arrancar essa sua língua afiada da sua boca, sua insolente.

— Então vem— eu disse em posição de ataque—tenta!

Desde que me conheço por gente, meus pais fazem aulas de artes marciais, e é óbvio que assim que eles puderam, me colocaram em várias também, eu tinha no mínimo 13 anos de conhecimento de muitas lutas, e não teria dificuldade nenhuma em acabar com aquele otário, quando ele se colocou em posição de ataque, eu consegui encontrar mais de dez pontos de fraqueza, ele poderia ter mais do dobro de força que eu, mas eu sabia que aquilo não significava nada se ele estava tão exposto daquela forma.

***********

Não esqueçam de comentar e votar!

In My DreamsOnde histórias criam vida. Descubra agora